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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CASO WALDOMIRO
Buratti diz que GTech queria influenciar ministro; multi acusa advogado de extorsão
Ex-assessor de Palocci liga empresa a oferta de lobby
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
O advogado Rogério Tadeu Buratti, 42, disse ontem à CPI dos
Bingos no Senado que foi procurado em abril de 2003 pela multinacional GTech para "interferir
diretamente com o ministro [Antonio] Palocci [Fazenda] na renovação de um contrato" com a Caixa Econômica Federal. Em troca,
receberia até R$ 16 milhões.
Buratti, ex-secretário de Governo de Palocci em 1993 e 1994 na
Prefeitura de Ribeirão Preto (SP),
negou que tenha aceito a proposta
de ser lobista e isentou o ministro.
O contrato no valor de R$ 650 milhões foi renovado em 8 de abril
de 2003. A GTech opera loterias e
um de seus diretores à época acusa justamente o oposto: que Buratti tentou extorquir a empresa.
"O senhor é amigo do Palocci.
Eu tenho prova de que é", afirmou o senador Antonio Carlos
Magalhães (PFL-BA). Buratti não
desmentiu, mas garantiu não ter
feito tráfico de influência.
Após sair do depoimento, Buratti disse suspeitar que a GTech
tenha contratado a MM Consultoria para ajudar na renovação do
contrato. Segundo informações
da CPI, a empresa, da qual é sócio
o advogado Marcelo Coelho
Aguiar, funcionário até o mês
passado da Secretaria de Comunicação da Presidência, recebeu R$
5 milhões da GTech de outubro
de 2002 a junho 2003. O dinheiro
teria sido pago por serviços de advocacia.
"Estão me usando como um bodão expiatório. Talvez para disfarçar a quem ele estavam efetivamente pagando", disse Buratti.
A versão do ex-secretário de Palocci não convenceu senadores,
os quais questionaram por que
motivo o ex-diretor de Marketing
e atual gerente no Chile da Gtech,
Marcelo Rovai, procurou Buratti
no dia 11 de abril de 2003, após a
renovação do contrato.
Segundo Buratti, Rovai queria
alterar o contrato já renovado, reduzindo o desconto de 15% concedido à CEF.
Inicialmente, diretores da
GTech e Buratti se reuniram no
dia 1º de abril de 2003 no hotel
Blue Tree, em Brasília. Segundo
Rovai, em depoimento à CPI na
semana passada, naquele dia seria
renovado o contrato com a CEF,
mas Buratti pediu R$ 20 milhões e
depois R$ 6 milhões para "permitir" a renovação. Após o pedido,
foi adiada pela CEF a assinatura
do contrato. Buratti nega.
Rovai e o ex-presidente da
GTech Antônio Carlos Rocha
afirmaram que a empresa sofreu
tentativa de extorsão de Buratti e
de Waldomiro Diniz, então assessor do ex-ministro José Dirceu.
O presidente da CPI dos Bingos,
senador Efraim Morais (PFL-PB),
questionou Buratti sobre os telefonemas feitos, nos dias em que
antecederam a renovação do contrato, para Ralf Barquete, ex-secretário do então prefeito Palocci
em 2001 e em 2003 consultor da
Presidência da CEF. Morais disse
que Buratti ligou dez vezes para
Barquete no dia 8 de abril de 2003,
quando o contrato foi renovado.
Buratti afirmou que não conversara com Barquete sobre a renovação do contrato. "Ele não está relatando a verdade", reagiu o
senador Flávio Arns (PT-PR).
Barquete morreu em 2004.
A CPI ouviu ainda o funcionário da CEF José Luiz Quintans que
trabalhou com Waldomiro Diniz
na Loterj (Loteria do Estado do
Rio) em 2001 e 2002 -quando o
ex-assessor da Casa Civil foi filmado pedindo propina.
O advogado Enrico Gianelli,
que teria apresentado Buratti a diretores da GTech, conseguiu liminar no STF (Supremo Tribunal
Federal) e não depôs.
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