São Paulo, quarta-feira, 11 de julho de 2007

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"Se quiserem a minha cadeira, vão ter que sujar as mãos", afirma senador

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na sessão mais tensa desde que surgiram as suspeitas que o ameaçam, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), rebateu ontem em plenário um pedido de afastamento dizendo que a oposição não conseguirá derrubá-lo com "cara feia" e que aqueles que estariam almejando sua "cadeira" terão que "sujar as mãos".
Em tom de confronto, Renan chegou a bater a mão na mesa: "Quem não quiser votar que se ausente do plenário ou diga que está em obstrução [manobra para derrubar sessões por falta de quórum]".
O resultado foi que PSDB e DEM se declararam em "obstrução", ou seja, não registraram a presença, e a sessão foi encerrada. Essa é a primeira vez desde o início da crise -em 25 de maio- que o plenário deixa de votar por causa das acusações contra Renan.
O confronto de ontem começou quando o líder da bancada do PSDB, Arthur Virgílio (AM), voltou a pedir que Renan se afaste do cargo.
"Se quiserem a minha cadeira, e se esse desejo for um desejo político, ocasional, oportunista, circunstancial, vão ter que sujar as mãos, vão ter que dizer ao Brasil e ao mundo por que é que estão tirando o presidente do Senado", reagiu Renan, em meio a batidas de mão na mesa. "Não vão me tirar da Presidência do Senado fazendo cara feia."
Renan se referiu ao Império Romano em sua defesa. Disse que "aquele que quiser ser Catão (...) vai ter que sujar as mãos, vai ter que colocar uma forca lá fora, ou uma fogueira, e pegar o presidente do Senado, inocente, sem nenhuma prova contra ele, e colocar para arder, para queimar". Ele se referia a Catão, "o censor", perseguidor daqueles que considerava infratores.
Ainda em sua resposta a Virgílio, Renan lembrou em tom irônico o apoio que tinha dos oposicionistas. "Os senhores terão em mim o presidente de sempre, aquele que os senhores estavam cansados de elogiar." Também disse que "é na adversidade que a alma cresce", e afirmou que, se "tiver culpa", a reconhecerá. Ele disse estar recebendo apoio popular e voltou a repetir o discurso de que não sabe do que está sendo acusado.
O presidente do Senado é investigado por suspeita de ter usado recursos de uma empreiteira para pagar contas pessoais.
Após a fala de Renan, PSDB e DEM imediatamente declararam que vão "obstruir" as sessões daqui em diante. "Ele agiu de maneira inopinada e intempestiva. Me sinto na obrigação de não deixar que ele passe por cima do Senado", disse Arthur Virgílio. "Estamos caminhando para mostrar que nessa Casa o que vale é a palavra do plenário", afirmou o líder do DEM, José Agripino (RN).
Após o final da sessão, Renan deu a entender que pode não presidir a sessão de hoje do Congresso para a votação da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias). Deputados ameaçam constrangê-lo na sessão.


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