São Paulo, quarta-feira, 11 de março de 2009

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Senado não cobra punição por hora extra

Apesar de dizerem que pagamento de benefício no recesso foi um erro, congressistas não buscam responsáveis pela medida

José Sarney, presidente da Casa, mandou os servidores do seu gabinete devolverem o valor recebido, decisão seguida por outros colegas


Sérgio Lima/Folha Imagem
José Sarney, presidente da Casa, mandou os servidores do seu gabinete devolverem o valor recebido, decisão seguida por outros colegas

ANDREZA MATAIS
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O pagamento de hora extra em janeiro para servidores do Senado foi considerado um "absurdo" pelo presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), que mandou os funcionários do seu gabinete devolverem o valor recebido, decisão que foi seguida por outros congressistas. Apesar disso, nenhum senador assumiu a responsabilidade pelo pagamento ou cobrou punição dos responsáveis.
O Ministério Público Federal do Distrito Federal abriu ontem investigação para apurar o caso. A primeira providência da procuradora Ana Carolina Roman será pedir informações ao Senado via Procuradoria Geral da República. O Ministério Público pode determinar desde a devolução do dinheiro pago até responsabilizar criminalmente os responsáveis pela medida.
A Folha revelou ontem que 3.883 servidores do Senado receberam hora extra pelo mês de janeiro, quando os senadores estavam em recesso e não houve atividade parlamentar. O custo foi de, pelo menos, R$ 6,2 milhões, embora o Siafi, que registra os gastos públicos, indique valor de R$ 8 milhões.
Sarney disse à reportagem, por meio de assessoria, que tomou a decisão de pedir a devolução no seu gabinete porque "no mês de janeiro a Casa não estava funcionando e não tem sentido pagar hora extra". Seus funcionários terão que devolver o valor no mês que vem.
"Eu acho um absurdo. Não acho correto, não. Tem que se verificar o que aconteceu e por que isso ocorreu", afirmou o presidente da Casa ontem, ao chegar no Congresso.
A segunda-vice-presidente do Senado, Serys Slhessarenko (PT-MT), disse que ficou "furiosa" ao descobrir que seu gabinete também autorizou o pagamento e, como Sarney, determinou a devolução. O mesmo fez Tião Viana (PT-AC).
"Vou pedir que seja devolvido. Quando está em mês normal, tudo bem, é trabalho pesado, mas no recesso não tem justificativa", disse Serys. "Tem que devolver", afirmou Tião.
Efraim Morais (DEM-PB), que autorizou a despesa três dias antes de sair da primeira-secretaria da Casa, empurrou a responsabilidade para os chefes-de-gabinete. "Todos os gabinetes enviaram a solicitação [de pagamento de hora extra]. As informações são de responsabilidade do gestor do gabinete", disse, em discurso no plenário e em nota. O pagamento, porém, só ocorreu porque ele autorizou que fosse feito extraordinariamente.
Apesar de considerar o pagamento um "absurdo", Sarney disse que providências devem ser tomadas pelo atual primeiro-secretário da Casa, Heráclito Fortes (DEM-PI). "É uma atribuição dele", disse.
Heráclito afirmou que pediu um parecer sobre o assunto ao advogado-geral do Senado, Luiz Fernando Bandeira, e também jogou a responsabilidade maior para os chefes-de-gabinete. Ele disse que não irá pedir a devolução do valor recebido por seus funcionários porque eles fizeram hora extra em janeiro e criticou a denúncia. "Parem com isso. A coisa vai chegar onde?"
Heráclito afirmou que vai estudar uma forma de receber de volta o dinheiro nos gabinetes onde isso for determinado, de maneira que os servidores não sejam penalizados. "Vamos parcelar o valor, encontrar uma maneira."
Conforme a Folha publicou ontem, o valor da hora extra subiu 111% a partir de dezembro. O teto subiu de R$ 1.250 para R$ 2.641,93.
Todos os gabinetes dos sete senadores titulares da Mesa Diretora autorizaram o pagamento da hora extra referente a janeiro. Dos 38 funcionários do gabinete do primeiro-vice-presidente, Marconi Perillo (PSDB-GO), 14 receberam o benefício autorizado pela chefe-de-gabinete. A assessoria do senador disse que, como vários funcionários estavam de férias no período, os que ficaram dobraram suas atividades.


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