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CHOQUE ENTRE PODERES
Relatores divergem sobre como deve ser implantado o controle sobre o Judiciário e outros temas
Lentidão judicial é consenso em comissão
DENISE MADUEÑO
da Sucursal de Brasília
O relator-geral
da reforma do
Judiciário na
Câmara, deputado Aloysio
Nunes Ferreira
(PSDB-SP), e os
seis relatores-adjuntos têm um diagnóstico comum sobre o principal problema
da Justiça: a lentidão. Mas divergem quanto à solução.
Concordam com a necessidade,
por exemplo, da implantação de
um sistema de controle do Poder
Judiciário. Entretanto o modelo
desse sistema é diferente na cabeça
de cada um.
Nos próximos dias, a comissão
começa a colher opiniões para tentar chegar a um texto com o mínimo de consenso.
A comissão vai realizar audiências públicas para ouvir, pelo menos, 18 convidados.
A comissão deverá concluir seus
trabalhos na primeira semana de
junho, quando se encerra o prazo
de 40 sessões ordinárias.
Os relatórios parciais dos seis
sub-relatores deverão ser entregues ao relator-geral até o dia 11 de
maio.
A comissão vai trabalhar também às sextas-feiras pela manhã
para cumprir o calendário. "O prazo é apertado, mas deve dar", calcula Nunes Ferreira.
A Folha ouviu os seis sub-relatores e o relator-geral para saber o
que pensam sobre a reforma do Judiciário. A seguir, um resumo de
suas idéias:
²
Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), relator da comissão da reforma do Judiciário - "As questões
centrais são: o recurso extraordinário, que poderia inviabilizar a
Justiça, o controle do Judiciário, os
juízes classistas e o princípio eletivo dos membros dos tribunais superiores. Não podemos fugir dessas questões.
A comissão vai ouvir os diversos
setores da sociedade. Vamos também ouvir propostas de setores
que costumam ter idéias heterodoxas e soluções inovadoras, como a
Associação de Juízes para a Democracia e o Instituto de Advogados.
A crise do Judiciário não se esgota com as soluções de estrutura. As
leis processuais que forem sugeridas durante os trabalhos serão encaminhadas à CCJ (Comissão de
Constituição e Justiça), que criará
uma comissão para elaborar o texto das leis."
Marcelo Déda (PT-SE), sub-relator de controle externo e fiscalização - "O conselho deverá ser
composto por membros da magistratura, sem maioria, no entanto.
Por advogados, por membros do
Ministério Público e por representantes da sociedade civil, como representantes de escolas de direito e
personalidades jurídicas, por
exemplo.
A escolha será feita pelo Congresso, que não poderá indicar políticos ou membros de outros Poderes. Não haverá possibilidade de
interferência nas sentenças e nas
decisões judiciárias, que continuam sendo uma prerrogativa intocável do Poder Judiciário.
Além da competência disciplinar, o conselho deverá ter capacidade para planejar a aplicação dos
recursos e poderes para dirigir os
investimentos. Por exemplo, utilizar os recursos para aumentar a
oferta de juízes no país, em vez de
construir prédios.
Deverá haver regras para disciplinar o repasse dos recursos públicos para o Judiciário e normas
para a prestação de contas, tanto
da aplicação de recursos quanto do
serviço do Judiciário.
O conselho externo ou o Legislativo têm de tomar conhecimento
de quantos processos tramitaram
e quantas sentenças foram proferidas."
Renato Vianna (PMDB-SC),
sub-relator de estrutura e competência do STF e da Justiça Federal
- "O povo quer celeridade (rapidez) e custo acessível da Justiça.
Devemos delimitar a competência
constitucional do STF (Supremo
Tribunal Federal) e dar mais atribuições ao STJ (Superior Tribunal
de Justiça).
Tentar pulverizar e eliminar recursos protelatórios. Informações
preliminares mostram que, de janeiro até agora, entraram 3.400
processos no Supremo. São 34 mil
processos para 11 ministros. Isso é
um absurdo.
Alguns aspectos devem permanecer com o Supremo. A competência, por exemplo, para processar o presidente da República."
Luiz Antonio Fleury Filho
(PTB-SP), sub-relator de súmula
vinculante - "Busca-se tornar a
Justiça ágil. Definida a súmula pelo
Supremo, os juízes terão de seguir
as decisões da instância superior.
Se for assim, não vai precisar de
juiz. Vou analisar mais para ver se
a instituição da súmula vinculante
vai agilizar a Justiça.
Temos de fazer uma reforma para atender o cidadão. Teremos de
responder, por exemplo, o que o
cidadão que pisa em um buraco na
calçada e quebra a perna deve fazer
para chegar à Justiça e enfrentar a
máquina da prefeitura responsável
pelo buraco aberto."
José Roberto Batochio (PDT-SP), sub-relator de acesso à Justiça e direito à sentença - "O que se
ouve falar é que a Justiça é lerda,
ineficiente, antiquada e obsoleta.
Não há uma fórmula mágica para
acabar com a morosidade. O princípio dos recursos é um direito natural. Quem perde uma demanda
tem direito de recorrer. Não é cortando recursos que vamos agilizar
a Justiça. Temos de trabalhar com
o limite de não violar os direitos
processuais dos cidadãos.
Devemos aumentar o número de
juízes na base da pirâmide, nas instâncias inferiores. Devemos deixar
a Justiça do tamanho da necessidade do povo brasileiro. Temos de fazer a Justiça andar."
Ibrahim Abi-Ackel (PPB-MG),
sub-relator de direitos, garantias
e disciplina dos magistrados, tribunais e juízes estaduais - "É preciso não depositar esperanças demasiadas na comissão, porque a
simples modificação do texto
constitucional não repercute diretamente no andamento dos processos. Isso depende de mudanças
nos códigos de processo, por leis
ordinárias, que terão se ser elaboradas depois de modificado o texto
constitucional.
Vamos provavelmente alterar a
composição dos tribunais, estabelecer regras obrigatórias de fiscalização do Poder Judiciário, com
prestação de contas ao Congresso
Nacional. Nós desejamos ser tão
rápidos quanto nos seja possível,
mas não poderá haver açodamento. Deve-se admitir a necessidade
de prorrogação do prazo da comissão."
Nair Xavier Lôbo (PMDB-GO),
sub-relatora de Justiças especializadas (Trabalho, Eleitoral, Militar etc.) - Pretendemos tornar a
Justiça do Trabalho mais ágil e eficiente. Uma proposta seria avançar para o modelo do juizado de
pequenas causas, que funciona
bem. Não tenho pensamento formado agora. Seria temerário qualquer afirmação."
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