São Paulo, quinta, 10 de dezembro de 1998

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DIPLOMACIA
Gabeira recorrerá à ONU sobre visto

ACM pede que EUA reexaminem veto

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília

O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) vai pedir à Organização das Nações Unidas que recorra contra a decisão dos EUA de lhe negar visto de entrada no país.
O presidente do Congresso, senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), manifestou ao governo norte-americano a "estranheza" do Legislativo brasileiro e apelou para que o caso seja reexaminado.
Os EUA informaram oficialmente ontem ao Brasil que o visto de Gabeira foi negado. A Folha antecipara a decisão há uma semana.
Gabeira foi um dos 23 escolhidos pela Câmara dos Deputados para representá-la na Assembléia Geral da ONU, que tem sede em Nova York.
O acordo de sede entre ONU e EUA determina que o país anfitrião tem obrigação de permitir a entrada de integrantes de delegações dos Estados membros. Mas os EUA argumentam que a função dada a Gabeira foi a de observador, "não de membro oficial da delegação brasileira". Segundo o governo norte-americano, o artigo 4, item 11, do Acordo Geral das Nações Unidas permite ao país anfitrião negar visto a observador.
A negativa do visto foi baseada no parágrafo 1.182, inciso 3B, da Lei de Imigração e Naturalização dos EUA, que proíbe a ida ao país de estrangeiros que tenham se engajado em atividades terroristas.
Em 1969, Gabeira, 57, que na época participava do grupo MR-8, participou do sequestro do então embaixador dos EUA no Brasil, Charles Elbrick, depois libertado em troca de prisioneiros políticos do regime militar brasileiro.
Naquele mesmo ano, ACM, 71, era prefeito nomeado de Salvador e pertencia ao partido político que apoiava o regime militar, Arena. Apesar das divergências políticas atuais e do passado entre os dois, Gabeira e ACM trocaram elogios ontem no Congresso.
ACM chamou o deputado de "um dos expoentes de nosso parlamento" e Gabeira afirmou que o presidente do Congresso "se parece cada vez mais com o filho" (Luís Eduardo Magalhães), comparação que levou o senador às lágrimas.
Na carta à Embaixada dos EUA, ACM diz que a atitude de negar o visto se deve "a motivo ocorrido há 30 anos, fruto de um momento difícil que o país vivia, como ocorreu em várias partes do mundo".
A Embaixada dos EUA em Brasília disse à Folha que a carta de ACM foi recebida pelo encarregado de negócios James Derham (o país está sem embaixador no Brasil). O porta-voz Terry Davidson afirmou que o governo norte-americano está "estudando uma resposta" e, por enquanto, a decisão de negar o visto permanece.



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