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CONGRESSO
Procuradores apontam Banco Central como obstáculo; instituição nega
Relator apóia pressão sobre BC para a quebra de sigilos
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA E
DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
Procuradores da República de
São Paulo e de Brasília obtiveram
ontem apoio do Senado para
pressionar o Banco Central a fornecer mais informações sobre as
quebras de sigilo relacionadas ao
desvio de R$ 169 milhões do prédio do TRT-SP.
O Banco Central foi apontado
como obstáculo às investigações
durante o depoimento do grupo
de procuradores à subcomissão
do Senado que cuida dos desdobramentos da CPI do Judiciário.
Ao prestar depoimento à subcomissão do Senado, os procuradores afirmaram que têm "veementes indícios" da prática de atos irregulares que teriam sido cometidos pelo ex-secretário-geral da
Presidência Eduardo Jorge Caldas
Pereira, mas que não têm provas
porque a investigação é muito recente -começou há um mês. Os
procuradores pediram ajuda aos
senadores para a investigação.
A garantia de que a subcomissão do Senado vai apoiar o Ministério Público na busca de mais informações sobre a quebra do sigilo bancário foi dada pelo relator,
José Jorge (PFL-PE). Um senador
poderá ser designado pela comissão para acompanhar o trabalho
do BC, disse o presidente da comissão, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Há poucos dias, o presidente do
BC, Armínio Fraga, em entrevista
coletiva, afirmou que a instituição
estava contribuindo com a investigação do Ministério Público e
atribuiu as queixas dos procuradores à "falta de escrúpulo político".
Coube à procuradora Isabel
Groba fazer um relato minucioso
sobre as dificuldades que o Ministério Público enfrenta no que se
refere à quebra de sigilo. Segundo
Isabel Groba, o Ministério Público espera há um ano e oito meses
por informações do BC.
Ela acusou repetidas vezes o
Banco Central de demorar muito
a cumprir determinações judiciais de quebra de sigilo e de enviar informações incompletas.
Chegou a dizer que não acredita
que algumas das informações sejam ""ilegíveis", como consta dos
documentos fornecidos pelo BC.
Inicialmente, o BC teria enviado
o rastreamento incompleto de oito pagamentos feitos à Incal (a
construtora do prédio superfaturado do TRT) em 92. Há cerca de
20 dias, segundo ela, mandou o
rastreamento também incompleto de mais 34 pagamentos.
Isabel Groba afirmou que a ordem judicial é clara ao afirmar
que o rastreamento deve identificar o beneficiário final dos recursos (quem recebe o dinheiro depois que ele transita por contas do
grupo Monteiro de Barros). É isso
que o BC não fornece, segundo
ela.
O líder do governo, José Roberto Arruda, apresentou requerimento para que dirigente do BC,
Paulo Sérgio Cavalheiro, deponha
na comissão. Segundo ele, o BC
cumpre integralmente as decisões
judiciais.
Ainda sem provas
O depoimento prosseguia até a
conclusão desta edição. A comissão estava ouvindo, desde as 15h,
três procuradoras de São Paulo
(Janice Ascari, Isabel Groba e Maria Luíza Duarte) e dois de Brasília
(Guilherme Schelb e Luiz Francisco de Souza).
Os procuradores não apresentaram novidades à comissão. Fizeram um detalhamento dos crimes identificados e das providências legais adotadas, além de relatar os indícios de outros crimes e
as dificuldades que encontram no
exercício da sua função constitucional -o de fiscalizar o cumprimento da lei e resguardar o patrimônio público.
O único dado novo apresentado
diz respeito à contratação sem licitação da empresa Montreal Informática pelo Ministério da Justiça, em janeiro de 99.
Os procuradores revelaram que
a Montreal subcontratou uma
empresa criada por ex-funcionários públicos que realizavam o
mesmo serviço para o governo,
acrescentando mais indícios de irregularidades ao caso.
Além dos casos BC e EJ, outro
ponto detalhado no depoimento
foi o procedimento dos subprocuradores-gerais da República
Delza Curvello e Washington Bolivar.
A procuradora Maria Luíza
Duarte relatou que eles possibilitaram a liberação de cerca de R$
10 milhões para a obra do TRT em
98 e lamentou que uma investigação iniciada contra os dois tenha
sido suspensa pela Justiça.
Ouvidos nos últimos dias pela
imprensa, os dois subprocuradores negam ter praticado qualquer
irregularidade.
O procurador Luiz Francisco,
que vem sendo acusado por pessoas ligadas ao governo de fazer
acusações sem provas, antecipou-se a possíveis represálias e fez uma
autocrítica dizendo que às vezes
fala demais, embora procure
sempre se calçar de provas.
Principal alvo dos senadores governistas, Luiz Francisco iniciou
sua apresentação com elogios ao
Senado e ao Congresso, mencionando as cassações do deputado
Hildebrando Paschoal (expulso
do PFL-AC) e do senador Luiz Estevão (PMDB-DF).
Outro lado
O Banco Central informou ontem, por meio de sua assessoria,
que sempre encaminhou dentro
dos prazo as informações solicitadas pelo Ministério Público e que
não haverá atraso na entrega dos
dados ""remanescentes". Essa foi a
resposta oficial do BC às queixas
que procuradores da República
manifestaram no Senado.
Na avaliação do governo, a culpa pelo atraso das informações
sobre a quebra do sigilo bancário
e o rastreamento do dinheiro desviado da obra do TRT-SP é dos
próprios procuradores: haveria
erros nos pedidos na forma do encaminhamento.
(WILSON SILVEIRA, ANDRÉA MICHAEL E LILIAN CHRISTOFOLETTI)
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