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CPI deve pedir cassação de mais de 70 parlamentares
Relator defendia denúncia contra no máximo 50 congressistas, mas ficou isolado
É a primeira vez na história
do Congresso que um caso
de corrupção resultará em
um número tão elevado
de processos de cassação
RANIER BRAGON
LETÍCIA SANDER
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Diante da pressão da maioria
da cúpula da CPI dos Sanguessugas, o senador Amir Lando
(PMDB-RO) vai apresentar hoje o seu relatório pedindo a
abertura de processo de cassação contra mais de 70 dos 90
congressistas investigados por
suposta participação na máfia
das ambulâncias.
Essa será a primeira vez na
história do Congresso que um
caso de corrupção resultará em
um número tão elevado de processos para perda de mandato.
A reunião em que ficou definido o formato do relatório começou à tarde e só terminou
por volta das 19h30. Nela, o relator foi voz solitária ao defender a tese de que só haveria provas para pedir a cassação de não
mais do que 50 investigados.
Em relação aos outros 40, ele
sugeria a divisão em dois grupos. Contra 25, haveria um
aprofundamento das investigações antes de um eventual encaminhamento ao Conselho de
Ética. Os outros 15 nomes seriam inocentados por falta de
provas. Com a decisão da reunião, entretanto, venceu a tese
de que será pedida a cassação
contra a maioria. Os inocentados ficarão entre 14 e 19.
A ala da CPI que defendia um
relatório mais duro era composta pelo presidente da comissão, deputado Antonio Carlos
Biscaia (PT-RJ), e pelos deputados Carlos Sampaio (PSDB-SP), Raul Jungmann (PPS-PE)
e Fernando Gabeira (PV-RJ).
"Ele pode manter amanhã
[hoje] uma divisão em grupos
de a, b e c, mas provas são provas, não há hierarquia", disse
Sampaio. Antes da reunião, o
presidente da CPI defendia a
abertura de cassação contra 76
dos 90 investigados. "As investigações já estão concluídas
quanto aos 76. Há apenas uma
avaliação diferenciada, em relação a estes nomes, sobre a
prova colhida contra cada um
deles", defendeu Biscaia.
Ao longo do dia, a avaliação
geral foi a de que seria impossível livrar esse ou aquele parlamentar especificamente.
Na saída, os presentes adotaram discurso em que não houve
tese vencida, mas sim "acordo
sobre critérios", forma de não
enfraquecer Lando. "Ninguém
cedeu, houve acordo", disse Gabeira. Lando não falou.
Um dos ingredientes que pode ser usado no relatório para
diminuir a impressão de que o
senador cedeu é uma subdivisão em relação ao grupo contra
o qual será pedida a cassação.
Lando estudava ontem a possibilidade de dizer, no relatório,
que há provas "robustas" apenas contra 50 dos cerca de 70.
Em relação aos outros, haveria
provas, mas com necessidade
de aprofundamento no conselho. Um dos motivos que o fez
reavaliar sua posição foi a dificuldade de definir o que seria
"prova robusta" e "inconclusa".
Relatório
A comissão se reúne hoje pela manhã para leitura do relatório, mas sua votação só deve
ocorrer na semana que vem.
Lando descreverá o que foi levantado pela CPI contra cada
um dos 90 acusados. Também
mencionará que o esquema de
fraudes pode atingir o Executivo, embora isso tenha ficado
para a segunda fase dos trabalhos. Outros parlamentares
acusados nos últimos dias de
participação deverão ser investigados após o relatório de hoje.
A CPI foi criada em junho.
Segundo o que foi apurado até
agora, a Planam, empresa da família Vedoin, teria se beneficiado de verbas federais ao vender
ambulâncias superfaturadas a
prefeituras. O esquema teria
movimentado cerca de R$ 110
milhões desde 2001. Deputados e senadores direcionavam
verbas federais para o esquema
mediante propina.
NA INTERNET - Leia a lista dos deputados que devem ter cassação pedida
pela CPI
www.folha.com.br/062121
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