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MATO GROSSO DO SUL
Governador gastou R$ 911 mil para viajar pelo país em 2000
Zeca do PT usa verba secreta
com viagens e informantes
RUBENS VALENTE
DO PAINEL
FABIANO MAISONNAVE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
O governador de Mato Grosso
do Sul, José Orcírio Miranda dos
Santos, o Zeca do PT, usou um
fundo de natureza secreta em dez
viagens que fez no país no ano
passado, gastando em média R$
26 mil em cada uma, segundo documentos obtidos pela Folha.
Com outro fundo confidencial,
o governo construiu uma rede de
informantes pelo Estado, remunerando líderes comunitários e
presidentes de associações de
bairros, sob o argumento de combater a violência e o narcotráfico.
O valor médio de cada viagem
de Zeca corresponde a 45 passagens aéreas de Campo Grande para o Rio de Janeiro na tarifa mais
cara da Varig. Ou a 17 viagens de
ida e volta para o Rio com dois
dias de estadia num hotel quatro
estrelas, segundo cálculo de uma
das três maiores operadoras de
turismo do país. Das dez viagens,
seis foram para cidades que ficam
a 271 km da capital, em média.
Por meio de um Suprimento de
Fundos de Caráter Secreto e Reservado, Zeca do PT desembolsou
R$ 911 mil nas viagens -R$ 575
mil em transporte, hospedagem e
alimentação, R$ 295 mil em despesas com cerimonial no decorrer
dos deslocamentos e R$ 40 mil em
gastos com sua residência- no
ano passado.
Segundo o governo, o suprimento, previsto em lei, é reservado por envolver a segurança do
governador. Diferentemente dos
outros, a prestação de contas é assinada diretamente pelo secretário de Governo e os comprovantes dos gastos não são públicos.
Informantes
Documentos das outras despesas confidenciais, obtidos pela
CPI da Segurança Pública da Assembléia Legislativa do MS, mostram que a rede de informantes
não é identificada nominalmente,
mas apenas por números. A CPI
contabilizou um gasto de R$ 435
mil com informantes, que recebem em média R$ 3.000 por ano.
Questionada por deputados da
oposição, a Secretaria de Estado
de Segurança Pública disse, por
meio de ofício assinado pelo superintendente de Administração
e Finanças, Francisco José Soares
Barroso, que os informantes podem ser marginais e ex-marginais, como seria comum em outros Estados, mas também líderes
comunitários "ou que presidam
uma associação de moradores e,
sem dúvida, alguém que auxilia a
segurança pública motivado por
um elevado sentimento cívico".
Segundo o representante do governo, os informantes repassam
dados "de interesse da segurança
pública" e relativos "a um determinado assunto específico".
Francisco Barroso afirmou no
ofício que o governo passou a
"cooptar cidadãos no meio da comunidade das mais diversas localidades" numa estratégia de combate à violência e ao narcotráfico.
O coordenador de comunicação do governo, Ronaldo Franco,
disse ontem que uma das principais tarefas dos informantes é
"passar informações sobre a situação dos sem-terra, para evitar
problemas" em operações de desocupação de áreas invadidas.
Sobrinho
As despesas com viagens e residenciais do governador foram ordenadas pelo sobrinho e braço direito de Zeca, Vander Loubet, à
época secretário de Governo e hoje presidente estadual do PT e secretário de Habitação e Infra-estrutura, e pelo deputado federal licenciado Ben-Hur Ferreira (PT),
atual secretário de Governo.
Do total, o governo detalhou as
despesas referentes a R$ 400 mil,
em dois relatórios encaminhados
ao Tribunal de Contas do Estado
(TCE). O governo desembolsou,
por exemplo, R$ 132,4 mil para
Zeca ir a cinco cidades. Em Brasília, encontrou-se com os ministros da Agricultura, Pratini de
Moraes, e dos Transportes, Eliseu
Padilha. No Rio de Janeiro, teve
uma audiência com a vice-governadora, Benedita da Silva. Participou em Porto Alegre (RS) do Fórum Social Mundial. Em Dourados (a 228 km de Campo Grande),
lançou um programa de recuperação de estradas. E foi a Ponta
Porã (338 km de Campo Grande),
por motivo não explicado.
Recepções
Em outro período do ano passado, Zeca gastou R$ 128 mil para ir
a São Paulo "dar entrevistas" e receber o Prêmio Top 2000, promovido pela ADVB (Associação dos
Dirigentes de Vendas e Marketing
do Brasil), e a Dourados, Rio Verde (195 km da capital), Bataguassu (341 km) e Chapadão do Sul
(300 km), para lançar programas.
As despesas com a residência
incluem almoços e jantares oferecidos a autoridades. Zeca gastou
R$ 10 mil em recepções ao presidente da CEF (Caixa Econômica
Federal), Emílio Carazzai, ao presidente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Hamilton Casara, e à secretária de
Estado de Assistência Social do
governo federal, Wanda Engel.
Segundo o governo, as recepções são feitas na própria casa do
governador porque o Estado não
tem residência oficial. Zeca é o
principal aliado do presidente
Fernando Henrique Cardoso entre os governadores de oposição.
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