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GOVERNO E OPOSIÇÃO
Sobre a Alca, ex-presidente diz a jornal argentino que o petista "mudou muito de posição"
FHC ataca Lula e vê demagogia no Fome Zero
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso voltou a atacar o
governo de Luiz Inácio Lula da
Silva. Desta vez, chamou o programa Fome Zero de "demagógico" e disse que, até agora -após
seis meses mandato-, a equipe
de Lula "não descobriu o caminho certo" para avançar na questão social. "Espero que não destruam o que já foi feito", afirmou
o ex-presidente.
As declarações foram dadas ao
diário argentino "La Nación".
FHC disse que o governo Lula deveria "avançar na universalização
do acesso aos serviços públicos
como saúde e educação" e focar
suas ações nos bolsões de pobreza
que estão espalhados pelo país.
"[Lula ganhou atenção mundial
com o Fome Zero] porque [o assunto] tem gancho. É demagógico. Alertar para a fome é bom,
mas alertar e não resolver é gravíssimo. Fome Zero é um slogan.
Esse não é o problema... O governo tem de adotar políticas sociais
mais competentes", afirmou.
A ortodoxia econômica também foi alvo de FHC. "Alguns setores do governo ainda pensam
que há um plano B. Vão se sentir
frustrados quando descobrirem
que ele não existe", disse ao responder uma pergunta sobre quais
seriam as alternativas no caso de o
modelo econômico adotado pela
equipe de Lula falhar.
No mês passado, às véspera de
uma reunião do Copom (Comitê
de Política Monetária do Banco
Central), FHC disse, em entrevista dada ao site do PSDB, que o BC
"exagerou na dose" ao subir a taxa de juros, a Selic. "É preciso
manter por tanto tempo as taxas
tão altas? Será que é preciso um
recolhimento compulsório tão
elevado, [...] encolhendo ainda
mais um crédito que já é escasso?", questionou.
O senhor se orgulha quando
acusam Lula de dar continuidade
ao seu governo?, perguntou o jornalista. FHC riu e respondeu:
"Não me orgulha, mas é interessante. Me criticaram tanto".
Para FHC, a "herança maldita"
da qual o governo do PT tanto reclama foi produzida pelo próprio
partido. "Quando dizem "herança
maldita" deveriam ver que parte
desse "maldita" foi gerada pelas incertezas que causaram as ameaças
do PT. Eu não acreditava que fariam algo heterodoxo, mas lá fora,
sim", afirmou.
Alca e Política Externa
O ex-presidente disse que está
surpreso com a postura de Lula
em relação aos EUA e à Alca (Área
de Livre Comércio das Américas)
e afirmou que, até o momento, a
política externa conduzida pelo
governo "é apenas verbal". "Lula
mudou muito de posição sobre a
Alca. Fui mais restritivo nesse assunto", afirmou.
FHC disse ainda que o interesse
dos EUA na Alca também mudou. "Hoje é apenas cosmético.
Em outras épocas houve mais interesse por parte dos EUA. [Agora] não sei até que ponto os EUA
desejam avançar com as negociações", afirmou.
O sociólogo FHC disse não acreditar que Lula venha a enfrentar
uma crise institucional, mas alertou para a crise política. "Mais
adiante, talvez [possa ter] problemas eleitorais. A crise só surgirá
se conduzir mal a economia ou se
entrar em crise com o Congresso
ou o Poder Judiciário".
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