|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
A visita do papa
Bento 16 defende a castidade e condena a devastação ambiental
Antes da chegada do papa, o clima era de festa gospel, com bandas católicas animando a platéia com rock, axé e funk
Alinhado à CNBB, Bento 16 diz que desmatamento da Amazônia requer "maior compromisso nos mais diversos espaços de ação"
Marlene Bergamo/Folha Imagem
|
|
Ladeado por d. Odilo Scherer (esq.), arcebispo de São Paulo, e pelo cardeal Tarcisio Bertone (dir.), o papa Bento 16 acompanha um espetáculo de danças típicas brasileiras no estádio do Pacaembu
MARIO CESAR CARVALHO
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Bento 16 foi recebido em um
encontro com jovens em São
Paulo como se fosse o líder de
uma cruzada contra o aborto.
Os 40 mil jovens que, segundo o
Exército, lotaram as arquibancadas do estádio do Pacaembu
e menos da metade do gramado
gritaram três vezes seguidas
pouco antes da chegada do papa: "Sim à vida, não ao aborto".
Bento 16 defendeu em seu
discurso quase que exclusivamente questões morais, com
ênfase na castidade, no casamento e na família.
"Deus vos chama a respeitar-vos também no namoro e no
noivado, pois a vida conjugal
que, por disposição divina, está
destinada aos casados é somente fonte de felicidade e de paz
na medida em que souberdes
fazer da castidade, dentro e fora
do matrimônio, um baluarte
das vossas esperanças futuras",
pregou ele.
Esse momento de defesa da
castidade foi aplaudido pelos
presentes ao estádio.
Em um único momento o papa fugiu de questões estritamente morais e religiosas. Ele
condenou o desmatamento da
Amazônia, tema da campanha
da fraternidade da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil).
"A devastação ambiental da
Amazônia e as ameaças à dignidade humana de suas populações requerem um maior compromisso nos mais diversos espaços de ação que a sociedade
vem solicitando", disse o papa,
logo após citar um trecho ufanista do hino nacional ("Nossos
bosques têm mais vida").
O padre Zezinho, um dos
mais tradicionais padres cantores, fez uma espécie de ponte
entre a defesa da vida e a condenação ao desmatamento da
Amazônia.
"Somos cristãos, católicos e
defendemos a vida desde a concepção até o seu último dia nesta Terra", disse. Em seguida,
cantou uma paródia cristã de
"É Proibido Proibir", de Caetano Veloso. "Amazônia, é proibido queimar; Amazônia, é proibido matar", dizia o refrão.
O discurso ecológico tinha
viés cristão. A música defendia
o "verde que o Senhor criou".
Volta olímpica
Bento 16 chegou ao estádio
do Pacaembu, na zona oeste da
capital, às 18h15. Jovens de todo o Brasil e de países da América Latina, como o Paraguai, o
Peru e a Argentina, formavam
uma platéia bem-comportada,
mas que acenava com entusiasmo enquanto o papamóvel dava a volta olímpica no estádio.
O acesso ao estádio era restrito a jovens escolhidos previamente pela igreja. Com as
luzes do estádio apagadas, o público acendia lanternas para
demonstrar entusiasmo.
O encontro dos jovens colocou no palco algumas atrações
que Bento 16 menospreza, como padres cantores. Antes da
chegada do pontífice, o clima
era de festa gospel, lembrando
os eventos dos evangélicos pentecostais. Bandas católicas tentavam animar a platéia com
rock, axé e funk.
Bento 16 condenou de forma
clara a busca da riqueza. "Tenham em conta que a ambição
desmedida de riqueza e de poder leva à corrupção pessoal e
alheia; não existem motivos para fazer prevalecer as próprias
aspirações humanas, sejam
elas econômicas ou políticas,
com a fraude e o engano".
O líder católico defendeu a
família como "um foco irradiador de paz e alegria".
Bento 16 citou uma passagem da Bíblia, do texto de São
Mateus, para falar sobre o que
espera dos jovens católicos.
No Evangelho de Mateus, um
jovem rico corre ansioso e diz
ao Cristo: "O que fazer para alcançar a vida eterna?"
Essa pergunta é "crucial", na
visão do pontífice, porque traz
embutido o mais profundo dos
questionamentos, a respeito do
sentido da vida: "Que devo fazer para que minha vida tenha
sentido?"
Citando Cristo ("Se queres
entrar na vida, observa os mandamentos"), o papa disse que "o
único caminho para a felicidade" é a obediência aos dez mandamentos.
A mensagem mais social da
noite veio de jovens que saudaram o papa. Marina, uma estudante de 17 anos de Santos (SP),
defendeu que a Igreja Católica
dê abrigo em suas escolas para
os jovens que estão fora do sistema educacional. Alessandro,
um seminarista que é agente da
Pastoral Carcerária, criticou a
forma como o sistema prisional
trata os jovens: "Nossos jovens
são jogados em prisões que são
verdadeiros depósitos de seres
humanos".
Leia o discurso do papa
Texto Anterior: Foco: Comércio no centro de São Paulo registra queda nas vendas de até 70% Próximo Texto: Casamento: Teólogo afirma que ser casto significa ser fiel Índice
|