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Comissão da Verdade terá 2 anos de duração
Órgão para investigar violações de direitos humanos na ditadura não deve ter prazo de atuação prorrogado
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um dos pontos polêmicos do
Programa Nacional de Direitos
Humanos, a Comissão Nacional da Verdade funcionará por
dois anos, sem possibilidade de
prorrogação, e obrigará militares e servidores civis a colaborar com a apuração.
A comissão terá como objetivo investigar tanto os agentes
de Estado como os militantes
de esquerda atuantes durante a
ditadura militar, assim como
responsáveis por violações praticadas entre 1946 e 1988.
"É dever dos servidores públicos civis e militares colaborar com a Comissão Nacional
da Verdade", diz um dos artigos
do projeto de lei que define a
sua criação. O texto foi entregue ao presidente Lula na última quarta e deverá ser enviado
ao Congresso nesta semana.
Na prática, esse artigo define
que servidores públicos civis e
militares poderão ser convocados a depor e serão obrigados a
disponibilizar aquilo que for requisitado pela comissão.
O projeto passará pela avaliação de deputados e senadores e,
a seguir, pela análise de sanção
ou vetos do Planalto. Se criada
nos moldes do projeto de lei, a
comissão será composta por sete integrantes escolhidos pelo
presidente da República.
Não há previsão de cotas por
ministérios ou por visão ideológica. O texto diz apenas que devem ser "brasileiros de reconhecida idoneidade e conduta
ética, identificados pela defesa
da democracia, institucionalidade constitucional e respeito
aos direitos humanos".
Os sete escolhidos terão um
salário de R$ 11.179, como
adiantou o Painel da Folha no
sábado. Também serão designadas outras 14 pessoas para
cargos auxiliares, com remunerações que variam de R$ 4.000
a R$ 9.000. O custo mensal da
comissão, só em salários, ficará
em R$ 167,8 mil. Todos terão
direito a passagens aéreas e
diárias pagas pelo governo.
O objetivo da comissão é
"examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas no período de
1946 a 1988". O foco é investigar os crimes cometidos na ditadura militar (1964-1985).
O texto não cita a expressão
"repressão política", repetida
12 vezes no programa de direitos humanos lançado em 2009
e que gerou crise no governo.
A expressão "repressão política" remetia à apuração dos
excessos cometidos apenas pelos agentes de Estado, como os
torturadores, o que desagradou
o ministro da Defesa, Nelson
Jobim, e os comandantes militares. Com tal omissão, o alvo
da comissão fica genérico,
abrindo a brecha para que tanto o Estado como a esquerda
armada sejam investigados.
Por conta da recente decisão
do Supremo Tribunal Federal,
que manteve o entendimento
de que a Lei da Anistia foi ampla, geral e irrestrita, a comissão não terá poder de punir.
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