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São Paulo, sexta-feira, 11 de julho de 2003

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GOVERNO E OPOSIÇÃO

Sobre a Alca, ex-presidente diz a jornal argentino que o petista "mudou muito de posição"

FHC ataca Lula e vê demagogia no Fome Zero

ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso voltou a atacar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Desta vez, chamou o programa Fome Zero de "demagógico" e disse que, até agora -após seis meses mandato-, a equipe de Lula "não descobriu o caminho certo" para avançar na questão social. "Espero que não destruam o que já foi feito", afirmou o ex-presidente.
As declarações foram dadas ao diário argentino "La Nación". FHC disse que o governo Lula deveria "avançar na universalização do acesso aos serviços públicos como saúde e educação" e focar suas ações nos bolsões de pobreza que estão espalhados pelo país.
"[Lula ganhou atenção mundial com o Fome Zero] porque [o assunto] tem gancho. É demagógico. Alertar para a fome é bom, mas alertar e não resolver é gravíssimo. Fome Zero é um slogan. Esse não é o problema... O governo tem de adotar políticas sociais mais competentes", afirmou.
A ortodoxia econômica também foi alvo de FHC. "Alguns setores do governo ainda pensam que há um plano B. Vão se sentir frustrados quando descobrirem que ele não existe", disse ao responder uma pergunta sobre quais seriam as alternativas no caso de o modelo econômico adotado pela equipe de Lula falhar.
No mês passado, às véspera de uma reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), FHC disse, em entrevista dada ao site do PSDB, que o BC "exagerou na dose" ao subir a taxa de juros, a Selic. "É preciso manter por tanto tempo as taxas tão altas? Será que é preciso um recolhimento compulsório tão elevado, [...] encolhendo ainda mais um crédito que já é escasso?", questionou.
O senhor se orgulha quando acusam Lula de dar continuidade ao seu governo?, perguntou o jornalista. FHC riu e respondeu: "Não me orgulha, mas é interessante. Me criticaram tanto".
Para FHC, a "herança maldita" da qual o governo do PT tanto reclama foi produzida pelo próprio partido. "Quando dizem "herança maldita" deveriam ver que parte desse "maldita" foi gerada pelas incertezas que causaram as ameaças do PT. Eu não acreditava que fariam algo heterodoxo, mas lá fora, sim", afirmou.

Alca e Política Externa
O ex-presidente disse que está surpreso com a postura de Lula em relação aos EUA e à Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e afirmou que, até o momento, a política externa conduzida pelo governo "é apenas verbal". "Lula mudou muito de posição sobre a Alca. Fui mais restritivo nesse assunto", afirmou.
FHC disse ainda que o interesse dos EUA na Alca também mudou. "Hoje é apenas cosmético. Em outras épocas houve mais interesse por parte dos EUA. [Agora] não sei até que ponto os EUA desejam avançar com as negociações", afirmou.
O sociólogo FHC disse não acreditar que Lula venha a enfrentar uma crise institucional, mas alertou para a crise política. "Mais adiante, talvez [possa ter] problemas eleitorais. A crise só surgirá se conduzir mal a economia ou se entrar em crise com o Congresso ou o Poder Judiciário".


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