São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 2005

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"Crise me entristece, mas não abate meu ânimo"

DA REDAÇÃO

Leia a íntegra da carta enviada por Lula à CNBB:
 
Meu prezado dom Geraldo Majella,
Tomo a liberdade de lhe escrever esta mensagem por ocasião da abertura de mais esta Assembléia Geral da CNBB. Dirigindo-me à sua pessoa quero dirigir-me a todos os senhores bispos, arcebispos e cardeais que compõem a Igreja Católica no Brasil.
Em primeiro lugar quero desejar pleno êxito a esta Assembléia em Itaici. Como em tantas outras oportunidades da história recente do nosso país, as decisões e orientações da CNBB têm sido referências fundamentais para a formação espiritual, política e ética do povo brasileiro.
Esta Assembléia ocorre num momento muito particular de nosso país, em que uma crise política nos atinge fortemente. Quero, com toda a franqueza, afirmar-lhe que tenho plena noção da gravidade do processo que estamos vivendo e de como ele precisa ser superado para que o país retome sua vida normal de desenvolvimento e inclusão social. Reafirmo que minha determinação tem sido no sentido de que todos os erros e desvios devam ser apurados e punidos, doa a quem doer. Naquilo que é papel e função do Poder Executivo, todo o rigor de combate a qualquer tipo de corrupção deverá ter continuidade. Como os dados podem demonstrar, nunca na história deste país a Polícia Federal teve atuação tão incisiva, assim como a Controladoria Geral da União. Na mesma perspectiva, espero que os processos nas demais esferas de poder tenham um desfecho breve, maduro e conseqüente. Tenho, sinceramente, a esperança de que este seja um processo purificador para a vida política do país e para a afirmação dos princípios democráticos e dos valores republicanos. Tenho consciência de que não podemos frustrar as expectativas de nossa gente, particularmente dos mais pobres.
Ao mesmo tempo, dom Geraldo, tenho envidado todos os esforços para que a crise política não paralise nosso governo e nosso país. O que tem sido interpretado, muitas vezes maldosamente, como antecipação de campanha eleitoral é justamente um empenho do governo para sinalizar à sociedade brasileira que o país continua crescendo e que deve continuar a se desenvolver de forma sustentável. Nessa perspectiva, continuarei a andar pelo país, animando nossa gente e celebrando como vitória do povo as muitas ações de governo, que tendo sido planejadas e cultivadas, agora começam a render os frutos almejados. Quero lhe assegurar, nesse sentido, que se a atual crise me entristece, ela de maneira alguma abate meu ânimo e a minha disposição de trabalhar e governar. Quem já passou por tantas dificuldades como eu não tem o direito de se abater. E Deus não tem me faltado.
Confesso, dom Geraldo, que dentre tudo o que conseguimos realizar neste período, dois aspectos me trazem especial alegria e satisfação: de um lado, o crescimento do número de empregos formais, que atingiu a casa dos 3.135.012, no mês de junho passado. Esses postos de trabalho, embora insuficientes para nossas necessidades, representam um número 13 vezes superior à média mensal do governo passado; por outro lado, a implementação sustentada das políticas sociais, no qual o Bolsa-Família assume a posição de carro-chefe e já beneficia 7.500.000 famílias sendo um instrumento poderoso de inclusão social. Só menciono esses dois avanços como sinal da reafirmação de nosso compromisso com a superação dos graves desequilíbrios sociais acumulados ao longo de décadas, com a afirmação da dignidade humana em todos os momentos e circunstâncias e com a rigorosa proteção do direito dos indefesos.
Nesse sentido quero, pela minha identificação com os valores éticos do Evangelho, e pela fé que recebi de minha mãe, reafirmar minha posição em defesa da vida em todos os seus aspectos e em todo o seu alcance. Os debates que a sociedade brasileira realiza, em sua pluralidade cultural e religiosa, são acompanhados e estimulados pelo nosso governo, que, no entanto, não tomará nenhuma iniciativa que contradiga os princípios cristãos, como expressamente mencionei quando tive a honra de receber a direção da CNBB no Palácio do Planalto.
Quero encerrar colocando-me à disposição da presidência da CNBB e de todos os membros do episcopado, para que possamos dar continuidade ao diálogo que até hoje tem marcado nossa convivência. Tenho convicção de que o exercício da consciência crítica da igreja, que tem como referência a fé e o Evangelho, constitui-se numa contribuição fundamental para a construção de um governo justo e democrático.
Receba minha fraterna saudação,
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República Federativa do Brasil.


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