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Secom cria "contrapeso" para Duda
RENATA LO PRETE
DA REPORTAGEM LOCAL
No mercado publicitário, há
avaliações bastante divergentes
sobre o resultado da licitação da
Secom (Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica). A depender dos interesses
do entrevistado, a proposta apresentada pela Matisse, "zebra" entre as três agências vitoriosas, ganha apreciações que vão de "excelente" a "fraca".
Também variam as previsões a
respeito de como serão divididos
os R$ 150 milhões da conta. Há
quem aposte que a agência de Duda Mendonça ficará com a parte
do leão, aproximando-se dos 70%
que permitiriam às outras duas
(Matisse e Lew, Lara) abocanharem, cada uma, o percentual mínimo estabelecido (15%).
Existe, no entanto, quem aposte
em uma divisão mais equilibrada
da verba, fruto de pressões das
três vencedoras. Os adeptos dessa
tese argumentam que o modelo
de licitação "genérica" (sem comprometimento temático), adotado pelo governo, é positivo porque deixa as agências menos acomodadas, mas funciona melhor
quando há relativa harmonia entre elas. Do contrário, nenhuma
aceitaria faturar menos.
E harmonia não há -ao menos
não houve no passado- entre
Duda e Paulo de Tarso Santos, o
publicitário que venceu a licitação
associado à Matisse. O único ponto em que as avaliações do mercado convergem diz respeito ao estado de espírito de Duda, profundamente contrariado com o resultado da concorrência.
Nas semanas que antecederam
o anúncio, feito há dez dias, dava-se como certa não só a vitória de
Duda mas também a escolha, para as duas vagas remanescentes,
de agências de algum modo afinadas com ele -caso da Olgivy, comandada por Sergio Amado (antigo sócio de Duda na Bahia), e da
SNBB, recém-criada por Nelson
Biondi (ex-companheiro nas
campanhas para Paulo Maluf).
Era comum ouvir, no meio publicitário, comentários como
"ninguém ganhará nada neste governo se não se entender com Duda". O resultado reverteu completamente a expectativa.
Independentemente das notas
obtidas pela Matisse, o mercado
leu a escolha da agência como
uma decisão política da Secom,
que, ao resgatar o marqueteiro de
Lula nas campanhas de 1989 e
1994, pretendeu estabelecer um
contrapeso à influência de Duda
sobre a comunicação do governo
e seus disputados recursos.
Por esse raciocínio, a Matisse
importaria menos que a decisão
de levar Paulo de Tarso de volta
ao núcleo da comunicação petista
-onde já está também o marqueteiro da campanha de 1998,
Toni Cotrim, assessor direto do titular da Secom, Luiz Gushiken.
Esse movimento de recomposição da equipe anterior à da campanha vitoriosa do ano passado
representaria uma espécie de "seguro" em relação a Duda.
Por ora, ninguém fala publicamente sobre o assunto. Os derrotados porque pretendem participar de novas licitações, a começar
pela dos Correios (leia texto acima). Duda porque nada ganharia
passando recibo do revés sofrido.
E Paulo de Tarso porque, recém-chegado, não tem interesse em
abrir conflito com o homem que,
afinal de contas, fez a única campanha majoritária que o presidente venceu.
Em jogo, além de dinheiro, estão estilos não necessariamente
excludentes, mas, sem dúvida,
distintos. É conhecida a preferência de Duda por peças publicitárias de forte apelo emocional.
Paulo de Tarso, por sua vez, costuma mostrar-se avesso à despolitização da comunicação política.
É esperar para ver como vai funcionar essa mistura.
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