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"Se quiserem a minha cadeira, vão ter que sujar as mãos", afirma senador
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na sessão mais tensa desde
que surgiram as suspeitas que
o ameaçam, o presidente do
Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), rebateu ontem
em plenário um pedido de
afastamento dizendo que a
oposição não conseguirá derrubá-lo com "cara feia" e que
aqueles que estariam almejando sua "cadeira" terão que
"sujar as mãos".
Em tom de confronto, Renan chegou a bater a mão na
mesa: "Quem não quiser votar
que se ausente do plenário ou
diga que está em obstrução
[manobra para derrubar sessões por falta de quórum]".
O resultado foi que PSDB e
DEM se declararam em "obstrução", ou seja, não registraram a presença, e a sessão foi
encerrada. Essa é a primeira
vez desde o início da crise
-em 25 de maio- que o plenário deixa de votar por causa
das acusações contra Renan.
O confronto de ontem começou quando o líder da bancada do PSDB, Arthur Virgílio
(AM), voltou a pedir que Renan se afaste do cargo.
"Se quiserem a minha cadeira, e se esse desejo for um
desejo político, ocasional,
oportunista, circunstancial,
vão ter que sujar as mãos, vão
ter que dizer ao Brasil e ao
mundo por que é que estão tirando o presidente do Senado", reagiu Renan, em meio a
batidas de mão na mesa. "Não
vão me tirar da Presidência do
Senado fazendo cara feia."
Renan se referiu ao Império
Romano em sua defesa. Disse
que "aquele que quiser ser Catão (...) vai ter que sujar as
mãos, vai ter que colocar uma
forca lá fora, ou uma fogueira,
e pegar o presidente do Senado, inocente, sem nenhuma
prova contra ele, e colocar para arder, para queimar". Ele se
referia a Catão, "o censor",
perseguidor daqueles que
considerava infratores.
Ainda em sua resposta a
Virgílio, Renan lembrou em
tom irônico o apoio que tinha
dos oposicionistas. "Os senhores terão em mim o presidente de sempre, aquele que
os senhores estavam cansados de elogiar." Também disse
que "é na adversidade que a
alma cresce", e afirmou que,
se "tiver culpa", a reconhecerá. Ele disse estar recebendo
apoio popular e voltou a repetir o discurso de que não sabe
do que está sendo acusado.
O presidente do Senado é
investigado por suspeita de
ter usado recursos de uma
empreiteira para pagar contas
pessoais.
Após a fala de Renan, PSDB
e DEM imediatamente declararam que vão "obstruir" as
sessões daqui em diante. "Ele
agiu de maneira inopinada e
intempestiva. Me sinto na
obrigação de não deixar que
ele passe por cima do Senado", disse Arthur Virgílio. "Estamos caminhando para mostrar que nessa Casa o que vale
é a palavra do plenário", afirmou o líder do DEM, José
Agripino (RN).
Após o final da sessão, Renan deu a entender que pode
não presidir a sessão de hoje
do Congresso para a votação
da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias). Deputados
ameaçam constrangê-lo na
sessão.
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