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Empreiteira que doou a Lula é investigada
Segundo relatório de inquérito da CVM, a UTC Engenharia simulou prejuízo para dar saída legal de recursos a terceiros
Operação ocorreu quatro dias antes de a empreiteira participar de uma licitação na Petrobras para obras de conversão da P-47
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Um inquérito da CVM (Comissão de Valores Mobiliários)
apontou indícios de fraude numa operação realizada pela empreiteira UTC Engenharia na
BM&F (Bolsa de Mercadorias
& Futuros) no mercado de venda de dólares em outubro de
2002. A UTC doou R$ 1,2 milhão para a campanha de Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) e R$
1,3 milhão para outros candidatos do PT -90% de tudo o que a
empreiteira doou nas últimas
eleições foram para a legenda.
Segundo o relatório da comissão de inquérito instalada
pela CVM, houve operação do
tipo "esquenta-esfria", em que
a empresa simula prejuízo para
dar saída legal a recursos que
pretende pagar a terceiros.
A empreiteira pagou como
prêmio (supostos prejuízos)
R$ 1,37 milhão a um dentista
que vive em Portugal. Em seguida, ele distribuiu o dinheiro
para cerca de 20 pessoas e empresas, por meio de cheques.
A operação ocorreu quatro
dias antes de ela participar de
uma licitação na Petrobras para obras de conversão da plataforma de petróleo P-47.
A operação foi registrada na
BM&F pela corretora Bônus-Banval, investigada no mensalão, e teve a participação da corretora São Paulo CV, onde operava José Carlos Batista, dono
da Guaranhuns -usada no valerioduto. A UTC Engenharia é
contratada da Petrobras, com a
qual assinou, de 2005 a 2006,
contratos de ao menos R$ 177
milhões. O dono, Ricardo Ribeiro Pessoa, preside a Associação Brasileira de Engenharia
Industrial, que fez convênio
com a petroleira, sem licitação,
no valor de R$ 228 milhões.
Segundo o relatório, as operações da UTC e outras registradas no período na BM&F
são "ardil para, usando o mercado de opções [de dólar], fabricar os lucros e os prejuízos".
O procurador da AGU (Advocacia Geral da União) que atua
no processo, Daniel Schiavoni
Miller, concluiu pela "presença
da prova da materialidade".
O relatório da CVM apontou
como indícios de irregularidades as "características do negócio, com possibilidade da opção
não ser exercida, já que a cotação do dólar no mercado spot [à
vista] estava abaixo do preço do
exercício da opção de compra.
Localizado pela CVM em
Portugal, o dentista que obteve
o lucro, Mauro Lanca Freitas
Vale, disse ter sido usado e que
deixou assinados no Brasil 40
cheques em branco que foram
manipulados por um suposto
corretor autônomo. O corretor
não foi localizado pela CVM.
A UTC venceu a disputa na
Petrobras, cujo contrato foi assinado no penúltimo dia do governo FHC, em 30 de dezembro de 2002. A obra foi entregue ao custo de US$ 83 milhões
em junho de 2005.
O relatório, de julho de 2005,
sugeriu o envio do inquérito
para Ministério Público Federal, BC e Receita, para o aprofundamento das investigações.
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