ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A LISBOA

As grandes empresas portuguesas evitaram encontrar-se com o então ministro José Dirceu (Casa Civil), em junho último, em Lisboa. A pedido dele, foi organizado um jantar no Hotel Pestana. Apenas 14 empresas compareceram ao evento promovido pela Câmara de Comércio Luso-Brasileira.
Dirceu desejava um encontro com a elite empresarial, mas as notícias sobre a crise no Brasil esvaziaram o evento. O jantar ocorreu no dia 7 de junho. Dias depois, Dirceu foi afastado do cargo pelo presidente da República, em tentativa de blindar o Planalto do tiroteio disparado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).
As três grandes companhias portuguesas que, na semana passada, tiveram seus nomes associados ao do empresário Marcos Valério -Portugal Telecom, Banco Espírito Santo e Millennium BCP- faltaram ao jantar.
O secretário-geral da câmara de comércio, Fausto Costa, disse que a Portugal Telecom chegou a confirmar a presença de um executivo, mas ele não compareceu. Fausto Costa diz que teve apenas uma semana para organizar o jantar, o que teria contribuído para a baixa freqüência, embora, segundo afirma, já existisse, à época, o "zum-zum-zum" sobre o envolvimento de José Dirceu com Marcos Valério e com o esquema do "mensalão". "Isto também deve ter contribuído", acrescentou.
A ausência da gigante da telefonia portuguesa ao encontro solicitado por José Dirceu foi destacada pelo próprio presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta e Costa, em entrevista, anteontem, ao "Jornal de Negócios", de Lisboa. Ele deu a informação, supostamente, para destacar que não tinha proximidade com o ex-ministro da Casa Civil.
"Ele veio cá a Portugal recentemente e eu não estive com ele. Houve até um jantar com empresários portugueses, outras pessoas que o contataram, quando ele veio. Eu por exemplo não", explicou-se Horta e Costa.

Valério
Há evidências de que Marcos Valério esteve na sede do Banco Espírito Santo, onde foi recebido pelo presidente Ricardo Salgado, na sede na Portugal Telecom, onde também foi recebido pelo presidente, Miguel Horta e Costa, e no gabinete do ex-ministro de Obras, António Mexia, que recebeu o publicitário a pedido de Horta e Costa.
Além desses encontros, em outubro do ano passado, sabe-se que o publicitário esteve em Lisboa em janeiro último com Emerson Palmieri (PTB), supostamente para levantar fundos para saldar dívidas do partido. Segundo Palmieri, Valério teria sido recebido por Horta e Costa, que nega a existência do encontro.


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