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Governistas e ala esquerda do PT invertem papéis
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
Parte dos deputados da ala governista do PT no Congresso iniciaram ontem uma rebelião contra o Palácio do Planalto sob o argumento de que foram deixados
de lado no processo de negociação das possíveis alterações na reforma da Previdência.
Responsáveis em defender a reforma do governo na Câmara e
conter os chamados radicais do
partido, o grupo avaliou ainda
que as mudanças negociadas com
o Judiciário seriam prejudiciais
aos servidores. "O governo abriu
uma negociação que só favorece
os melhores salários. Se o governo
avalia que pode abrir mão de receita, que amplie o teto de isenção
para a cobrança dos inativos de
R$ 1.058 para R$ 2.400", disse o
deputado Paulo Pimenta (RS).
"É só verificar as decisões do
STF nos últimos 20 dias, quantas
reintegrações de posse votaram, a
proibição para veicular as propagandas das reformas na TV", disse o deputado Carlito Merss (SC),
referindo-se a suposta retaliação
do Judiciário -que o STF nega.
Pimenta e Merss compõem o
grupo governista na bancada.
A situação ontem acabou invertendo os papéis. Governistas
ameaçaram ir à tribuna do plenário criticar o possível acordo. Já as
alas mais à esquerda elogiavam a
proposta: "Vi aquela lista enorme
de petistas inscritos para criticar o
governo, então também me inscrevi, mas para defender o governo", disse, rindo, o deputado
Lindberg Farias (RJ).
O PT enfrenta desde a posse do
governo Lula um embate dentro
de sua bancada no Congresso. Na
Câmara, um grupo de cerca de 30
dos 93 deputados do partido são
contrários à política econômica e
as reformas. Há também um grupo que lidera a tropa de choque
em defesa do governo.
Os governistas estão se sentindo
desconfortáveis porque assumiram um discurso duro de defesa,
inclusive cobrando punição aos
dissidentes. No final, a avaliação é
a de que os deputados à esquerda
do PT saíram fortalecidos e eles ficaram apenas com o ônus por defender um projeto impopular entre os servidores, uma das principais bases de apoio do partido.
"Fomos surpreendidos. Não era
uma coisa que estava sendo discutida com a bancada", disse a deputada Angela Guadagnin (SP),
que testemunhou contra os radicais em processo disciplinar na
Comissão de Ética do PT. Quatro
parlamentares estão ameaçados
de expulsão por se recusarem a
votar a favor da proposta original.
Devido à possibilidade de alteração, o grupo esquerdista vai
propor a revisão da punição.
"Será que somos menos importantes que os juízes? Se essa proposta alternativa vier a se consolidar, significa que afrouxaram em
cima e eliminaram a possibilidade
de aliviar em baixo para a massa
dos servidores", afirma o deputado Durval Orlato (SP), um dos
formuladores das nove emendas
à reforma apresentadas pelo PT.
O líder da bancada, deputado
Nelson Pellegrino (BA), afirmou
que pode haver "uma recomposição" de forças dentro da bancada.
Segundo ele, continua valendo a
determinação de que a bancada
seguirá a linha que a maioria decidir.
(RANIER BRAGON e FERNANDA KRAKOVICS)
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