São Paulo, segunda-feira, 11 de março de 2002

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Presidente diz que "setores oligárquicos se mantêm encastelados no poder" e não aceitam renovação de instituições

FHC critica o sistema político-partidário

LUIZA DAMÉ
ENVIADA ESPECIAL A FORTALEZA

O presidente Fernando Henrique Cardoso criticou ontem o sistema político-partidário brasileiro, insinuando que ele esteja atrasado e defasado em relação às necessidades da sociedade.
FHC disse que "setores oligárquicos se mantêm encastelados no poder" e não aceitam a renovação das instituições políticas.
A avaliação do sistema político nacional foi feita na abertura do seminário "O desafio democrático nas Américas", três dias depois de o PFL, seu mais fiel aliado, ter rompido com o governo.
"Quando era senador, eu dizia -e agora eu calo- que o sistema político brasileiro estava atrás da sociedade. Houve um desenvolvimento mais rápido das demandas da sociedade, da capacidade de a sociedade se organizar e se renovar do que do próprio sistema político", afirmou o presidente.
Em tom irônico, FHC fez questão de afirmar que essa era a sua opinião antes de chegar à Presidência. "Agora, acho o sistema político uma maravilha. O Congresso é maravilhoso. Mas, na verdade, quando voltar a ser sociólogo, vou dizer de novo isso."
Para ele, há um "desequilíbrio" entre necessidades da sociedade e poder do sistema político de atender a essas demandas. "Não quero generalizar. Isso avança mais num país que no outro. Em geral, há uma certa defasagem e isso é compreensível porque estamos lidando com sociedades que se renovaram bastante."
No Avança Brasil -propostas de FHC para o segundo mandato, que termina neste ano- a reforma política tem destaque entre os objetivos do governo.
"O segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso será marcado por uma intensa mobilização de diferentes grupos políticos, em especial dos partidos da base de sustentação, para o debate e a introdução de reformas políticas", diz o texto.
"É fundamental que sejam aperfeiçoados os mecanismos do sistema presidencialista [...]. É igualmente importante fortalecer o sistema partidário, mediante o estabelecimento de regras estáveis, que contribuam para a consolidação e o amadurecimento do sistema representativo", diz o texto do Avança Brasil.
FHC fez os discursos de abertura -acompanhado pelo presidenciável José Serra (PSDB-SP)- e de encerramento do seminário, promovido pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), com a participação também dos presidentes do Peru, Alejandro Toledo, e do Equador, Gustavo Noboa. No final, FHC sistematizou as intervenções dos outros palestrantes e voltou a criticar os partidos políticos.
"Os diálogos são convergentes. Liberdade é fundamental, é preciso reforçar a democracia e isso não se limita aos partidos políticos, que precisam de uma injeção de ânimo novo", disse, acrescentando que, depois de conquistada a democracia, o grande desafio é combater a pobreza.
Ao comentar indicadores sociais de seu governo, FHC sugeriu ao presidente do BID, Enrique Iglesias, que seja criada uma linha de financiamento do programa Bolsa-Escola para toda a América Latina. Segundo ele, programas dessa natureza só são possíveis em regimes democráticos.
Bem-humorado, FHC socorreu seu colega peruano, que reclamava que o índice de aprovação de seu governo havia caído. "Eu já estou acostumado", disse FHC em espanhol. "Mas eu sou novo nestas lides", respondeu Toledo.



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