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Presidente diz que "setores oligárquicos se mantêm encastelados no poder" e não aceitam renovação de instituições
FHC critica o sistema político-partidário
LUIZA DAMÉ
ENVIADA ESPECIAL A FORTALEZA
O presidente Fernando Henrique Cardoso criticou ontem o sistema político-partidário brasileiro, insinuando que ele esteja atrasado e defasado em relação às necessidades da sociedade.
FHC disse que "setores oligárquicos se mantêm encastelados
no poder" e não aceitam a renovação das instituições políticas.
A avaliação do sistema político
nacional foi feita na abertura do
seminário "O desafio democrático nas Américas", três dias depois
de o PFL, seu mais fiel aliado, ter
rompido com o governo.
"Quando era senador, eu dizia
-e agora eu calo- que o sistema
político brasileiro estava atrás da
sociedade. Houve um desenvolvimento mais rápido das demandas
da sociedade, da capacidade de a
sociedade se organizar e se renovar do que do próprio sistema político", afirmou o presidente.
Em tom irônico, FHC fez questão de afirmar que essa era a sua
opinião antes de chegar à Presidência. "Agora, acho o sistema
político uma maravilha. O Congresso é maravilhoso. Mas, na
verdade, quando voltar a ser sociólogo, vou dizer de novo isso."
Para ele, há um "desequilíbrio"
entre necessidades da sociedade e
poder do sistema político de atender a essas demandas. "Não quero
generalizar. Isso avança mais
num país que no outro. Em geral,
há uma certa defasagem e isso é
compreensível porque estamos lidando com sociedades que se renovaram bastante."
No Avança Brasil -propostas
de FHC para o segundo mandato,
que termina neste ano- a reforma política tem destaque entre os
objetivos do governo.
"O segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso será marcado por uma intensa
mobilização de diferentes grupos
políticos, em especial dos partidos
da base de sustentação, para o debate e a introdução de reformas
políticas", diz o texto.
"É fundamental que sejam
aperfeiçoados os mecanismos do
sistema presidencialista [...]. É
igualmente importante fortalecer
o sistema partidário, mediante o
estabelecimento de regras estáveis, que contribuam para a consolidação e o amadurecimento do
sistema representativo", diz o texto do Avança Brasil.
FHC fez os discursos de abertura -acompanhado pelo presidenciável José Serra (PSDB-SP)- e de encerramento do seminário, promovido pelo BID
(Banco Interamericano de Desenvolvimento), com a participação
também dos presidentes do Peru,
Alejandro Toledo, e do Equador,
Gustavo Noboa. No final, FHC
sistematizou as intervenções dos
outros palestrantes e voltou a criticar os partidos políticos.
"Os diálogos são convergentes.
Liberdade é fundamental, é preciso reforçar a democracia e isso
não se limita aos partidos políticos, que precisam de uma injeção
de ânimo novo", disse, acrescentando que, depois de conquistada
a democracia, o grande desafio é
combater a pobreza.
Ao comentar indicadores sociais de seu governo, FHC sugeriu
ao presidente do BID, Enrique
Iglesias, que seja criada uma linha
de financiamento do programa
Bolsa-Escola para toda a América
Latina. Segundo ele, programas
dessa natureza só são possíveis
em regimes democráticos.
Bem-humorado, FHC socorreu
seu colega peruano, que reclamava que o índice de aprovação de
seu governo havia caído. "Eu já
estou acostumado", disse FHC
em espanhol. "Mas eu sou novo
nestas lides", respondeu Toledo.
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