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São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2003

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Secom cria "contrapeso" para Duda

RENATA LO PRETE
DA REPORTAGEM LOCAL

No mercado publicitário, há avaliações bastante divergentes sobre o resultado da licitação da Secom (Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica). A depender dos interesses do entrevistado, a proposta apresentada pela Matisse, "zebra" entre as três agências vitoriosas, ganha apreciações que vão de "excelente" a "fraca".
Também variam as previsões a respeito de como serão divididos os R$ 150 milhões da conta. Há quem aposte que a agência de Duda Mendonça ficará com a parte do leão, aproximando-se dos 70% que permitiriam às outras duas (Matisse e Lew, Lara) abocanharem, cada uma, o percentual mínimo estabelecido (15%).
Existe, no entanto, quem aposte em uma divisão mais equilibrada da verba, fruto de pressões das três vencedoras. Os adeptos dessa tese argumentam que o modelo de licitação "genérica" (sem comprometimento temático), adotado pelo governo, é positivo porque deixa as agências menos acomodadas, mas funciona melhor quando há relativa harmonia entre elas. Do contrário, nenhuma aceitaria faturar menos.
E harmonia não há -ao menos não houve no passado- entre Duda e Paulo de Tarso Santos, o publicitário que venceu a licitação associado à Matisse. O único ponto em que as avaliações do mercado convergem diz respeito ao estado de espírito de Duda, profundamente contrariado com o resultado da concorrência.
Nas semanas que antecederam o anúncio, feito há dez dias, dava-se como certa não só a vitória de Duda mas também a escolha, para as duas vagas remanescentes, de agências de algum modo afinadas com ele -caso da Olgivy, comandada por Sergio Amado (antigo sócio de Duda na Bahia), e da SNBB, recém-criada por Nelson Biondi (ex-companheiro nas campanhas para Paulo Maluf).
Era comum ouvir, no meio publicitário, comentários como "ninguém ganhará nada neste governo se não se entender com Duda". O resultado reverteu completamente a expectativa.
Independentemente das notas obtidas pela Matisse, o mercado leu a escolha da agência como uma decisão política da Secom, que, ao resgatar o marqueteiro de Lula nas campanhas de 1989 e 1994, pretendeu estabelecer um contrapeso à influência de Duda sobre a comunicação do governo e seus disputados recursos.
Por esse raciocínio, a Matisse importaria menos que a decisão de levar Paulo de Tarso de volta ao núcleo da comunicação petista -onde já está também o marqueteiro da campanha de 1998, Toni Cotrim, assessor direto do titular da Secom, Luiz Gushiken.
Esse movimento de recomposição da equipe anterior à da campanha vitoriosa do ano passado representaria uma espécie de "seguro" em relação a Duda.
Por ora, ninguém fala publicamente sobre o assunto. Os derrotados porque pretendem participar de novas licitações, a começar pela dos Correios (leia texto acima). Duda porque nada ganharia passando recibo do revés sofrido. E Paulo de Tarso porque, recém-chegado, não tem interesse em abrir conflito com o homem que, afinal de contas, fez a única campanha majoritária que o presidente venceu.
Em jogo, além de dinheiro, estão estilos não necessariamente excludentes, mas, sem dúvida, distintos. É conhecida a preferência de Duda por peças publicitárias de forte apelo emocional. Paulo de Tarso, por sua vez, costuma mostrar-se avesso à despolitização da comunicação política. É esperar para ver como vai funcionar essa mistura.



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