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ANTÔNIO CARLOS SPIS
Secretário da CUT defende união contra exclusão social
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA
Antônio Carlos Spis, 53, secretário nacional de Comunicação
da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e um dos responsáveis pela elaboração de um documento que irá oferecer à sociedade um diagnóstico da conjuntura
nacional na visão da recém-criada
CMS (Coordenação dos Movimentos Sociais), afirma que existe
uma disputa no governo Lula
"com setores de centro-direita,
não só no governo", que resistirão
às transformações sociais de que
o Brasil precisa.
Um dos objetivos da CMS é
pressionar o governo federal para
as reformas de base que julgam
necessárias no país. Spis é cauteloso ao criticar o atual governo,
mas admite que "Lula e sua base
aliada" priorizaram, na reforma
da Previdência, negociar com "setores que detêm as mais altas aposentadorias". A seguir os principais trechos de sua entrevista:
Agência Folha - Quais os pontos
básicos que unem os movimentos
sociais que integram a CMS?
Antônio Carlos Spis - Nosso eixo
central é o direito ao trabalho,
com distribuição de renda e contra o desemprego, sem abandonar
reivindicações como terra, moradia, educação e saúde. Ou seja, a
busca da ampla cidadania.
Estão na coordenação CUT,
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), CMP
(Central dos Movimentos Populares), UNE (União Nacional dos
Estudantes), MTST (Movimento
dos Trabalhadores Sem Teto),
CPT (Comissão Pastoral da Terra), OAB (Ordem dos Advogados
do Brasil), Consulta Popular e
União da Juventude Socialista.
Agência Folha - Onde a CMS quer
chegar, objetivamente?
Spis - Nosso objetivo principal é
construir a unidade de ação dos
movimentos sociais e, com isso,
combater a exclusão social e construir uma sociedade mais justa e
mais solidária.
Agência Folha - Por que buscar a
unidade?
Spis - Não é só a busca da unidade, mas encontrar consensos que
respeitem os princípios e a autonomia das diversas entidades da
sociedade civil que compõem a
CMS. O diferencial do governo
Lula é o apoio popular. Entendemos que a nossa responsabilidade
é continuar, cada qual no seu setor, mantendo sua base social mobilizada. Pessoalmente, entendo
que isso ajuda na consolidação
das políticas sociais.
Agência Folha - Essa necessidade
de mobilização social evidenciaria
uma disputa no governo Lula?
Spis - É notório que o governo
Lula é de disputa. Nós derrotamos o neoliberalismo com a eleição de um programa democrático
popular. Os setores de centro-direita, não só no governo federal,
mas também com seus representantes na Câmara e no Senado,
com certeza, resistirão às transformações sociais no país.
Agência Folha - Há setores que
afirmam que o governo Lula mantém o modelo seguido por FHC.
Spis - Quem faz afirmações como essa está equivocado. O governo Lula é muito diferente do
governo FHC. A relação e o respeito com o movimento social é
exemplo dessa diferenciação.
Agência Folha - O fato de atender
o Judiciário, em detrimento da reivindicações dos inativos, na reforma da Previdência, não demonstra
que Lula está suscetível às pressões dos grupos privilegiados?
Spis - É verdadeiro que o governo Lula e sua base aliada priorizaram negociações com setores que
detêm as mais altas aposentadorias. O relatório do deputado José
Pimentel (PT-CE) traz pontos positivos. Mas não concordamos
com o conjunto do relatório, e a
CUT pediu voto contra.
Agência Folha - Quais são esses
pontos positivos?
Spis - A manutenção do seguro
por acidente de trabalho público e
a possibilidade de inserção, através de projeto de lei, dos 40 milhões de brasileiros excluídos da
Previdência.
Agência Folha - O sr. acha que
existe um dilema, vivido por CUT e
outras entidades que apoiaram a
eleição de Lula, entre ser contra as
reformas e dar apoio ao governo?
Spis - A CUT não passa por esse
dilema. Nos orgulhamos muito
de termos nos engajado na eleição
de Lula. Mas temos consciência
que não somos governo. Apoiaremos o que está certo e criticaremos o que está errado.
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