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PRIVATIZAÇÃO
Empresa que sucedeu a Fepasa e foi assumida pelo governo federal encontra-se em franca decadência
Malha ferroviária paulista vai hoje a leilão
BERNARDINO FURTADO
da Reportagem Local
Uma empresa em franca decadência. Essa é a Malha Paulista,
sucessora da antiga Fepasa (Ferrovia Paulista S/A), cujo leilão está
marcado para hoje, na Bolsa de
Valores do Rio de Janeiro (BVRJ).
Três consórcios privados se habilitaram a assumir a operação de
seus 4.183 km de linhas, que cobrem São Paulo e parte do Triângulo Mineiro. O preço mínimo é
R$ 233,37 milhões.
O transporte de carga, único serviço de expressão econômica da
antiga Fepasa, vem decaindo continuamente desde 94. Em 97, a
produção da empresa foi 28% menor que a de 93. A situação não
deve mudar neste ano.
Expressa por uma unidade de
nome complicado (tonelada x
quilômetro útil), que representa a
quantidade de carga multiplicada
pela extensão em que é transportada, a produção foi em 1980 cerca
de 50% maior do que a atual.
A baixa capacidade de investimento, resultado de um quadro
de déficit crônico entre receitas e
despesas, explica a maior parte da
decadência. Em 97, a empresa teve
um prejuízo de R$ 1,4 bilhão.
Como preparação para a privatização, 10.206 empregados foram
demitidos de 95 para cá. Antes de
repassar a Fepasa para o governo
federal, no bojo da negociação da
dívida do Estado com o Banespa,
o governo estadual transferiu para
a Secretaria de Estado de Fazenda
o pagamento de 50 mil aposentados e pensionistas da ferrovia.
Resta aos futuros donos reverter
o quadro de sucateamento dos
equipamentos da Malha Paulista.
A frota de locomotivas, que traduz
a capacidade de produção de uma
ferrovia, está em pandarecos. Do
total de 408 máquinas, 189
(46,3%) estão fora de operação
por avarias de diferentes graus.
A empresa de consultoria Booz
Allen & Hamilton, contratada em
95 para fazer a avaliação da então
Fepasa com vistas à concessão para o setor privado, estimou que serão necessários, para recuperar a
frota de locomotivas, investimentos no valor de R$ 241,4 milhões
num período de 20 anos.
Dos grupos que se candidataram
ao leilão, dois são formados por
empresas que venceram os leilões
de venda de sistemas ferroviários
que se interligam com a Malha
Paulista. Um é formado pelos donos da Ferropasa, que atua no
Oeste e Centro-Oeste. Entre eles, a
Ferronorte, com capital da Companhia Vale do Rio Doce, com
participação dos fundos de pensão
Previ (Banco do Brasil) e Funcef
(Caixa Econômica Federal).
Outro é formado pelos donos da
Ferrovia Centro-Atlântica (Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste)
-entre os quais a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional- e da
Ferrovia Sul Atlântico (Sul do
país). Mas o superintendente de
Infra-Estrutura e Energia da CSN,
José Paulo Alves, afirmou que a
Ferrovia Centro Atlântica entraria
no consórcio Ferropasa.
O terceiro consórcio, o Ferrovia
Inteligente, é composto pela FAO
Empreendimentos, Banco Ourinvest, Construcap e Tejofran.
Quem pode desequilibrar a disputa é o grupo francês Alstom, fabricante de locomotivas, que está
negociando sua participação em
algum dos grupos.
As regras do leilão
O vencedor do leilão terá que pagar à vista 20% do preço ofertado.
O restante, passados dois anos de
carência, poderá ser pago em 112
parcelas trimestrais, totalizando
os 30 anos de concessão.
O ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, disse na última sexta-feira, que não vê riscos de fracasso do leilão da Malha Paulista.
"É a parte mais estratégica do sistema ferroviário brasileiro", disse
Padilha, que não descartou a hipótese de o ágio passar de 100%.
Na última sexta-feira, o Sindicato da Mogiana conseguiu uma liminar na última sexta-feira na
Justiça Federal do Rio cancelando
o leilão. Porém, no início da noite
de ontem, o presidente interino
do TRF (Tribunal Regional Federal), desembargador Alberto Nogueira, acatou recurso do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e suspendeu a liminar.
Colaborou
Toni Sciarretta, da Sucursal do Rio
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