São Paulo, domingo, 11 de julho de 2004

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ELEIÇÕES 2004/MARKETING

Eles atuam dispostos a esquecer o passado; ex-publicitário de Marta está com Maluf, e ex-colaborador de candidato do PP está com o PT

Badalados, marqueteiros dão tom à disputa

CHICO DE GOIS
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Eles são os responsáveis pela embalagem do candidato. Preparam o político com enfeites, cores de tons vivos, arrumam o sorriso e assopram as palavras certas que devem ser ditas nos momentos mais incertos. Para uns, eles não têm alma. Para outros, são a verdadeira alma do negócio.
Conhecidos como marqueteiros, os publicitários que vão tratar das campanhas dos quatro primeiros colocados nas pesquisas eleitorais para a Prefeitura de São Paulo destoam em estilo, mas identificam-se na forma de ação: partir para a defesa de seus clientes, nem que isso signifique atacar o que já defenderam no passado.
Marcelo Teixeira, 54, que até setembro passado era um dos responsáveis pela divulgação dos programas da Prefeitura de São Paulo, terá agora, como publicitário de Paulo Maluf (PP), a tarefa de bater nesses mesmos programas e na gestão petista.
"Sou profissional. E o que está em discussão não é a publicidade de Marta, mas o fato de a administração dela não ter sido aprovada pela população", disse Teixeira, que participou da campanha de Marta em 1998, quando ela perdeu o governo de São Paulo para Mário Covas, e em 2000, quando a petista ganhou de Maluf e chegou à prefeitura.
Teixeira pretende resgatar antigos projetos malufistas como o Cingapura e o PAS (Plano de Atendimento à Saúde) e irá repetir o bordão desta campanha: "O bom prefeito está voltando". De quebra, aproveitará para repetir que Maluf "não tem conta no exterior" e é o político injustamente mais investigado no país.
Mais conhecido publicamente, Duda Mendonça, que trabalhará na candidatura de Marta Suplicy (PT), fez o caminho inverso de Teixeira. Entre as realizações que transformaram Duda em sobrenome de marqueteiro estão a eleição de Maluf a prefeito, em 1992, com o slogan "Amo São Paulo, voto Maluf", e a de Celso Pitta, em 1996, com a proposta do Fura-Fila (ainda não concluído).
Como ajudou a eleger Maluf, Duda Mendonça também contribuiu para sua derrota ao criar a frase, lida pelo então prefeito no horário eleitoral, "vote no Pitta, e se ele não for um bom prefeito, nunca mais vote em mim".
Desde que transformou Luiz Inácio Lula da Silva no "Lulinha Paz e Amor", na corrida presidencial em 2002, tosando o "sapo barbudo" identificado pelo ex-governador Leonel Brizola, Duda passou a ser visto como petista de carteirinha.
Nesta campanha, criou os slogans "Marta faz bem-feito" e "Marta, uma mulher de coragem". Com isso, quer imprimir um caráter de tocadora de obras e transformar o adjetivo "arrogante" em "corajosa".

"Com qualidade"
A campanha de José Serra (PSDB) será feita pela agência Lua Branca Comunicação, criada neste ano a partir da GW Comunicação para se dedicar exclusivamente a marketing e assessoria políticos. O principal marqueteiro é o jornalista Luiz González, que trabalhou em diversas publicações e nas TVs Bandeirantes e Globo.
Avesso a badalações, González evita falar com a imprensa nem se permite fotografar. A GW mantém vários contratos com o governo do Estado de São Paulo.
Entre as campanhas tucanas que já realizou estão a de Mário Covas para governador, a de José Serra para o Senado (1994) e as de Geraldo Alckmin, para prefeito de São Paulo em 2000 e para governador em 2002. Também trabalhou para o prefeito Cassio Taniguchi (PFL-PR), em 1996 e 2000, e para Ulysses Guimarães na campanha presidencial de 1989.
Pelo PT, trabalhou apenas no segundo turno da campanha de Telma de Souza à Prefeitura de Santos, em 1996. Ela perdeu.
O programa de Serra vai tentar mostrar que o ex-ministro da Saúde administra "com qualidade" e procurará deixar claro que o candidato "gosta e conhece a cidade", ao contrário do que seus adversários espalham.
No comando da campanha de Luiza Erundina (PSB) a assessoria da candidata divulga que não haverá marqueteiro. A coordenação de comunicação será do jornalista Ivan Seixas, 49, quase um discípulo da candidata desde que ela foi eleita prefeita, em 1989. "A figura do marqueteiro não vai existir", diz Seixas. "Ela não precisa ser produzida porque não será vendida como um produto."
Desde 1989, Seixas acompanha Erundina em suas campanhas, mas sempre no papel de assessor. Ele diz que que a coordenação de comunicação estará ligada diretamente ao comando político da candidatura.
A propaganda do PSB deve realçar que Erundina "é a única prefeita da cidade". Para isso, vai dizer que Marta tem aspirações para 2006 (ela já negou), assim como Serra, e Maluf "tem problemas com a Justiça" (apesar de investigado por envio de dinheiro para o exterior, não tem condenação criminal e diz ser inocente das acusações).


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