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PARADOXO
Açude não
ajuda cidade
em Canudos (BA)
Localizada na região mais
seca da Bahia, Canudos
convive com uma situação
paradoxal há mais de 30
anos: a dois quilômetros do
centro da cidade existe um
açude com capacidade para
armazenar 246 milhões de
m3 de água.
Apesar de o açude ter sido
construído praticamente
dentro da zona urbana, os
cerca de 18 mil moradores
da cidade, a 410 km de Salvador, sofrem com uma das
maiores secas registradas
no município nos últimos
anos. O açude de Cocorobó
foi inaugurado em 1968.
"Mesmo com a estiagem,
o volume de água dá para
abastecer com tranquilidade uma cidade com mais de
30 mil habitantes", disse o
prefeito João Ribeiro Gama
(PSDB). "O que falta é interesse político para tratar a
água e levá-la até a cidade."
Segundo Ribeiro, a seca
em Canudos reduziu à metade o volume de água em
Cocorobó. Com a seca, os
moradores da zona rural
têm à disposição apenas 25
litros de água por semana.
"A prefeitura gasta aproximadamente R$ 20 mil por
mês apenas para comprar
água para os moradores da
zona rural", disse Ribeiro.
A verba empregada pela
prefeitura para abastecer os
moradores do município
daria para comprar uma
ambulância ou realizar dois
quilômetros de pavimentação por mês.
A estiagem provocou a
quebra total da safra agrícola do município. "Mais de
500 trabalhadores já abandonaram a nossa cidade,
deixando aqui as viúvas da
seca", disse o prefeito.
Canudos parece uma cidade abandonada: 60% das
ruas não são pavimentadas,
1.200 das 2.000 casas não estão ligadas à rede de esgoto
(do total, 500 não têm nem
sequer fossas), 38% da população é analfabeta, e o
município não é servido
por estrada asfaltada.
Devido às condições precárias de higiene, cerca de
350 casos de cólera já foram
registrados desde janeiro.
A seca contribuiu ainda
para aumentar o índice de
desemprego em Canudos.
Os poucos produtores rurais que trabalham na cidade recebem cerca de R$ 2
por dia. "O salário é de fome, mas não temos outra
alternativa", disse João
Soares Fonseca.
Proprietário de um sítio
de 40 hectares na zona rural, ele perdeu toda a plantação de feijão, milho, melancia e abóbora.
Na semana passada, 383
famílias da cidade receberam a primeira parcela (R$
130) da frente de trabalho,
programa do governo federal para amenizar problemas causados pela seca.
"Nós cadastramos 1.300
famílias, mas selecionamos
383", disse o prefeito.
Para ele, o fato de Canudos fazer oposição ao governo baiano dificulta a
realização de obras de saneamento básico.
"O governo baiano acha
que somos inimigos e não
adversários políticos."
(LF)
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