São Paulo, sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

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PT detém 30 cargos-chave no ministério dado ao PMDB

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao recuperar o controle de Minas e Energia, o PMDB encontrará uma pasta que na prática continuará a ser tocada pelo PT. São ao menos 30 cargos de segundo escalão ocupados por petistas, todos obedientes à sua madrinha política, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), responsável por montar a equipe, há cinco anos.
Várias dessas funções entraram na mira dos peemedebistas, que devem travar um cabo-de-guerra com a turma de Dilma. A poderosa ministra e gerente do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), no qual estão incluídas obras energéticas, alega que a equipe não pode ser modificada repentinamente com o crescente risco de um apagão elétrico.
Numa primeira investida, o PMDB quer tirar do PT o cargo de secretário-executivo, hoje exercido pelo ministro interino, Nelson Hubner, e as diretorias da Eletrobrás e da Eletrosul, ocupadas respectivamente por Valter Cardeal e Ronaldo Custódio, ligados a Dilma.
"Vamos indicar de imediato nomes para compor pelo menos os principais cargos. É natural que fiquem com o PMDB se o ministério é controlado por um peemedebista", diz o líder do partido na Câmara, Henrique Alves (RN).
O fato de o PT se apropriar de pastas que nominalmente não controla é facilmente comprovada em Minas e Energia. É essa falta de cerimônia nos ministérios alheios que mais incomoda outras siglas governistas.
Está claro também que os petistas não vão se desfazer dos cargos tão facilmente. Alves admite a necessidade de uma composição. "Teremos que trabalhar com petistas no ministério." No total, o PT tem 11 diretorias das estatais do setor elétrico. Na Eletrobrás, três dos quatro diretores são petistas. Na Eletrosul, os dois membros da diretoria são do PT.
Na Eletronorte estão dois petistas, um deles Adhemar Palocci, irmão do ex-ministro Antonio Palocci. Os peemedebistas querem entregar o comando a um apadrinhado do deputado Jader Barbalho. Há ainda dois petistas na Chesf (Companhia Hidroelétrica do São Francisco), um em Furnas e um na Eletronuclear.
O PT preside ainda a Empresa de Pesquisa Energética e controla o setor de geologia e pesquisa mineral do ministério. O Luz para Todos, um dos mais chamativos programas da pasta, é praticamente todo controlado por petistas e por seus aliados da CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Vários coordenadores estaduais do programa, cuja rotina é inaugurar postes e ligações residenciais em pequenas localidades, tem pretensões políticas. Muitos são ex-candidatos do PT a deputado e vereador.
Por ser uma pasta estratégica, com orçamento anual que passa dos R$ 5 bilhões, Minas e Energia tradicionalmente é uma das jóias da Esplanada.
A Folha ligou para a assessoria da pasta para que as indicações políticas fossem comentadas, mas até a conclusão desta edição não houve resposta.
No ano passado, o PMDB da Câmara dos Deputados jogou pesado para conquistar a presidência de Furnas para o ex-prefeito do Rio Luiz Paulo Conde, chegando a ameaçar uma rebelião contra a CPMF.
O PR, cuja área de atuação é o Ministério dos Transportes, também almeja tirar sua casquinha no setor energético. Há meses faz lobby para que o ex-governador do Ceará Lúcio Alcântara ganhe um cargo na Chesf, responsável pelo abastecimento na região Nordeste. "Cadê o cargo do Lúcio Alcântara?", reclama o líder do PR na Câmara, Luciano Castro.
O líder do PT na Câmara, Luiz Sérgio (RJ), afirma que seu partido não merece ser varrido do Ministério de Minas e Energia. "É justo que o PMDB volte ao ministério, mas não pode, neste processo, criar atritos com um partido aliado como o PT. Na formação do governo de coalizão, temos sido bastante compreensivos", afirmou Sérgio.


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