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São Paulo, sexta-feira, 11 de julho de 2003

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Governistas e ala esquerda do PT invertem papéis

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

Parte dos deputados da ala governista do PT no Congresso iniciaram ontem uma rebelião contra o Palácio do Planalto sob o argumento de que foram deixados de lado no processo de negociação das possíveis alterações na reforma da Previdência.
Responsáveis em defender a reforma do governo na Câmara e conter os chamados radicais do partido, o grupo avaliou ainda que as mudanças negociadas com o Judiciário seriam prejudiciais aos servidores. "O governo abriu uma negociação que só favorece os melhores salários. Se o governo avalia que pode abrir mão de receita, que amplie o teto de isenção para a cobrança dos inativos de R$ 1.058 para R$ 2.400", disse o deputado Paulo Pimenta (RS).
"É só verificar as decisões do STF nos últimos 20 dias, quantas reintegrações de posse votaram, a proibição para veicular as propagandas das reformas na TV", disse o deputado Carlito Merss (SC), referindo-se a suposta retaliação do Judiciário -que o STF nega.
Pimenta e Merss compõem o grupo governista na bancada.
A situação ontem acabou invertendo os papéis. Governistas ameaçaram ir à tribuna do plenário criticar o possível acordo. Já as alas mais à esquerda elogiavam a proposta: "Vi aquela lista enorme de petistas inscritos para criticar o governo, então também me inscrevi, mas para defender o governo", disse, rindo, o deputado Lindberg Farias (RJ).
O PT enfrenta desde a posse do governo Lula um embate dentro de sua bancada no Congresso. Na Câmara, um grupo de cerca de 30 dos 93 deputados do partido são contrários à política econômica e as reformas. Há também um grupo que lidera a tropa de choque em defesa do governo.
Os governistas estão se sentindo desconfortáveis porque assumiram um discurso duro de defesa, inclusive cobrando punição aos dissidentes. No final, a avaliação é a de que os deputados à esquerda do PT saíram fortalecidos e eles ficaram apenas com o ônus por defender um projeto impopular entre os servidores, uma das principais bases de apoio do partido.
"Fomos surpreendidos. Não era uma coisa que estava sendo discutida com a bancada", disse a deputada Angela Guadagnin (SP), que testemunhou contra os radicais em processo disciplinar na Comissão de Ética do PT. Quatro parlamentares estão ameaçados de expulsão por se recusarem a votar a favor da proposta original.
Devido à possibilidade de alteração, o grupo esquerdista vai propor a revisão da punição.
"Será que somos menos importantes que os juízes? Se essa proposta alternativa vier a se consolidar, significa que afrouxaram em cima e eliminaram a possibilidade de aliviar em baixo para a massa dos servidores", afirma o deputado Durval Orlato (SP), um dos formuladores das nove emendas à reforma apresentadas pelo PT.
O líder da bancada, deputado Nelson Pellegrino (BA), afirmou que pode haver "uma recomposição" de forças dentro da bancada. Segundo ele, continua valendo a determinação de que a bancada seguirá a linha que a maioria decidir. (RANIER BRAGON e FERNANDA KRAKOVICS)


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