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PF prende presidente do Tribunal de Justiça do ES
Investigação conduzida pelo STJ apura suposto esquema de venda de decisões judiciais
Também foram detidos mais dois desembargadores e um juiz; inquérito tramita em Brasília desde abril,
sob segredo de Justiça
Nestor Müller/"Gazeta de Vitória'
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Policiais federais deixam o prédio do Tribunal de Justiça do ES após apreensão de documentos
FLÁVIO FERREIRA
ENVIADO ESPECIAL A VITÓRIA
VINÍCIUS BAPTISTA
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA,
EM VITÓRIA
MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA
A Polícia Federal prendeu
ontem o presidente do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, Frederico Guilherme Pimentel, e outras seis pessoas
-entre elas dois desembargadores e um juiz- suspeitas de
participar de um esquema de
venda de decisões judiciais.
Na ação, que mobilizou policiais da divisão de inteligência
da PF em Brasília, foram presos
dois advogados e a diretora de
distribuição de processos do
tribunal, além de um membro
do Ministério Público, contra
quem não havia mandado de
prisão. Ele foi detido por porte
de arma de uso restrito.
Segundo a Folha apurou, a
polícia trabalha com a suspeita
de que a suposta quadrilha
exercia pressões sobre outros
desembargadores, juízes de
primeira instância e até mesmo na criação de cartórios em
cidades do interior do Estado.
Foram cumpridos ontem 24
mandados de busca e apreensão expedidos pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), no
qual tramita, desde abril, inquérito em segredo de Justiça
sobre supostos crimes contra a
administração pública e administração da Justiça por meio
de "patrocínio e intermediação
de interesses particulares".
Em nota, o STJ disse que, na
investigação, surgiram "evidências de nepotismo" no TJ, o
que teria facilitado eventuais
"ações delituosas dos investigados". Segundo a Procuradoria Geral da República, diálogos interceptados com autorização judicial sugerem que pode ter havido manipulação de
concurso para juiz, "para viabilizar o ingresso de familiares de
desembargadores".
Os detidos são suspeitos de
fazer parte de um esquema que
tinha advogados numa ponta e
desembargadores em outra. Os
advogados acertavam com
clientes a compra das decisões
do TJ e pagavam à chefe de distribuição para que os processos
fossem encaminhados aos desembargadores da suposta
quadrilha. Finalmente, os desembargadores julgavam as
ações favoravelmente aos
clientes dos advogados.
Além de Pimentel, foram
presos os desembargadores Elpídio José Duque e Josenider
Varejão Tavares, o juiz Frederico Pimentel Filho -filho do
desembargador-, a cunhada
dele, Bárbara Sarcinelli, diretora de distribuição, e os advogados Pedro Celso Pereira e Paulo José Duque, filho de Elpídio.
O superintendente da PF no
Estado, Jader Lucas Gomes,
disse que o esquema consiste
na distribuição "forçada para
que os processos caíssem em
uma turma ou outra da Vara
Cível dos desembargadores".
Segundo a Folha apurou, havia dois grupos que atuavam no
esquema. Um, chamado "grupo
dos intermediadores", era formado pelos advogados Paulo
Duque e Pedro Celso Pereira,
pelo juiz Pimentel Filho e mais
dois advogados que não foram
presos. O chamado "grupo dos
agentes públicos" era formado
pelos três desembargadores
detidos, um outro que não foi
preso, e por Bárbara Sarcinelli.
Uma das decisões "viciadas"
seria a concessão, por R$ 30
mil, de uma liminar a um prefeito cassado, no interior do
Estado, que o reconduziu ao
cargo. O dinheiro da propina
viria, segundo a PF, dos cofres
públicos do município.
Outro caso é o de um possível pagamento ao desembargador Elpídio, para que ele decidisse ações favoravelmente à
quadrilha investigada na Operação Titanic. O juiz Pimentel
Filho teria recebido uma moto
no valor de R$ 50 mil após negociações que resultaram na
reforma de uma decisão contrária ao grupo na 1ª instância.
Na casa de Elpídio, a PF encontrou grande quantidade de
dinheiro. Foi pedida ao Banco
do Brasil uma máquina para
contar as cédulas. Os presos foram levados a Brasília, onde
vão depor ao STJ.
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