São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CASO WALDOMIRO

Buratti diz que GTech queria influenciar ministro; multi acusa advogado de extorsão

Ex-assessor de Palocci liga empresa a oferta de lobby

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

O advogado Rogério Tadeu Buratti, 42, disse ontem à CPI dos Bingos no Senado que foi procurado em abril de 2003 pela multinacional GTech para "interferir diretamente com o ministro [Antonio] Palocci [Fazenda] na renovação de um contrato" com a Caixa Econômica Federal. Em troca, receberia até R$ 16 milhões.
Buratti, ex-secretário de Governo de Palocci em 1993 e 1994 na Prefeitura de Ribeirão Preto (SP), negou que tenha aceito a proposta de ser lobista e isentou o ministro. O contrato no valor de R$ 650 milhões foi renovado em 8 de abril de 2003. A GTech opera loterias e um de seus diretores à época acusa justamente o oposto: que Buratti tentou extorquir a empresa.
"O senhor é amigo do Palocci. Eu tenho prova de que é", afirmou o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). Buratti não desmentiu, mas garantiu não ter feito tráfico de influência.
Após sair do depoimento, Buratti disse suspeitar que a GTech tenha contratado a MM Consultoria para ajudar na renovação do contrato. Segundo informações da CPI, a empresa, da qual é sócio o advogado Marcelo Coelho Aguiar, funcionário até o mês passado da Secretaria de Comunicação da Presidência, recebeu R$ 5 milhões da GTech de outubro de 2002 a junho 2003. O dinheiro teria sido pago por serviços de advocacia.
"Estão me usando como um bodão expiatório. Talvez para disfarçar a quem ele estavam efetivamente pagando", disse Buratti.
A versão do ex-secretário de Palocci não convenceu senadores, os quais questionaram por que motivo o ex-diretor de Marketing e atual gerente no Chile da Gtech, Marcelo Rovai, procurou Buratti no dia 11 de abril de 2003, após a renovação do contrato.
Segundo Buratti, Rovai queria alterar o contrato já renovado, reduzindo o desconto de 15% concedido à CEF.
Inicialmente, diretores da GTech e Buratti se reuniram no dia 1º de abril de 2003 no hotel Blue Tree, em Brasília. Segundo Rovai, em depoimento à CPI na semana passada, naquele dia seria renovado o contrato com a CEF, mas Buratti pediu R$ 20 milhões e depois R$ 6 milhões para "permitir" a renovação. Após o pedido, foi adiada pela CEF a assinatura do contrato. Buratti nega.
Rovai e o ex-presidente da GTech Antônio Carlos Rocha afirmaram que a empresa sofreu tentativa de extorsão de Buratti e de Waldomiro Diniz, então assessor do ex-ministro José Dirceu.
O presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-PB), questionou Buratti sobre os telefonemas feitos, nos dias em que antecederam a renovação do contrato, para Ralf Barquete, ex-secretário do então prefeito Palocci em 2001 e em 2003 consultor da Presidência da CEF. Morais disse que Buratti ligou dez vezes para Barquete no dia 8 de abril de 2003, quando o contrato foi renovado.
Buratti afirmou que não conversara com Barquete sobre a renovação do contrato. "Ele não está relatando a verdade", reagiu o senador Flávio Arns (PT-PR). Barquete morreu em 2004.
A CPI ouviu ainda o funcionário da CEF José Luiz Quintans que trabalhou com Waldomiro Diniz na Loterj (Loteria do Estado do Rio) em 2001 e 2002 -quando o ex-assessor da Casa Civil foi filmado pedindo propina.
O advogado Enrico Gianelli, que teria apresentado Buratti a diretores da GTech, conseguiu liminar no STF (Supremo Tribunal Federal) e não depôs.


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