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CASO TRT
Roberto Precioso Jr., da PF, diz que operação policial que culminou com a rendição do ex-juiz foi deflagrada há uma semana
Delegado contradiz versão de ministro
LUCAS FIGUEIREDO
DA REPORTAGEM LOCAL
A operação policial que culminou com a rendição do ex-juiz Nicolau dos Santos Neto foi deflagrada há uma semana. A estratégia armada para permitir que Nicolau se entregasse contou com
lances para evitar que o delegado
que cumpriu o mandado de prisão fosse seguido.
A afirmação é do delegado da
Polícia Federal Roberto Precioso
Jr., que deu voz de prisão ao ex-juiz no Rio Grande do Sul. A declaração de Precioso Jr. contradiz
com a versão do ministro da Justiça, José Gregori, que nega ter havido negociação para que Nicolau
se entregasse.
Na madrugada de sábado, o delegado afirmou à Folha que ele foi
o policial escolhido para cumprir
o mandado de prisão do ex-juiz
devido ao "relacionamento de
confiança" que tem com o advogado de Nicolau, Alberto Toron.
"Houve a proposta de apresentação espontânea dele (Nicolau)
há cerca de uma semana. Em razão disso, eu peguei o mandado
de prisão, fui para lá (Rio Grande
do Sul) hoje (sexta-feira) e o mandado foi cumprido", disse Precioso Jr.
O delegado afirmou que viajou
de Brasília para Jundiaí (São Paulo) e de lá para Santa Maria (Rio
Grande do Sul). "Em Santa Maria,
trocamos de aeronave por precaução", informou Precioso Jr.
No segundo avião, o delegado
voou então para Bagé, também
no Rio Grande do Sul, de onde seguiu de carro até o motel Fliper,
na BR-293, onde o ex-juiz Nicolau
se rendeu.
Versões contraditórias
Na noite de sexta-feira, antes de
embarcar para Roma, onde negociará a extradição do banqueiro
Salvatore Alberto Cacciola (foragido há quase cinco meses), o ministro Gregori apresentou uma
versão diferente da relatada pelo
delegado Precioso Jr. A versão do
ministro valoriza o trabalho da
Polícia Federal e o governo de forma geral.
"A apresentação do juiz Nicolau
foi incondicionada e não resultou
de qualquer negociação ou acordo e, por certo, deu-se em razão
do cerco que a equipe especial da
Polícia Federal desenvolveu e da
força-tarefa que, reunindo várias
agências públicas, bloqueou, no
exterior, vários de seus bens", disse Gregori em nota oficial.
Em entrevista coletiva na sua
casa em São Paulo, convocada por
sua assessoria, o ministro contou
que a rendição se deu da seguinte
forma:
1) Há cerca de 20 dias, o advogado de Nicolau informou ao ministro que havia a "hipótese" de o ex-juiz se entregar;
2) Depois disso, não houve mais
contatos entre representantes de
Nicolau e do governo;
3) Na última sexta-feira, o advogado do ex-juiz ligou para o delegado Precioso Jr., atualmente cedido ao Ministério da Justiça,
"manifestando o desejo de apresentar seu cliente e solicitando
que o acompanhasse até o local
onde Nicolau se encontrava";
4) O delegado então pediu (e
obteve) a autorização do diretor-geral da PF, Agílio Monteiro Filho, para acompanhar Toron até o
esconderijo do ex-juiz.
Na nota divulgada à imprensa, o
ministro chegou a dizer que a prisão de Nicolau -identificado no
texto como juiz e não como ex-juiz- foi uma "lição" para a opinião pública, depois das críticas
devido à incapacidade da polícia
de prender o ex-juiz.
"No Brasil novo e democrático
que estamos construindo, não há
lugar para a impunidade. Cedo ou
tarde, mas com a certeza das coisas inevitáveis, os que tiveram
contas a ajustar com a Justiça
-usem colarinho branco ou camiseta- serão alcançados pela
firmeza da lei, sem violência, mas
com o rigor de todas as suas consequências", afirmou o ministro.
O governo insiste na divulgação
de que não teria havido negociação com o ex-juiz para tentar diminuir o desgaste na opinião pública. Entretando, a estratégia fica
comprometida devido a falta de
sincronia entre os relatos feitos
por Gregori e pelo delegado Precioso Jr.de como teria sido armada a operação para que Nicolau se
rendesse.
Rendição combinada
A Folha apurou que a operação
se deu de forma diferente da versão do ministro. Houve sim um
acordo, avalizado por Gregori,
para que Nicolau se apresentasse
espontaneamente e, em troca,
não fosse algemado nem fotografado.
A rendição deveria ter acontecido em São Paulo no final da semana passada, quando o diretor-geral da PF estaria na cidade. A operação acabou sendo abortada por
falta de condições logísticas para
que Nicolau se deslocasse do seu
esconderijo até São Paulo.
A informação de que o ex-juiz
estava prestes a se render acabou
vazando para a imprensa, que
passou a montar plantões em
frente aos edifícios da PF em São
Paulo e Brasília.
Depois da primeira tentativa de
concretizar o acordo, foi combinado então, com o ministro e com
a cúpula da PF, que o ex-juiz se
entregaria entre sexta e sábado
passados.
Quando os detalhes da rendição
começaram a ser acertados, há
cerca de uma semana, Precioso Jr.
foi informado de que seria o responsável por dar voz de prisão a
Nicolau. O delegado chegou a fazer contato com colegas, solicitando apoio para cumprir o mandado de prisão.
O acordo fechado entre Toron e
Gregori foi plenamente cumprido
por ambas as partes: a rendição se
confirmou na data prevista, e o
ex-juiz foi poupado das algemas e
também foi mantido longe dos repórteres, fotógrafos e cinegrafistas que faziam plantão na sede da
PF em São Paulo.
Delegado conhecia ex-juiz
Quando ainda era uma autoridade do Judiciário, o ex-juiz Nicolau foi apresentado ao delegado
que, anos mais tarde, daria voz de
prisão a ele. Ambos não chegaram, porém, a manter qualquer
relacionamento.
Precioso Jr., entretanto, é amigo
do advogado de Nicolau, Alberto
Toron. O bom relacionamento de
Toron com Precioso Jr. foi o fator
decisivo para que o delegado fosse
o escolhido para formalizar a rendição do ex-juiz.
Casado com uma delegada da
PF aposentada e pai de três filhas,
Precioso Jr. é um policial de carreira. Foi delegado da polícia civil
de São Paulo, tornando-se depois
agente e delegado da PF, onde
chegou a ser o segundo homem
da instituição na superintendência de São Paulo.
Em 84, o delegado participou da
equipe que prendeu, em São Paulo,o mafioso Tommaso Buscetta,
legendário chefão da Cosa Nostra
(máfia da Sicília, sul da Itália) que
havia se refugiado no Brasil com
nome falso.
Coube a Precioso Jr. lavrar o auto de prisão de Buscetta, que mais
tarde foi extraditado para a Itália,
onde se tornou colaborador de
Justiça, provocando as maiores
baixas na história da Cosa Nostra.
Reconhecido por seus colegas
como um dos delegados mais experientes da corporação, sua especialidade é a área de repressão
ao narcotráfico.
No ano passado, Precioso Jr. foi
escolhido para ser o representante da PF na Senad (Secretaria Nacional Antidrogas), órgão vinculado ao Gabinete de Segurança
Institucional, comandado pelo
general Alberto Cardoso.
O cargo era considerado um dos
mais espinhosos na Polícia Federal, já que a instituição resistia à
criação da Senad por temor de
perder o controle do setor de
combate ao narcotráfico para os
militares -uma reivindicação
histórica de setores da caserna.
No seu trabalho na secretaria,
Precioso Jr. acabou conquistando
a confiança do então titular da Senad, Walter Maierovitch, ajudando a distencionar a relação entre
as duas instituições.
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