São Paulo, Domingo, 11 de Julho de 1999
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EUA têm mais micros que o resto do planeta

do Conselho Editorial

Os Estados Unidos têm mais computadores que o resto do mundo em conjunto.
Esse dado, por si só impressionante, induz a crer que a desigualdade apontada no relatório preparado pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) tende não só a se perpetuar como a se agravar.
Afinal, a economia contemporânea depende, basicamente, do conhecimento, o que implica estar conectado ao mundo, possibilidade aberta para poucos.
O relatório mostra que 91% dos usuários da Internet, a rede mundial de computadores, são dos 29 países da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), que representam só 19% da população mundial.
O gráfico de capa do relatório, aliás, é exatamente a torta dos conectados, poucos, sobre o total dos desconectados, a grande maioria.
Outro dado impressionante do relatório mostra a velocidade crescente com que as inovações tecnológicas se tornam domínio de uma massa de consumidores: o rádio precisou de 38 anos para atingir a marca de 50 milhões de usuários; a WWW (World Wide Web, a rede mundial da Internet) alcançou a mesma cifra em meros quatro anos.

Rapidez
A Internet é "o meio de comunicação de crescimento mais rápido jamais visto", diz o relatório, para lembrar que o número de usuários deve crescer dos atuais 150 milhões para 700 milhões em 2001.
A rede é, obviamente, um formidável instrumento potencial para o desenvolvimento, segundo o documento da ONU.
"As redes de comunicações podem alimentar grandes avanços na saúde e na educação. Podem, também, dar mais poder aos pequenos atores sociais. (...) As barreiras de tamanho, tempo e distância estão diminuindo para as pequenas empresas, os governos dos países pobres, acadêmicos e especialistas isolados", aponta o Pnud.

Desigualdade
O problema, também com a Internet, é a profunda desigualdade no acesso a ela.
O relatório dá este exemplo: um cidadão de Bangladesh, que ganhasse o salário médio do país, precisaria gastar o equivalente a oito anos de salário para comprar um computador, quando o norte-americano, também com salário médio do país, gastaria um mês de rendimento.
Outro obstáculo é o idioma: 80% dos endereços da Internet são em inglês, que "só é falado por uma pessoa em cada dez em todo o mundo", constata o relatório.
Consequência: a criação do que o relatório chama de "mundos paralelos".
Segundo o documento, "aqueles que têm renda, educação e, literalmente, ligações, têm acesso barato e instantâneo à informação. Ao restante, sobra o acesso incerto, lento e caro".
Deriva dessa constatação a proposta de um "imposto bit", que financiaria acesso menos incerto, mais rápido e mais barato à grande massa de desconectados do mundo contemporâneo.
(CLÓVIS ROSSI)


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