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Capitalismo de FHC é de museu, diz sociólogo
Ex-presidente acerta ao apontar riscos do corporativismo sob Lula, mas omite seu governo, avalia Francisco de Oliveira
Para o economista Carlos Lessa, diferentemente do apontado por FHC, problema não é o tamanho do Estado, mas pouca transparência
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
O ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso acerta ao
afirmar que o "capitalismo corporativo" traz riscos aos direitos individuais, mas omite a
atuação de seu governo em favor de empresas e erra ao concluir que o debate é entre esse
modelo ou o "capitalismo de
competição", disseram dois sociólogos de esquerda, sem vínculos atuais com o PT.
"Ele fala mais como político
do que como sociólogo, porque
sabe que a figura do capitalismo competitivo é de museu, se
é que já existiu algum dia", disse Francisco de Oliveira, ao comentar a palestra feita pelo tucano no Rio, na segunda, noticiada ontem pela Folha.
Ex-colega de FHC no Cebrap
(Centro Brasileiro de Análise e
Planejamento), Oliveira diz
que o capitalismo nasceu "sob
forte intervenção estatal" em
países hoje desenvolvidos que
tiveram industrialização tardia, como Alemanha e Japão.
Sobre a tese de FHC de que é
preciso resgatar o liberalismo
para que o Estado forte não
"mate o indivíduo", o professor
aposentado da USP diz que essa é uma "competição" perdida
no mundo: "Fazer a equivalência entre Estado e nação, e colocar seus interesses, embora
difusos, acima dos interesses
individuais, é a regra geral".
Já em 2003, no ensaio "O Ornitorrinco", Oliveira falava de
uma "nova classe social" formada pela elite sindical atrelada ao Estado -exemplo de corporativismo citado por FHC.
Mas o sociólogo avalia que tanto o tucano quanto o presidente Lula optaram por "apostar
mais no capitalismo do que em
medidas de socialização".
Enquanto o primeiro usou os
fundos de pensão das estatais
para influir no resultado das
privatizações, o segundo, ao favorecer a fusão de empresas,
promove uma "centralização
de capitais de uma forma que o
Brasil jamais viu".
"Isso retira qualquer possibilidade de poder real dos trabalhadores", disse.
Luiz Werneck Vianna, professor do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio)
que há tempos alerta para a
atuação das corporações sindicais e empresariais no governo
Lula, diz que compartilha das
"preocupações" expressas por
FHC, mas que a "disjuntiva"
não é entre capitalismo corporativo ou de competição.
"Essa contraposição é velha.
O horizonte é outro, é como democratizar a relação entre Estado e sociedade."
Segundo ele, ao capturar sindicatos e movimentos sociais
para a "malha estatal", o governo Lula tira sua autonomia e os
separa de suas bases. Ao mesmo tempo, altos interesses empresariais "estão instalados no
Estado, influenciam suas políticas e delas se beneficiam".
"O que sobra para os partidos
e para a política se tudo é feito
dentro de câmaras corporativas? O Legislativo e as instituições se deprimem. O que sobra
é a política dos grandes negócios e o assistencialismo."
O economista Carlos Lessa,
ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), diz
que, ao contrário do apontado
por FHC, o problema não é o
tamanho do Estado, mas sua
pouca transparência -mantida
pelo tucano e por Lula.
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