São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 2005

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Valério diz que Azeredo sabia do empréstimo

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza afirmou na madrugada de ontem em depoimento na CPI do Mensalão, por duas vezes, que Eduardo Azeredo, presidente nacional do PSDB, sabia do empréstimo de R$ 8,35 milhões (valor original) que fizera em nome da DNA Propaganda para custear o "caixa dois" da campanha do tucano à reeleição ao governo de Minas.
Valério disse que, ao final daquela campanha, foi pessoalmente ao encontro de Azeredo lhe comunicar o empréstimo que sustentou o financiamento paralelo da campanha e da dívida contraída que precisava ser saldada.
Naquela eleição, o então governador de Minas perdeu a disputa para Itamar Franco (PMDB).
Azeredo continua negando que soubesse do empréstimo.
Atribuiu a feitura desse esquema paralelo, cujo dinheiro era repassado via SMPB Comunicação, agência de publicidade em que Valério também é sócio, ao então tesoureiro da sua campanha, Cláudio Mourão.
As afirmativas de Marcos Valério ocorreram após duas intervenções de tucanos na madrugada de ontem na CPI do Mensalão, quando o depoimento do publicitário mineiro já ultrapassava 12 horas de duração.
Os tucanos contestavam o envolvimento da campanha eleitoral de 1998 do PSDB naquela apuração.
O presidente do PSDB-MG, deputado federal Nárcio Rodrigues, foi esclarecer os R$ 4.000 que a SMPB doou para a campanha do governador Aécio Neves (PSDB), em 2004, conforme consta na prestação de contas entregue à Justiça Eleitoral.
Como essa doação foi citada na CPI, Nárcio foi esclarecer que a SMPB Comunicação comprou quatro ingressos para um jantar de arrecadação de fundos para campanha eleitoral, a R$ 1.000 cada um, mas que Marcos Valério não fora a esse evento, fato que o publicitário confirmou no mesmo instante.

Críticas
Depois, Nárcio fez várias críticas ao PT, à tentativa do partido de desviar o foco das investigações do "mensalão" e criticou os ex-ministros petistas José Dirceu e Luiz Gushiken quando citou os empréstimos que Valério fez ao PT a pedido do ex-tesoureiro petista Delúbio Soares.
Terminada sua fala, Valério disse: "Deputado, com todo o respeito, as suas últimas palavras eu endosso todas. Que o ministro José Dirceu sabia, que o Gushiken [sabia]... Mas não tenho provas, não vi, não conversei. Isso são intuições e conversas que eu tive com o sr. Delúbio. Agora, que o sr. Eduardo Azeredo não sabia, essa eu não endosso, não. Ele sabia, sim senhor".
À 1h55, após o também deputado tucano Júlio Redecker (RS) fazer uso da palavra e isentar Azeredo, Valério comentou: "Com todo o respeito, eu vou endossar suas palavras sobre a dignidade e a honradez do sr. Eduardo Azeredo, mas só que, no final do processo da campanha, eu pessoalmente conversei com o sr. Eduardo Azeredo sobre a dívida".
O publicitário, então, reafirmou que esse esquema paralelo começou quando, durante a campanha, o atual vice-governador de Minas Gerais e candidato a vice na chapa de Azeredo, Clésio Andrade, o procurou dizendo que o tesoureiro da campanha, Cláudio Mourão, iria procurá-lo.
Foi então que nasceu a idéia do empréstimo, e que o publicitário disse ter "tomado o cano".
No acordo com o Banco Rural que liqüidou a dívida que já estava em R$ 13,9 milhões, em abril de 2003, a DNA pagou R$ 2 milhões e o restante foi pago em serviços de publicidade para o banco, segundo Valério.
Mourão, por sua vez, foi à Justiça em novembro passado contra Azeredo e Clésio para pedir indenização de R$ 3,5 milhões.
No último dia 3, um dia após o presidente nacional do PSDB, Eduardo Azeredo, ter ido espontaneamente à CPI dos Correios expor sua versão, o ex-tesoureiro desistiu da ação que tramitava no ST (Supremo Tribunal Federal). (PAULO PEIXOTO, SÍLVIA FREIRE e JOSÉ MASCHIO)

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