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TENSÃO NO CAMPO
São 106 ações de sem-terra, contra 103 no último ano de FHC; para MST, quadro revela "demanda reprimida"
Sob Lula, invasões já superam as de 2002
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA
O total de 103 invasões de terra
registradas em todo o ano passado, o último de Fernando Henrique Cardoso na Presidência, já foi
superado nos primeiros 160 dias
do governo de Luiz Inácio Lula da
Silva. A maioria das ações ocorreu
em Pernambuco (22), no Paraná
(18) e em São Paulo (13).
Oficialmente, a Ouvidoria Agrária Nacional fala em 103 invasões,
segundo levantamento concluído
na quinta passada. Após isso, porém, houve pelo menos outras
três ações pelo país -na Paraíba,
no Paraná e em São Paulo.
Levando-se em conta apenas os
dados do governo federal, de 103
invasões, os números deste ano
superam todos os registrados desde a edição da medida provisória
antiinvasão, em maio de 2000. A
MP, que na prática ainda não foi
cumprida pelo atual governo,
proíbe por dois anos as avaliações
e vistorias em terras invadidas e
exclui do programa de reforma
agrária os assentados que participarem de invasões.
Entre janeiro e maio deste ano,
foram registradas 96 invasões, um
avanço de 17% em relação ao
mesmo períodos de 2001 e de 57%
em relação ao mesmo período de
2002. Nos cinco primeiros meses
de 2000, quando ainda não existia
o obstáculo da MP, foram registradas 159 invasões.
Como um reflexo do avanço das
invasões, o ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva Filho,
em entrevista recente à Agência
Folha, afirmou que "nunca havia
presenciado em todo o país um
clima de tensão como o atual". O
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), responsável pela maioria das ações, tem
repetido o esgotamento de sua
"paciência" com o governo Lula.
Questionado sobre os números
das invasões, João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do
MST, disse: "Agora eu é que faço a
pergunta. Quantas famílias foram
oficialmente assentadas neste
ano? Pois é, nenhuma. Está aí a
justificativa. A minha resposta é
uma pergunta".
Expectativa reprimida
Para Jaime Amorim, da direção
nacional do movimento, o fato de
os trabalhadores rurais terem
criado uma expectativa muito
grande em relação à reforma
agrária com a vitória de Lula nas
eleições do ano passado "pode ser
uma das causas" do avanço das
invasões. "Há uma ansiedade,
uma demanda muito reprimida."
O Ministério do Desenvolvimento Agrário não comentou o
avanço da quantidade de invasões
a imóveis rurais. Até então escalado pelo governo federal para falar
com a imprensa sobre os conflitos
no campo, o ouvidor agrário nacional desta vez foi impedido pelo
ministério de comentar esse caso.
A assessoria negou haver impedimento do ouvidor e informou
que "alguém do ministério" seria
indicado para falar, o que não havia ocorrido até as 19h de ontem.
A quantidade de ações e os focos de tensão estão relacionados.
Com 22 invasões e o Estado com o
maior número de famílias acampadas (22 mil), Pernambuco foi
palco da ação mais violenta do
MST neste ano. Em maio, sem-terra invadiram o engenho Prado,
em Tracunhaém (64 km de Recife), e o incendiaram. Na sequência, com 18 invasões, vem o Paraná, onde fazendeiros criaram o
PCR (Primeiro Comando Rural),
nome inspirado na facção criminosa paulista PCC (Primeiro Comando da Capital).
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