São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

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BASTIDORES

Coordenação política da campanha tucana desagrada a aliados e acelera defecções de lideranças regionais

Disputa interna corrói candidatura Serra

RAYMUNDO COSTA
RAQUEL ULHÔA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O desmanche de palanques estaduais de José Serra reflete, além de uma crise política, uma crise interna mal contida nos limites dos bastidores da campanha do candidato da coligação PSDB-PMDB à Presidência.
O núcleo mais próximo a Serra reconhece que a campanha começou errada. No meio político, são duas as queixas mais frequentes: a característica centralizadora de Serra e a falta de empenho do coordenador político, o deputado Pimenta da Veiga (PSDB-MG).
O diagnóstico é preciso. Os exemplos não são poucos. Um líder governista, por exemplo, por dois dias seguidos telefonou seis vezes para Pimenta. Ainda aguarda o retorno das ligações.
O PMDB se queixa do aproveitamento de Rita Camata (ES) na campanha. Ela era a única candidata a vice ausente no debate dos presidenciáveis realizado domingo passado na TV Bandeirantes. Ninguém a avisou.
Em tese, a iniciativa deveria ser do coordenador político. Mas nem o próprio Serra pode ser isentado dos atropelos da campanha. Veja-se o caso da apresentação do programa de governo.
Serra se comprometera a lançar o programa na quarta. Perfeccionista, queria mais uma vez conferir o texto. O adiamento do lançamento do documento chegou a ser anunciado. Aborreceu PMDB e PSDB. O núcleo mais próximo do candidato resolveu pressioná-lo. O documento saiu na data marcada, mas ninguém avisou os políticos. Àquela altura, eles já haviam gritado à imprensa. Outra crise criada de dentro para fora.
Um candidato do PMDB a um governo estadual queixa-se por nunca haver recebido um telefonema de Pimenta, quando ele, como chefe político da campanha, deveria ser o primeiro a levar otimismo para a candidatura.
Por "começo errado", conforme o diagnóstico do núcleo próximo a Serra, entenda-se a escalação da equipe de campanha. Pimenta, que era contrário à candidatura Serra, foi imposto pelo Planalto para a chefia.
Para ser o homem-forte do comitê foi chamado Milton Seligman, uma espécie de curinga do governo, tendo ocupado interinamente desde o Ministério da Justiça ao do Desenvolvimento.
O diagnóstico no grupo fiel a Serra não tardou: Pimenta demonstrava "desinteresse". Seligman, o coordenador-executivo, não decidia e demonstrava pulso fraco. A equipe de comunicação, importada do Rio, não conhecia os jornalistas de Brasília.
Logo a equipe que comandou a reeleição de Fernando Henrique Cardoso estava se sobrepondo ao grupo inicial. Surpreendentemente, a chegada de Nizan Guanaes foi bem absorvida pelo publicitário Nelson Biondi e pelo próprio Serra.
Mas Marcos Coimbra, do Vox Populi, encarregado das pesquisas, não engoliu a chegada do sociólogo Antônio Lavareda para fazer o mesmo trabalho. Foi parar com Ciro Gomes (PPS).
O próprio Lavareda, mais recentemente, revelou-se incomodado com os rumos da campanha. Além disso, era pressionado por Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Roseana Sarney (PFL-MA), seus antigos clientes, a trocar de canoa. Negociou e vai ficar.
Mas faltava um nome que fosse a tradução de Serra na campanha. O candidato foi buscá-lo no governo, onde era secretário de Comunicação: João Roberto Vieira da Costa. Novo problema: Seligman e Pimenta perceberam que perderiam poder e não engoliram. Seligman fez de tudo para que João Roberto fosse nomeado chefe da assessoria de imprensa. Para não ferir suscetibilidades, João Roberto foi para o comitê com o título de coordenador da área de comunicações.
Pimenta atribuiu a mudança a uma manobra do PMDB. Queria pular fora. Ficou. Segundo a Folha apurou, João Roberto disse a Pimenta que seu problema não era sair, mas entrar na campanha.



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