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Nomeações por ato secreto abrem nova crise no Senado
Comissão interna encontra 280 atos que não foram publicados no boletim da Casa
Decisões secretas incluem a demissão de neto de Sarney de gabinete de senador do PTB, após edição de súmula do STF contra o nepotismo
Lula Marques/Folha imagem
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Os senadores José Sarney (PMDB-AP) e Epitácio Cafeteira (PTB-MA) no plenário da Casa
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O primeiro-secretário do Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI), disse que uma comissão interna já encontrou 280 atos administrativos que não foram
publicados no boletim administrativo da Casa. Por meio
desses atos secretos servidores
foram exonerados, outros ganharam cargos e gratificações.
Entre os documentos encontrados pela comissão está o de
exoneração do neto do presidente do Senado Federal, José
Sarney (PMDB-AP). João Fernando Sarney foi exonerado do
gabinete do senador Epitácio
Cafeteira (PTB-MA) em 2 de
outubro de 2008, mas o ato que
efetivou sua exoneração só foi
publicado no dia 16 de abril
deste ano. Com 22 anos, ele tinha o segundo maior salário do
gabinete, de R$ 7.600.
As informações sobre a
quantidade dos atos secretos e
sobre o neto de Sarney foram
divulgadas pelo jornal "O Estado de S. Paulo". Segundo o jornal, a exoneração ocorreu por
meio de um ato secreto para
não revelar que um parente não
concursado trabalhava na Casa
justamente quando o Congresso se via obrigado a cumprir a
súmula antinepotismo do STF
(Supremo Tribunal Federal).
Na época, a imprensa divulgou, com base em informações
publicadas no boletim do Senado, nomes de todos os senadores que demitiram parentes .
Sarney afirmou ontem à Folha que "sabia que seu neto trabalhava no gabinete de Cafeteira" antes de o STF determinar a
exoneração dos parentes. Segundo ele, foi o próprio Cafeteira quem o informou disso. "Não
pedi para ele contratá-lo."
Já Cafeteira afirmou que Sarney "não sabia" que o neto era
contratado no seu gabinete.
Sarney disse que não tinha
conhecimento da existência de
atos secretos e negou que tivesse interesse em esconder a exoneração do seu neto. Segundo
ele, a contratação de João Fernando foi publicada no dia 11 de
fevereiro de 2007, quando ele
começou a trabalhar na Casa.
"A única gravidade nesta história é que meu neto era funcionário do Senado", afirmou.
Segundo o "Estado", entre os
atos está a nomeação e a exoneração da mulher do deputado
Eliseu Padilha (PMDB-RS) e a
criação de cargos de confiança
da Diretoria Geral. Padilha não
foi localizado ontem.
A informação sobre os atos
secretos é mais um capítulo na
crise por que passa o Senado
desde o início da gestão Sarney.
Ele assumiu o cargo em fevereiro deste ano, quando vieram à
tona uma série de escândalos.
O mais recente envolveu o próprio Sarney. Ele pediu desculpas após a publicação da informação de que recebeu auxílio-moradia da Casa mesmo tendo
à sua disposição a residência
oficial do Senado. Ele chegou a
negar o que recebia o benefício.
As denúncias tornaram a situação de Sarney delicada ao
ponto de ele ter confidenciado
a interlocutores que se arrependeu de ter concorrido ao
cargo. Ontem, admitiu que passou por momento de tensão,
mas por causa da doença de sua
filha e não por problemas administrativos do Senado.
"Tive um período de grande
preocupação com minha filha."
No início do mês, Roseana Sarney, governadora do Maranhão, sofreu uma cirurgia para
a correção de um aneurisma.
Senadores cobraram no plenário uma resposta da Casa para os atos secretos. O líder do
PT, Aloizio Mercadante (SP),
defendeu a anulação de todos
eles. Heráclito, no entanto,
afirmou que, para que sejam
anulados, os atos, primeiro,
têm que ser publicados porque,
na prática, não existem. "Existem os atos e não são poucos."
A comissão analisa a existência de atos secretos de 1995 até
hoje. Diretor-geral do Senado
nos últimos 15 anos, Agaciel
Maia se eximiu de responsabilidade. Segundo ele, essa é uma
tarefa da secretaria de Recursos Humanos. O diretor de RH
na época, João Carlos Zoghbi,
não foi encontrado pela Folha.
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