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São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 2003

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ANTÔNIO CARLOS SPIS

Secretário da CUT defende união contra exclusão social

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

Antônio Carlos Spis, 53, secretário nacional de Comunicação da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e um dos responsáveis pela elaboração de um documento que irá oferecer à sociedade um diagnóstico da conjuntura nacional na visão da recém-criada CMS (Coordenação dos Movimentos Sociais), afirma que existe uma disputa no governo Lula "com setores de centro-direita, não só no governo", que resistirão às transformações sociais de que o Brasil precisa.
Um dos objetivos da CMS é pressionar o governo federal para as reformas de base que julgam necessárias no país. Spis é cauteloso ao criticar o atual governo, mas admite que "Lula e sua base aliada" priorizaram, na reforma da Previdência, negociar com "setores que detêm as mais altas aposentadorias". A seguir os principais trechos de sua entrevista:
 
Agência Folha - Quais os pontos básicos que unem os movimentos sociais que integram a CMS?
Antônio Carlos Spis -
Nosso eixo central é o direito ao trabalho, com distribuição de renda e contra o desemprego, sem abandonar reivindicações como terra, moradia, educação e saúde. Ou seja, a busca da ampla cidadania.
Estão na coordenação CUT, MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), CMP (Central dos Movimentos Populares), UNE (União Nacional dos Estudantes), MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), CPT (Comissão Pastoral da Terra), OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Consulta Popular e União da Juventude Socialista.

Agência Folha - Onde a CMS quer chegar, objetivamente?
Spis -
Nosso objetivo principal é construir a unidade de ação dos movimentos sociais e, com isso, combater a exclusão social e construir uma sociedade mais justa e mais solidária.

Agência Folha - Por que buscar a unidade?
Spis -
Não é só a busca da unidade, mas encontrar consensos que respeitem os princípios e a autonomia das diversas entidades da sociedade civil que compõem a CMS. O diferencial do governo Lula é o apoio popular. Entendemos que a nossa responsabilidade é continuar, cada qual no seu setor, mantendo sua base social mobilizada. Pessoalmente, entendo que isso ajuda na consolidação das políticas sociais.

Agência Folha - Essa necessidade de mobilização social evidenciaria uma disputa no governo Lula?
Spis -
É notório que o governo Lula é de disputa. Nós derrotamos o neoliberalismo com a eleição de um programa democrático popular. Os setores de centro-direita, não só no governo federal, mas também com seus representantes na Câmara e no Senado, com certeza, resistirão às transformações sociais no país.

Agência Folha - Há setores que afirmam que o governo Lula mantém o modelo seguido por FHC.
Spis -
Quem faz afirmações como essa está equivocado. O governo Lula é muito diferente do governo FHC. A relação e o respeito com o movimento social é exemplo dessa diferenciação.

Agência Folha - O fato de atender o Judiciário, em detrimento da reivindicações dos inativos, na reforma da Previdência, não demonstra que Lula está suscetível às pressões dos grupos privilegiados?
Spis -
É verdadeiro que o governo Lula e sua base aliada priorizaram negociações com setores que detêm as mais altas aposentadorias. O relatório do deputado José Pimentel (PT-CE) traz pontos positivos. Mas não concordamos com o conjunto do relatório, e a CUT pediu voto contra.

Agência Folha - Quais são esses pontos positivos?
Spis -
A manutenção do seguro por acidente de trabalho público e a possibilidade de inserção, através de projeto de lei, dos 40 milhões de brasileiros excluídos da Previdência.

Agência Folha - O sr. acha que existe um dilema, vivido por CUT e outras entidades que apoiaram a eleição de Lula, entre ser contra as reformas e dar apoio ao governo?
Spis -
A CUT não passa por esse dilema. Nos orgulhamos muito de termos nos engajado na eleição de Lula. Mas temos consciência que não somos governo. Apoiaremos o que está certo e criticaremos o que está errado.



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