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CASO SANTO ANDRÉ
José Cicote nega ter visto Sérgio Gomes e Dionízio Severo juntos, mas diz haver "indício forte" contra empresário
Ex-vice recua de depoimento à Promotoria
JULIA DUAILIBI
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O ex-vice-prefeito de Santo André José Cicote, 65, recuou parcialmente das declarações dadas
aos promotores que investigam a
morte do prefeito Celso Daniel ao
afirmar nunca ter visto Dionízio
Severo com o empresário Sérgio
Gomes da Silva.
A afirmação, feita em maio ao
Ministério Público de Santo André, foi um dos principais argumentos usados pela Promotoria
para denunciar Gomes da Silva
como um dos mandantes do assassinato do prefeito em 2002.
Para os promotores, Severo é o
elo entre Gomes da Silva e a quadrilha da Favela Pantanal, cujos
integrantes estão presos pelo assassinato de Celso Daniel.
Em entrevista ontem à Folha,
na sede da Associação dos Aposentados Metalúrgicos de Santo
André, Cicote, fundador e ex-deputado federal do PT, disse não
ter visto o empresário com Severo. Mas afirmou ter certeza de que
viu "duas ou três vezes" Severo na
Prefeitura de Santo André.
O "Termo de Declarações", assinado pelo ex-deputado federal
em maio deste ano, contradiz as
declarações dadas à Folha. À época, Cicote afirmara aos promotores ter visto Severo com Gomes da
Silva no primeiro andar da prefeitura, onde ficavam os gabinetes
do prefeito e do vice.
À Folha Cicote afirmou ainda
não saber do envolvimento de
Adriana Pugliesi, ex-mulher de
Gomes da Silva, com Severo.
Em declaração ao MP disse ter
ouvido comentários "dando conta de um desentendimento entre
Gomes da Silva e Severo, relacionado à mulher".
Cicote afirmou ainda não ter assinado nenhum documento dos
promotores. Vice-prefeito de
Santo André entre 89 e 92, hoje está no PSB, pelo qual concorreu a
deputado estadual em 2002.
Folha - O sr. viu o Dionízio Severo
com Sérgio Gomes da Silva?
José Cicote - Não. Não poderia
dizer isso.
Folha - Mas o viu na Prefeitura de
Santo André?
Cicote - Ver eu vi. Poucas vezes,
mas eu vi. Não sei se foram duas
ou três vezes, mas eu vi. Por volta
de 88, 89, mais ou menos.
Folha - Com Gomes da Silva?
Cicote - Não. Não o vi nem com
o Sérgio nem com o Celso. Com
nenhum dos dois. Eu também
saía muito naquela época. Era deputado. Não ficava muito em Santo André. Vou fazer de tudo para
descobrir o assassino do Celso.
Parece que está no caminho certo,
há indício forte [de participação]
do Sérgio. Vou fazer de tudo para
descobrir o assassinato desse moço.
Folha - Mas o sr. disse para o Ministério Público que viu Gomes da
Silva com o Severo?
Cicote - O Sérgio com o Severo
eu não vi. Nem o Celso.
Folha - Nem falou isso para os
promotores?
Cicote - Não falei isso.
Folha - O sr. tem certeza de que
era Severo na prefeitura?
Cicote - Claro. Eu via ele na Prefeitura.
Folha - Ele trabalhava lá? Tinha
uma função?
Cicote - Nem sei se ele trabalhava
lá [na prefeitura]. O Celso e o Sérgio trabalhavam juntos. Eram eles
que contratavam gente, seguranças. Agora o Severo, foram poucas
as vezes que eu o vi. Duas ou três
vezes. Quando saía com o Celso
para ir para o bairro ou alguma
coisa, reunião, o Severo nunca
acompanhou a gente.
Folha - O Severo era uma figura
conhecida na prefeitura?
Cicote - Nem tanto. Para algumas pessoas era. Para outras, não.
Folha - O sr. era inimigo do prefeito Celso Daniel?
Cicote - Não era inimigo. Não
me dava bem por questões políticas. Tinha uma visão, e ele outra.
Folha - Por quê?
Cicote - Por causa desse problema. Na primeira gestão dele, ele
trouxe muita gente de fora. Achei
que deveria trazer o pessoal de
Santo André.
Folha - Quem é o pessoal de fora?
Cicote - É o Klinger [de Oliveira
Souza, ex-secretário de Serviços
Municipais], o Sérgio. Foi um leque aberto para o pessoal de fora
que não tinha compromisso com
o PT da cidade.
Folha- Essas pessoas tinham envolvimento com corrupção?
Cicote - Não conhecia. O dia que
ele [Celso Daniel] falou comigo,
"Vou colocar fulano", eu disse:
"Celso, você é o prefeito. E eu vou
te apoiar. Quero que você acerte,
mas eu queria que você desse valor ao pessoal de Santo André".
Folha - Havia esquema de corrupção na prefeitura?
Cicote - Eu era a pessoa que eles
não conversavam. Era proibido
conversar comigo coisas do tipo
administração, sobre questão política do partido. Não tinha esse
papo comigo.
Folha - Severo namorou Adriana
Pugliesi [ex-mulher de Gomes da
Silva]?
Cicote - Não. Nunca vi isso. Ela
era minha vizinha. O Sérgio morava perto da minha casa. Eu vi
depois a imprensa falar isso.
Folha - Acha que o Severo pode
estar envolvido no assassinato?
Cicote - Ele mesmo falou que estava. Fico constrangido de numa
morte bárbara como essa o processo ter sido encerrado com crime comum. Celso não tinha inimigo. Ele podia podia ter inimigo
político. Era eu. Mas pessoalmente, nada contra o Celso. Era um
rapaz inteligente, acho que ia ser
ministro. O Palocci [Fazenda] deu
certo igual o vice-prefeito [João
Avamileno] deu certo porque o
Celso abriu duas vagas.
Folha - O sr. foi procurado por alguém próximo de Gomes da Silva?
Cicote - Não.
Folha - Tem mágoa dessa época?
Cicote - Acho que se eu estivesse
na prefeitura isso não teria acontecido. Eu era um cara muito expansivo, ainda sou. Falo o que eu
vejo. Inclusive eu disse: "Celso, esse pessoal não é de confiança. Não
são da cidade, não a conhecem".
Folha - O sr. não assinou algum
depoimento?
Cicote - Não.
Folha - Então por que o MP diz
que o sr. viu Gomes da Silva com
Severo?
Cicote - Não acredito [que eles
disseram isso]. O que eles me falaram é que o processo corre sob sigilo. Acho que uma pessoa que é
um promotor, mesmo que você
dê um depoimento que seja banal, não pode fugir do silêncio. É
uma questão que diz respeito à
profissão. Ninguém vai acreditar
num MP que não diz a verdade.
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