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São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 2003

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OPERAÇÃO SOCIAL

Petistas reclamam "preferência" nas ações do programa

PT critica, mas não participa do Fome Zero, diz Graziano

JULIA DUAILIBI
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

Ao rebater críticas de petistas sobre o Fome Zero, o ministro da Segurança Alimentar, José Graziano, disse ontem que o PT coloca muito a "boca no trombone" e quer "um certo privilégio" na execução do programa e contestou ainda a mobilização dos militantes na aplicação do plano.
Graziano participou ontem de encontro fechado com 41 representantes de diretórios estaduais do PT. Na reunião, os petistas cobraram do ministro uma maior participação do partido na implementação das políticas de combate à fome. Alegando que eram do PT, eles pediram "preferência" na divulgação da agenda e ações do programa e uma melhor coordenação em sua comunicação.
Ao rebater as declarações, Graziano criticou os petistas. "O PT tem essa história, qualquer um bota a boca no trombone. Mas quase ninguém está organizando [o programa nas cidades]. Se eu fosse falar isso, dava um bom artigo na Folha de S. Paulo", disse.
Segundo o ministro, poucos petistas leram o Fome Zero, ajudaram na montagem de estruturas nos Estados e municípios ou organizaram comitês gestores.
Graziano tem sido criticado no próprio PT pela condução do principal programa social do governo. O presidente Lula disse, em discurso na segunda-feira, que a área social havia dado alguns "tropeços" iniciais. Anteontem, foi a vez do próprio ministro, em reunião com parlamentares, usar a expressão do presidente ao avaliar o programa que idealizou.
Graziano foi duro ao responder para os militantes qual seria o critério de escolha das cidades em que o Fome Zero será aplicado. "Não me encham com essa história de por que começou por A ou B", disse. "Vamos atender a todos", completou o ministro.
Das 179 cidades que serão atendidas a partir de maio, 25% têm prefeitos do PFL, e 24%, do PMDB. Nenhuma é do PT.
O deputado Odair José da Cunha (MG) chegou a dizer que o governador tucano Aécio Neves (MG) quer ser o "pai da criança [Fome Zero]". Outros juntaram-se às reivindicações, dizendo que adversários políticos estão "lucrando" com o programa.
No debate, Graziano esquivou-se dos militantes ao dizer que o governo não era do PT, e sim do Brasil, e que por isso não poderia privilegiar o partido. Houve manifestações contra a declaração na platéia. Na saída do evento, o ministro comentou baixinho com o deputado: "Você sabe que o nosso pessoal quer um certo privilégio".
Graziano disse que o ministério não seguiria IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano), critério que foi adotado por programas sociais no governo FHC, e novamente citou a Folha. "O IDH é uma concepção focalizada. Não vamos focalizar, por mais que a Folha bata em mim. Não vamos organizar do mais pobre para o menos pobre". Para o programa, foram escolhidas famílias pobres do semi-árido nordestino.
Graziano criticou a articulação do Fome Zero pelo PT nos Estados e cidades. "Ajudem-me a fazer o que o PT sempre fez. Não é porque ganhamos a eleição que vamos fazer o que o PFL faz."


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