LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo, se encontrou ontem com o papa Bento 16 em uma visita recheada de simbolismos que remetem à esquerda católica.
O cardeal é uma das figuras mais importantes do catolicismo brasileiro, especialmente aquele identificado com a defesa dos direitos humanos. Já se envolveu em polêmicas com o então cardeal Joseph Ratzinger. Nos anos 80, foi a Roma defender o teólogo Leonardo Boff, que teve obras condenadas pela Igreja Católica a partir de análises do atual papa.
D. Paulo entregou a Bento 16 uma carta do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), organização católica que apóia os povos indígenas. O texto cita a "falta de terra para viver" dos índios, "as múltiplas formas de violência por parte dos invasores", os casos de suicídio entre os índios, a mortalidade infantil, a desnutrição e "a dificuldade [das comunidades indígenas] em serem escutadas e terem seus direitos respeitados pelo Estado e pela sociedade".
O cardeal estava com sua irmã, Zilda Arns, coordenadora da Pastoral da Criança, d. Pedro Luiz Stringhini, bispo auxiliar de SP, e a freira Devani, que cuida da casa onde d. Paulo vive.
A conversa com o papa foi em alemão. O brasileiro entregou ao Bento 16 um livro de sua autoria ("Segredos do Coração") e uma série de obras sobre a vida de d. Hélder Câmara, morto em 1999 e também expoente do catolicismo engajado e da luta contra o regime militar.
Zilda falou sobre a Pastoral da Criança. Segundo d. Pedro, o "papa foi muito afável e gentil" e, ao fim do encontro, trocou "fortes abraços" com d. Paulo.
D. Paulo foi o único bispo brasileiro sem cargo em organização da igreja que o papa recebeu individualmente. O encontro foi fechado à imprensa.

Amazônia
Segundo d. Odilo Scherer, arcebispo de SP, o papa perguntou sobre o desmatamento da Amazônia e a situação dos católicos da região durante almoço com a presidência da CNBB no mosteiro de São Bento.


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