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APARELHAMENTO
Sarney tenta emplacar novo superintendente em São Paulo
Negociação de cargos gera tensão na cúpula da Receita
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de se alastrar por várias
repartições, a partidarização da
máquina pública ronda a Receita
Federal. É intenso o assédio de
políticos a cargos de direção do
Fisco. O cerco mobiliza do PT ao
PMDB.
Os superintendentes regionais
da Receita entraram em alerta.
Receiam pela integridade do que
consideram um dos últimos redutos do Estado a exibir um perfil
técnico. Em nervosa troca de telefonemas, organizam uma espécie
de barricada. Alguns falam, desde
a semana passada, em pedir demissão caso a Receita venha a ser
objeto de loteamento.
Ouvido, o ministro Antonio Palocci (Fazenda) reforçou o caráter
"técnico" do Fisco. Disse que não
está em curso um processo de "renovação" da equipe de dirigentes
da Receita. Eventuais "mudanças" serão "pontuais" e baseadas
"unicamente nas necessidades da
Receita" (leia texto ao lado).
A cobiça por posições na Receita é mais vigorosa na regional de
São Paulo. É o braço mais forte do
Fisco. Em 2002, recolheu cerca de
45% dos R$ 243 bilhões amealhados em tributos federais em todo
o país. O PMDB é, por ora, o partido que exibe maior apetite.
O principal foco de pressão é
atribuído ao peemedebista José
Sarney. Eleito pelo Amapá, o presidente do Senado reivindica nos
bastidores a cadeira de superintendente da Receita em São Paulo.
No momento, é ocupada pelo auditor fiscal Maurício Almeida.
Chama-se Jefferson Salazar o
apadrinhado de Sarney. Também
é auditor fiscal. Possui ficha funcional limpa. Já ocupou a superintendência paulista do Fisco em
duas ocasiões: no governo do próprio Sarney (1985-1989) e na gestão Itamar Franco (1992-1994).
Salazar foi retirado do posto para o qual deseja agora retornar em
1995, já sob Fernando Henrique
Cardoso. Afastou-o Everardo Maciel, que chefiou a Receita durante
os oito anos de tucanato.
Ouvido pela Folha, Sarney nega
que esteja patrocinando a indicação de Salazar. "Não sei de nada
disso", mandou dizer. Curiosamente, em todos os diálogos em
que seu nome é mencionado, seja
na Casa Civil da Presidência, filtro
das nomeações políticas, seja na
Fazenda, Salazar é associado à figura de Sarney.
O próprio Salazar, em conversa
com autoridade de Brasília, mencionou o nome do padrinho. Disse que, por conta da amizade que
mantém com Sarney, sente-se
discriminado na Receita. Reivindica a correção da "injustiça".
A hipótese de aproveitá-lo está
sendo efetivamente considerada
no Ministério da Fazenda. Ainda
que não seja alçado à condição de
superintendente, deve ser convidado a ocupar cargo de relevo.
Nada lhe foi oferecido por ora.
No organograma da Receita, o
país está dividido em dez regiões.
Cada uma é dirigida por um superintendente. São técnicos sobreviventes da gestão Fernando Henrique Cardoso. Habituados à hierarquia, revelam suas aflições
apenas em diálogos reservados.
Desde segunda-feira, os superintendentes articulam um encontro com Jorge Rachid, o chefe
do Fisco. Querem ouvir dele a ratificação do compromisso de
manter a engrenagem federal de
coleta de tributos longe da sanha
dos políticos.
Apelo
Na virada do tucanato para o
petismo, toparam continuar nas
respectivas funções graças a um
apelo que ouviram do ministro
Antonio Palocci Filho (Fazenda).
Deu-se em dezembro de 2002, antes da posse do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Em reunião que contou com a
participação de Everardo Maciel,
o secretário que saía, e de Jorge
Rachid, seu substituto, Palocci
disse aos superintendentes que
resistiria a eventuais pressões políticas para nomeações na Receita.
Elogiou o perfil técnico da equipe
montada sob FHC. "Em time que
está ganhando não se mexe", afirmou Palocci.
Os gestores regionais da Receita
detectaram nas coxias das repartições que comandam movimentação que, na opinião deles, pode levar à flexibilização das palavras de
Palocci. Em São Paulo, além do
interesse pelo posto de superintendente, o PMDB ambiciona a
chefia da alfândega de Santos.
O nome que surge como indicação do partido é o do auditor Paulo de Tarso. Atribui-se o apadrinhamento ao deputado Michel
Temer, presidente do PMDB. Ele
nega: "Sei que usam o meu nome
pra burro, mas nem conheço essa
pessoa. Nessa área, aliás, não gostaria de nomear ninguém. Muita
gente tem problemas e, sabendo
que a gente tem algum tipo de influência, recorreriam a nós".
Celso Fernandes, eis o nome de
um terceiro auditor que frequenta
os diálogos dos superintendentes
da Receita como protagonista de
uma tentativa de nomeação política. Já foi ligado ao PTB. Hoje, estaria mais próximo do PPS. Ambicionaria a chefia da Inspetoria
em São Paulo. Responde pelos
portos secos, como são chamados
entrepostos autorizados a desembaraçar mercadorias fora da zona
portuária, no interior do Estado.
Sudam
Na região amazônica, detectou-se uma manobra não para nomear, mas para apear um dos superintendentes da Receita do posto. Seu nome é José Tostes. É responsável por toda a região Norte.
Tem sob si uma tarefa espinhosa:
fiscaliza a aplicação de incentivos
fiscais destinados à Zona Franca
de Manaus e à Sudam, rebatizada
sob Lula de "Nova Sudam".
Ao vasculhar a contabilidade de
projetos fraudulentos na Sudam,
a equipe de Tostes colecionou R$
600 milhões em autuações fiscais.
A tarefa rendeu a Tostes dois inimigos de relevo: os peemedebistas José Sarney e Jader Barbalho
(deputado pelo Pará).
Em depoimento ao Ministério
Público, Tostes contou que Jorge
Murad, o marido de Roseana Sarney, o procurou para defender a
execução de um projeto chamado
Usimar. Revelaria-se mais tarde
uma fraude. Pai de Roseana, José
Sarney atribui a Tostes a tentativa
de arrastar indevidamente a filha
para o centro do escândalo.
Jader refere-se a Tostes com expressões pouco lisonjeiras. Teve a
sua vida fiscal e a de suas empresas vasculhadas durante um ano e
meio. Recorre de autuações que,
juntas, somam R$ 30 milhões.
No rastro das contrariedades
inspiradas por José Tostes, o PL
tenta encaixar nos escritórios da
Receita na região Norte o auditor
José Lúcio Rosa. Move-se com desenvoltura em Manaus.
Na superintendência do Paraná,
o próprio PT estaria reivindicando cargos. O escritório responde
cumulativamente pela fiscalização e coleta de tributos no Estado
de Santa Catarina.
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