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ARTIGO
O papel do Brasil de Lula no plebiscito da Venezuela
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA FOLHA
Especialista em Venezuela da
universidade londrinense de
Kingston, Júlia Buxton atribuiu
ao Brasil de Luiz Inácio Lula da
Silva um papel crucial nos acontecimentos que resultaram no plebiscito venezuelano e em seu desfecho, com o triunfo de Chávez.
A crise, afinal, esgotou-se, pelo
menos por enquanto, sem que se
confirmassem as previsões de
violência fora de controle e de intervenção americana em doses
inaceitáveis.
O governo brasileiro, segundo
Buxton, colheu frutos em dois
itens decisivos. Mostrou-se uma
força diplomática "real" ao longo
do conflito, ajudando a encaminhá-lo às urnas com a criação do
Grupo de Amigos da Venezuela.
Mais importante ainda, o Brasil
"contrabalançou" os Estados
Unidos e de certo modo levou a
melhor. O resultado fortalece não
só a Chávez, mas a América Latina como um todo, sobretudo em
suas relações com Washington. O
governo Bush teve presença subalterna no plebiscito, depois de
atuar como partidário entusiasta
do golpe frustrado contra Chávez
em 2002. Meteu-se num beco sem
saída na Venezuela, alertou o diretor para os países latino-americanos do Woodrow Center. Chávez ganhou, e a Casa Branca não
sabe o que fazer, já que é impensável despachar marines ou mesmo
decretar embargo.
Outra dos "ideólogos" de Bush,
agora envolvendo o terceiro
maior exportador de petróleo para americanos ávidos de energia.
Quais os possíveis desdobramentos? Lula tem encontro marcado
com Chávez no dia 15 na zona
fronteiriça amazônica. O embaixador brasileiro em Caracas, João
de Souza Gomes, esteve com o vice-presidente venezuelano, José
Vicente Rangel, tratando de agenda. "Será oportunidade muito importante para que ambos os presidentes estejam juntos mais uma
vez, revisem e aprofundem relações que já são excepcionais",
afirmou o embaixador a jornais
venezuelanos.
Também se trata de "identificar
novas áreas de cooperação". Na
Venezuela, fala-se numa "guerra
assimétrica" do petróleo, na qual
o poder petrolífero do país não
tem sabido impor-se aos interesses dos Estados Unidos. Mas,
combinando política e petróleo,
em ações conjuntas com outros
países, talvez se torne possível
uma ruptura com a "interdependência" nas relações com os Estados Unidos.
Olhos voltados, por exemplo,
para a China, onde o consumo de
petróleo aumenta em níveis (40%
em apenas sete meses) que dão
sustos nos americanos. A oposição venezuelana trata de chamar
atenção para tudo isso com a esperança de que Washington ainda decida não permitir que outra
"revolução" (a chavista) vingue
no continente e com ramificações
continentais.
Artigo escrito pelo embaixador
americano na OEA, John Maisto,
sugere o contrário e indica rumos
de acomodação. Cuba pode tornar-se peça de um primeiro movimento nesse novo xadrez. Pouco depois da posse de Bush o escolhido por ele para cuidar da
América Latina, o cubano-americano Otto Reich, visitou países latino-americanos com um recado
mais do que claro. O continuado
isolamento de Cuba é uma das
condições das quais o novo governo americano não abriria mão.
O governo brasileiro está empenhado em acabar com esse isolamento e tem o apoio entusiasmado do governo venezuelano.
Newton Carlos é jornalista e analista de
relações internacionais
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