São Paulo, sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cubanos queriam desertar desde 2004, diz alemão

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

O grupo alemão que diz ter organizado a deserção de boxeadores cubanos no Pan do Rio afirma que a intenção deles de abandonar Cuba começou em 2004 e, para mostrar que a dupla havia premeditado a deserção, lança mão de um contrato assinado pelos pugilistas.
"[Guillermo] Rigondeaux já tinha pré-contratos com os intermediários assinados desde 2004 e [Erislandy] Lara, desde 2006. E agora, quando estive no Rio, assinaram com a Arena Box Promotion", afirmou à Folha o alemão Rafael Viena, do escritório de advocacia WZR, que é contratado pela empresa promotora Arena Box Promotion. A reportagem também obteve uma cópia do contrato.
Segundo Viena, Rigondeaux foi abordado por intermediários, e assinou pré-contrato durante os Jogos Olímpicos de Atenas. Lara, que compete na categoria até 69 kg, fez o mesmo dois anos depois, durante viagem da delegação à Europa.
"Os intermediários não estão gostando nada dessa versão [que dá conta de que os boxeadores foram drogados e forçados a fazer o que não queriam]. Eles estão preocupados com sua reputação", disse Viena.
Os contratos entre o turco baseado na Alemanha Ahmet Öner, da Arena Box Promotion, e Rigondeaux e Lara se estendiam de 26 de julho passado, quando foram assinados, a 26 de julho de 2010. Previa ainda possibilidade de extensão do contrato por mais dois anos.
O documento determinava que Öner teria participação de 35% no total dos ganhos da dupla que resultassem de suas atividades desportivas, acertos de patrocínio, promoção e publicidade, e demais atividades comerciais. O percentual está na média adotada pelo mercado.
O advogado diz que a dupla recebeu soma considerável antes de assinar. "Os intermediários deram a cada um 10 mil (cerca de R$ 26 mil). Quando cheguei no Brasil para ir ao consulado da Alemanha, dei mais 5 mil (cerca de R$ 13 mil) a cada um. Estavam desconfiados e disse a eles para falar por telefone com [o desertor] Odlanier Solis, que disse para ir em frente."
A reportagem contatou ontem à tarde o consulado geral da Alemanha no Rio. Foi informada de que a assessora não estava e não retornaria.
Além de Solis, a Arena Box tem sob contrato outros cubanos que desertaram em dezembro, na Venezuela: Yan Barthelemy e Yuriolki Gamboa.
Viena questionou também o procedimento da Polícia Federal. Segundo ele, os brasileiros que estavam com os cubanos na PF informaram que autoridades perguntaram a Rigondeaux e Lara se gostariam de ligar para suas famílias em Cuba.
"Me informaram que na hora em que falaram com seus familiares ficaram pálidos. A namorada de Rigondeaux lamentou que o governo já havia tomado o carro e o apartamento onde ela morava. Nunca ouvi falar que a polícia oferece ligações para falar com as famílias", disse Viena. "[Eles] foram inocentes. Ouviram os lamentos e mudaram de idéia. Se soubessem que seriam proibidos de lutar, duvido que voltariam."


Texto Anterior: Biscaia diz que PF cometeu equívoco no caso dos cubanos
Próximo Texto: PF queria que ficássemos, dizem boxeadores
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.