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São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 2003

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TENSÃO NO CAMPO

São 106 ações de sem-terra, contra 103 no último ano de FHC; para MST, quadro revela "demanda reprimida"

Sob Lula, invasões já superam as de 2002

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

O total de 103 invasões de terra registradas em todo o ano passado, o último de Fernando Henrique Cardoso na Presidência, já foi superado nos primeiros 160 dias do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A maioria das ações ocorreu em Pernambuco (22), no Paraná (18) e em São Paulo (13).
Oficialmente, a Ouvidoria Agrária Nacional fala em 103 invasões, segundo levantamento concluído na quinta passada. Após isso, porém, houve pelo menos outras três ações pelo país -na Paraíba, no Paraná e em São Paulo.
Levando-se em conta apenas os dados do governo federal, de 103 invasões, os números deste ano superam todos os registrados desde a edição da medida provisória antiinvasão, em maio de 2000. A MP, que na prática ainda não foi cumprida pelo atual governo, proíbe por dois anos as avaliações e vistorias em terras invadidas e exclui do programa de reforma agrária os assentados que participarem de invasões.
Entre janeiro e maio deste ano, foram registradas 96 invasões, um avanço de 17% em relação ao mesmo períodos de 2001 e de 57% em relação ao mesmo período de 2002. Nos cinco primeiros meses de 2000, quando ainda não existia o obstáculo da MP, foram registradas 159 invasões.
Como um reflexo do avanço das invasões, o ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva Filho, em entrevista recente à Agência Folha, afirmou que "nunca havia presenciado em todo o país um clima de tensão como o atual". O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), responsável pela maioria das ações, tem repetido o esgotamento de sua "paciência" com o governo Lula.
Questionado sobre os números das invasões, João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST, disse: "Agora eu é que faço a pergunta. Quantas famílias foram oficialmente assentadas neste ano? Pois é, nenhuma. Está aí a justificativa. A minha resposta é uma pergunta".

Expectativa reprimida
Para Jaime Amorim, da direção nacional do movimento, o fato de os trabalhadores rurais terem criado uma expectativa muito grande em relação à reforma agrária com a vitória de Lula nas eleições do ano passado "pode ser uma das causas" do avanço das invasões. "Há uma ansiedade, uma demanda muito reprimida."
O Ministério do Desenvolvimento Agrário não comentou o avanço da quantidade de invasões a imóveis rurais. Até então escalado pelo governo federal para falar com a imprensa sobre os conflitos no campo, o ouvidor agrário nacional desta vez foi impedido pelo ministério de comentar esse caso.
A assessoria negou haver impedimento do ouvidor e informou que "alguém do ministério" seria indicado para falar, o que não havia ocorrido até as 19h de ontem.
A quantidade de ações e os focos de tensão estão relacionados. Com 22 invasões e o Estado com o maior número de famílias acampadas (22 mil), Pernambuco foi palco da ação mais violenta do MST neste ano. Em maio, sem-terra invadiram o engenho Prado, em Tracunhaém (64 km de Recife), e o incendiaram. Na sequência, com 18 invasões, vem o Paraná, onde fazendeiros criaram o PCR (Primeiro Comando Rural), nome inspirado na facção criminosa paulista PCC (Primeiro Comando da Capital).


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