São Paulo, sexta-feira, 11 de maio de 2007

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A visita do papa

Bento 16 defende a castidade e condena a devastação ambiental

Antes da chegada do papa, o clima era de festa gospel, com bandas católicas animando a platéia com rock, axé e funk

Alinhado à CNBB, Bento 16 diz que desmatamento da Amazônia requer "maior compromisso nos mais diversos espaços de ação"


Marlene Bergamo/Folha Imagem
Ladeado por d. Odilo Scherer (esq.), arcebispo de São Paulo, e pelo cardeal Tarcisio Bertone (dir.), o papa Bento 16 acompanha um espetáculo de danças típicas brasileiras no estádio do Pacaembu

MARIO CESAR CARVALHO
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Bento 16 foi recebido em um encontro com jovens em São Paulo como se fosse o líder de uma cruzada contra o aborto. Os 40 mil jovens que, segundo o Exército, lotaram as arquibancadas do estádio do Pacaembu e menos da metade do gramado gritaram três vezes seguidas pouco antes da chegada do papa: "Sim à vida, não ao aborto".
Bento 16 defendeu em seu discurso quase que exclusivamente questões morais, com ênfase na castidade, no casamento e na família.
"Deus vos chama a respeitar-vos também no namoro e no noivado, pois a vida conjugal que, por disposição divina, está destinada aos casados é somente fonte de felicidade e de paz na medida em que souberdes fazer da castidade, dentro e fora do matrimônio, um baluarte das vossas esperanças futuras", pregou ele.
Esse momento de defesa da castidade foi aplaudido pelos presentes ao estádio.
Em um único momento o papa fugiu de questões estritamente morais e religiosas. Ele condenou o desmatamento da Amazônia, tema da campanha da fraternidade da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
"A devastação ambiental da Amazônia e as ameaças à dignidade humana de suas populações requerem um maior compromisso nos mais diversos espaços de ação que a sociedade vem solicitando", disse o papa, logo após citar um trecho ufanista do hino nacional ("Nossos bosques têm mais vida").
O padre Zezinho, um dos mais tradicionais padres cantores, fez uma espécie de ponte entre a defesa da vida e a condenação ao desmatamento da Amazônia.
"Somos cristãos, católicos e defendemos a vida desde a concepção até o seu último dia nesta Terra", disse. Em seguida, cantou uma paródia cristã de "É Proibido Proibir", de Caetano Veloso. "Amazônia, é proibido queimar; Amazônia, é proibido matar", dizia o refrão.
O discurso ecológico tinha viés cristão. A música defendia o "verde que o Senhor criou".

Volta olímpica
Bento 16 chegou ao estádio do Pacaembu, na zona oeste da capital, às 18h15. Jovens de todo o Brasil e de países da América Latina, como o Paraguai, o Peru e a Argentina, formavam uma platéia bem-comportada, mas que acenava com entusiasmo enquanto o papamóvel dava a volta olímpica no estádio.
O acesso ao estádio era restrito a jovens escolhidos previamente pela igreja. Com as luzes do estádio apagadas, o público acendia lanternas para demonstrar entusiasmo.
O encontro dos jovens colocou no palco algumas atrações que Bento 16 menospreza, como padres cantores. Antes da chegada do pontífice, o clima era de festa gospel, lembrando os eventos dos evangélicos pentecostais. Bandas católicas tentavam animar a platéia com rock, axé e funk.
Bento 16 condenou de forma clara a busca da riqueza. "Tenham em conta que a ambição desmedida de riqueza e de poder leva à corrupção pessoal e alheia; não existem motivos para fazer prevalecer as próprias aspirações humanas, sejam elas econômicas ou políticas, com a fraude e o engano".
O líder católico defendeu a família como "um foco irradiador de paz e alegria".
Bento 16 citou uma passagem da Bíblia, do texto de São Mateus, para falar sobre o que espera dos jovens católicos.
No Evangelho de Mateus, um jovem rico corre ansioso e diz ao Cristo: "O que fazer para alcançar a vida eterna?"
Essa pergunta é "crucial", na visão do pontífice, porque traz embutido o mais profundo dos questionamentos, a respeito do sentido da vida: "Que devo fazer para que minha vida tenha sentido?"
Citando Cristo ("Se queres entrar na vida, observa os mandamentos"), o papa disse que "o único caminho para a felicidade" é a obediência aos dez mandamentos.
A mensagem mais social da noite veio de jovens que saudaram o papa. Marina, uma estudante de 17 anos de Santos (SP), defendeu que a Igreja Católica dê abrigo em suas escolas para os jovens que estão fora do sistema educacional. Alessandro, um seminarista que é agente da Pastoral Carcerária, criticou a forma como o sistema prisional trata os jovens: "Nossos jovens são jogados em prisões que são verdadeiros depósitos de seres humanos".


Leia o discurso do papa


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