São Paulo, domingo, 10 de novembro de 2002

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CAMPANHA

Partido aumentou a previsão de gastos no Tribunal Superior Eleitoral de R$ 36 milhões para R$ 48 milhões

PT precisa de R$ 10 mi para fechar conta

GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de a campanha do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, ter sido a mais próspera em doações da história do PT, o diretório nacional do partido ainda precisa arrecadar cerca de R$ 10 milhões para pagar compromissos do período eleitoral. Há contas de gráfica, outdoors, produtora de TV e aluguel de jatinhos.
Quando registrou a candidatura no Tribunal Superior Eleitoral, em 5 de julho, o PT protocolou no tribunal uma previsão de gastos de R$ 36 milhões. Em outubro aumentou o teto para R$ 48 milhões.
Para se ter idéia de quanto os gastos (e a previsão de arrecadação) do PT aumentaram, na campanha presidencial de 1998, o partido fixou um teto de R$ 15 milhões. Gastou R$ 3,9 milhões.
O valor que ainda falta ser arrecadado (cerca de R$ 10 milhões) não foi fechado com exatidão porque ainda está sendo feito um levantamento do material gráfico e promocional produzidos nos Estados, na reta final das eleições.
Só em São Paulo, foram impressos 50 milhões de panfletos no segundo turno. O PT manteve a mesma quantidade de outdoors do primeiro turno: entre 700 e 800 placas a cada período de 14 dias -no valor de cerca de R$ 800 mil.
O tesoureiro do PT, Delúbio Soares, 47, que comandou a arrecadação dessa campanha, reconhece que arrecadar para um presidente eleito é tarefa muito mais "delicada" do que pedir dinheiro para um candidato.
Soares diz que sua principal preocupação é pedir dinheiro a pessoas e empresas que não entendam isso como um sinal verde para, no futuro, pedir benefícios ao governo de Lula.
A função principal da equipe de arrecadação (cerca de 20 pessoas) é consultar o cadastro das empresas procuradas durante a campanha pelo PT -cerca de 4.000. Nele consta a resposta dada pela empresa, quando procurada pela primeira vez para contribuir. "Não vamos insistir com empresas que informaram não doar por razões institucionais", diz Soares.
Apesar de a equipe de arrecadação ter duas dezenas de pessoas, é Soares quem está fazendo contatos com empresários e pedindo dinheiro em nome da campanha. A seleção de quem será procurado também é feita por ele.
Para se ter idéia da proximidade entre ele o presidente eleito, Soares (assim como José Dirceu, o todo poderoso presidente do PT) tem uma procuração assinada por Lula para movimentar a conta bancária da campanha, o que inclui fazer depósitos, saques e assinar cheques.
Soares e Lula militam juntos no movimento sindical há mais de 20 anos. Antes de ser secretário de Finanças e Planejamento do Diretório Nacional do PT, ele representou a CUT no Codefat, órgão composto por governo e instituições da sociedade civil para gerir o uso dos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador.
Soares não diz se vai pedir dinheiro a bancos. Afirma apenas que serão aceitas contribuições dos que "concordam com o projeto petista de redução das desigualdades sociais do Brasil". Mas diz que as relação do partido com esse segmento "melhorou muito" em relação à última campanha.
O tesoureiro do PT dá pistas de como o relacionamento ficou mais próximo. Ele refere-se a Roberto Setubal, dono do Itaú, pelo primeiro nome. Já João Moreira Salles, cineasta e herdeiro do Unibanco, filma, desde setembro, um documentário sobre Lula.
Em 1998, a única contribuição dos bancos a Lula foi feita pelo Itaú, no valor de R$ 175 mil. O então candidato Fernando Henrique Cardoso recebeu R$ 2,6 milhões da mesma instituição.
Um dos empresários que serão procurados pelo PT é Samuel Klein, 79, as Casas Bahia. No primeiro turno, ele doou R$ 50 mil, em duas parcelas de R$ 25 mil. Klein é protagonista de uma das histórias mais saborosas da campanha de Lula.
A equipe de arrecadação do petista telefonou diversas vezes para o comando das Casas Bahia, tentando chegar ao nome do executivo responsável por decidir sobre doação. O próprio Soares ligou. "Perdi até a conta, mas me passaram para umas 16 pessoas diferentes até que conseguimos marcar uma reunião com eles."
No dia marcado, Soares e um assessor surpreenderam-se ao ver o próprio Samuel Klein na sala de reunião. O empresário perguntou a Soares que "amigo seu" havia indicado o petista. "Aquele ali", respondeu o tesoureiro, apontado para o telefone.
Soares contou a Klein todo o périplo telefônico pelo qual passara e entregou a "caixinha" com a estrela dourada oferecida aos empresários convidados a doar. "Essa campanha de vocês vai dar certo. Eu também comecei batendo de porta em porta e acabei criando as Casas Bahia".
Funcionou o faro do empresário que, em 1952, oferecia de porta em porta roupa de cama, mesa e banho em São Caetano do Sul, na região do ABC Paulista.



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