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ÍNTEGRA
"Crise me entristece, mas não abate meu ânimo"
DA REDAÇÃO
Leia a íntegra da carta enviada
por Lula à CNBB:
Meu prezado dom Geraldo Majella,
Tomo a liberdade de lhe escrever
esta mensagem por ocasião da
abertura de mais esta Assembléia
Geral da CNBB. Dirigindo-me à
sua pessoa quero dirigir-me a todos os senhores bispos, arcebispos
e cardeais que compõem a Igreja
Católica no Brasil.
Em primeiro lugar quero desejar
pleno êxito a esta Assembléia em
Itaici. Como em tantas outras
oportunidades da história recente
do nosso país, as decisões e orientações da CNBB têm sido referências fundamentais para a formação espiritual, política e ética do
povo brasileiro.
Esta Assembléia ocorre num
momento muito particular de
nosso país, em que uma crise política nos atinge fortemente. Quero,
com toda a franqueza, afirmar-lhe
que tenho plena noção da gravidade do processo que estamos vivendo e de como ele precisa ser superado para que o país retome sua vida normal de desenvolvimento e
inclusão social. Reafirmo que minha determinação tem sido no
sentido de que todos os erros e
desvios devam ser apurados e punidos, doa a quem doer. Naquilo
que é papel e função do Poder Executivo, todo o rigor de combate a
qualquer tipo de corrupção deverá
ter continuidade. Como os dados
podem demonstrar, nunca na história deste país a Polícia Federal teve atuação tão incisiva, assim como a Controladoria Geral da
União. Na mesma perspectiva, espero que os processos nas demais
esferas de poder tenham um desfecho breve, maduro e conseqüente. Tenho, sinceramente, a esperança de que este seja um processo
purificador para a vida política do
país e para a afirmação dos princípios democráticos e dos valores
republicanos. Tenho consciência
de que não podemos frustrar as
expectativas de nossa gente, particularmente dos mais pobres.
Ao mesmo tempo, dom Geraldo, tenho envidado todos os esforços para que a crise política não
paralise nosso governo e nosso
país. O que tem sido interpretado,
muitas vezes maldosamente, como antecipação de campanha eleitoral é justamente um empenho
do governo para sinalizar à sociedade brasileira que o país continua
crescendo e que deve continuar a
se desenvolver de forma sustentável. Nessa perspectiva, continuarei
a andar pelo país, animando nossa
gente e celebrando como vitória
do povo as muitas ações de governo, que tendo sido planejadas e
cultivadas, agora começam a render os frutos almejados. Quero lhe
assegurar, nesse sentido, que se a
atual crise me entristece, ela de
maneira alguma abate meu ânimo
e a minha disposição de trabalhar
e governar. Quem já passou por
tantas dificuldades como eu não
tem o direito de se abater. E Deus
não tem me faltado.
Confesso, dom Geraldo, que
dentre tudo o que conseguimos
realizar neste período, dois aspectos me trazem especial alegria e satisfação: de um lado, o crescimento do número de empregos formais, que atingiu a casa dos
3.135.012, no mês de junho passado. Esses postos de trabalho, embora insuficientes para nossas necessidades, representam um número 13 vezes superior à média
mensal do governo passado; por
outro lado, a implementação sustentada das políticas sociais, no
qual o Bolsa-Família assume a posição de carro-chefe e já beneficia
7.500.000 famílias sendo um instrumento poderoso de inclusão
social. Só menciono esses dois
avanços como sinal da reafirmação de nosso compromisso com a
superação dos graves desequilíbrios sociais acumulados ao longo
de décadas, com a afirmação da
dignidade humana em todos os
momentos e circunstâncias e com
a rigorosa proteção do direito dos
indefesos.
Nesse sentido quero, pela minha
identificação com os valores éticos
do Evangelho, e pela fé que recebi
de minha mãe, reafirmar minha
posição em defesa da vida em todos os seus aspectos e em todo o
seu alcance. Os debates que a sociedade brasileira realiza, em sua
pluralidade cultural e religiosa, são
acompanhados e estimulados pelo
nosso governo, que, no entanto,
não tomará nenhuma iniciativa
que contradiga os princípios cristãos, como expressamente mencionei quando tive a honra de receber a direção da CNBB no Palácio do Planalto.
Quero encerrar colocando-me à
disposição da presidência da
CNBB e de todos os membros do
episcopado, para que possamos
dar continuidade ao diálogo que
até hoje tem marcado nossa convivência. Tenho convicção de que o
exercício da consciência crítica da
igreja, que tem como referência a
fé e o Evangelho, constitui-se numa contribuição fundamental para a construção de um governo
justo e democrático.
Receba minha fraterna saudação,
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República Federativa do Brasil.
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