São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES 2008 / LEGISLATIVO

"Centrão" reúne 10 dos 15 mais ricos da Câmara paulistana

Grupo multipartidário com 20 vereadores tem cargos na prefeitura e atua de forma decisiva na votação de projetos

Maioria de projetos na Casa precisa de ao menos 28 votos para ser aprovada, fazendo com que votos do "centrão" se tornem indispensáveis

FERNANDO BARROS DE MELLO
JOSE ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

Um partido sem sigla, mas com cargos na administração paulistana, poder de decisão no principal Legislativo municipal do país e até código de ética próprio. Esse é o resultado da união de 20 parlamentares que se auto-intitulam "centrão" e que são o fiel da balança na Câmara de São Paulo.
O grupo reúne vereadores de PR, PV, PTB, DEM, PP, PSB e PMDB. Entre esses parlamentares, estão alguns dos nomes com os maiores patrimônios da Casa. Segundo dados entregues ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral), dos 15 "mais ricos", 10 são do "centrão".
A maior parte dos projetos precisa de ao menos 28 votos para ser aprovada na Câmara, fazendo com que os votos do "centrão" se tornem indispensáveis. Daí vem o poder deles.
"Ninguém consegue aprovar sem nosso apoio. E tudo caminha para que seja assim na próxima legislatura. Com isso, o Legislativo é independente das principais forças, PT e PSDB", afirma Milton Leite (DEM). "Uma andorinha só não faz verão. Eles jogavam com nosso rompimento e briga. Passaram três anos e o "centrão" continua reunido e sendo voto decisivo", diz o presidente da Casa, Antônio Carlos Rodrigues (PR).
Eles lembram que o sucesso vem da "coesão", que inclui um código de ética informal, que veta "traições" ou vazamento de informações dos acordos.
Alguns vereadores aproveitam para pressionar o Executivo por aprovação de projetos ou "posição" na prefeitura.
Antes da eleição, os principais líderes do grupo foram assediados pelos três mais fortes candidatos -Gilberto Kassab (DEM), Marta Suplicy (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB). Rodrigues comandou as negociações com Kassab e Marta.

Eleição
O "centrão" nasceu em 6 de outubro de 2004, em um jantar realizado dois dias após o primeiro turno da eleição. Seus membros, no entanto, já se conhecem há muitos anos.
O primeiro desafio do grupo foi a eleição para a presidência da Câmara de janeiro de 2005. Após tentarem apoiar outros nomes, elegeram Roberto Tripoli, então do PSDB, derrotando o candidato do então prefeito, José Serra (PSDB), o tucano Ricardo Montoro. Foi a primeira vez, desde 1992, que um parlamentar não-alinhado ao Executivo chegou ao comando.
Vereadores do "centrão" dizem que foram "traídos" por dois colegas, Bispo Atílio (PRB) e Jorge Borges (PP). O caso ficou imortalizado na caricatura do "Centrão Futebol Clube" (veja nesta página), quadro encomendado por Adilson Amadeu (PTB). No desenho, os "traidores" estão indo para o vestiário, enquanto Carlos Apolinário (DEM), de fora oficialmente do grupo, aguarda para entrar no time.
No dia da eleição, após saber que havia perdido os dois votos, o "centrão" tentou fazer com que um dos desistentes ficasse em casa "doente". Encontrado, ele chegou à Câmara de cadeira de rodas e teve de pegar paletó e gravata de um assessor para votar com o governo.
Tudo indicava um empate por 27 votos, o que culminaria na eleição do mais velho integrante da Casa como presidente. Após manobras, Tripoli acabou eleito com os votos do "centrão".


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Eleições 2008 / Políticas Públicas: Privatização da saúde separa Marta e Alckmin de Kassab
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.