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Evangélicos fazem lobby sobre
o capital estrangeiro em TVs
KENNEDY ALENCAR
Editor do Painel
Os lobbies da bancada evangélica e de três grandes redes de tevê
tentam moldar o relatório da
emenda constitucional que abre o
setor de comunicação ao capital
estrangeiro.
A proposta, que tramita na Câmara, deve dar uma injeção de capital aos grupos nacionais, especialmente aos endividados. Há
ainda o interesse de empresas
brasileiras em se capitalizar para
expandir atividades.
Hoje, apenas pessoas físicas
brasileiras são legalmente donas
de meios de comunicação. Nunca
despertou interesse um dispositivo da lei que permite a empresas
jurídicas nacionais uma participação de 30%, sem direito a voto.
A bancada evangélica, que controla cerca de 60 votos na Câmara,
pressiona para que entidades sem
fins lucrativos possam ser proprietárias de emissoras de TV e
rádio. O lobby atende especialmente à Igreja Universal do Reino
de Deus, liderada pelo bispo Edir
Macedo. A Igreja Universal é dona da Rede Record.
Com a medida, igrejas evangélicas poderiam usar o dinheiro arrecadado dos fiéis para comprar
emissoras de rádio e tevê. Esse expediente já vem sendo adotado,
mas há questionamento jurídico
sobre a origem e a tributação dos
recursos.
Reportagem da Folha em 18 de
julho revelou que a TV Record do
Rio foi comprada com dinheiro
que veio de empresas sediadas em
paraísos fiscais e que pertencem à
Igreja Universal. O caso será investigado (leia texto ao lado).
O relator da emenda, deputado
Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN), resiste à proposta:
""Além da impossibilidade de
comprovação da origem dos recursos, há aqueles que argumentam que a competição é desleal.
Ocorre uma doação sobre a qual
não incide imposto para uma atividade que é explicitamente lucrativa e comercial".
A outra disputa de bastidores
foi travada entre a Rede Globo, o
SBT e a Rede Bandeirantes. A
Globo sempre foi contrária a dar
direito a voto ao sócio estrangeiro. O SBT e a Bandeirantes defendiam a idéia por entender que ela
tornaria a parceria mais atraente
para o capital externo.
A Globo apelou a exemplos de
disputas nos bastidores da telefonia para conseguir a adesão das
duas redes à sua tese. Sócios estrangeiros estariam jogando pesado para tirar a influência de
grupos brasileiros nas empresas
de telecomunicações que foram
privatizadas recentemente.
O relator Alves, cuja família é
dona de um grupo de comunicação no Rio Grande do Norte, ainda não se decidiu pela questão. ""A
princípio, julgo forte o argumento de que o direito a voto fortalece
o interesse do capital estrangeiro
em vir para o Brasil", diz.
Rádios e tevês deverão ter regras diferentes das de jornais e revistas. O relator alega que fará a
diferenciação porque as rádios e
tevês são concessões do poder público.
O limite de participação de capital externo no setor de tele e radiodifusão deve ser de 25%. Apenas empresas de sociedade comercial, nacionais e estrangeiras,
poderão ser proprietárias. Se admitir pessoas jurídicas, o relator
abre a brecha para entidades sem
fins lucrativos (leia-se: lobby
evangélico).
Na mídia impressa, o sócio estrangeiro poderá ter até 49% do
capital. A participação será aberta
a qualquer empresa jurídica, nacional ou estrangeira.
O relatório exigirá reciprocidade dos outros países. Ou seja: grupos estrangeiros terão participação no mesmo percentual que
exigem em seus países, desde que
não sejam ultrapassados os limites da legislação brasileira.
A proposta precisa ser aprovada
por 16 dos 31 votos da comissão
especial da Câmara. Como é
emenda constitucional, necessita
ser votada em dois turnos na Câmara, com quórum mínimo de
três quintos.
Depois, a emenda segue para o
Senado, onde se submete ao mesmo trâmite. O interesse dos grupos nacionais e estrangeiros deve
fazer com que a votação seja concluída ainda neste semestre.
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