São Paulo, domingo, 11 de setembro de 2005

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CASO MALUF

Objetivo de prisão de ex-prefeito é evitar interferência em investigação

Depois de Maluf se entregar, seu filho chega algemado à PF

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Flávio Maluf, filho do ex-prefeito Paulo Maluf (PP) foi preso ontem, às 8h30, na sede da Polícia Federal em São Paulo. Ao contrário do pai, que se entregou na madrugada de ontem, antes mesmo de receber oficialmente voz de prisão, Flávio chegou algemado e dentro de um carro policial, escoltado por três veículos, todos com as sirenes ligadas.
Pai e filho tiveram a prisão preventiva decretada na noite de anteontem pela juíza da 2ª Vara Federal de São Paulo, Sílvia Maria Rocha, que entendeu que, em liberdade, os Maluf poderiam atrapalhar o período de instrução penal, quando são ouvidas as testemunhas de acusação e de defesa.
Esse período de instrução é fixado em 81 dias, tempo máximo que pode durar a prisão preventiva.
Contra Paulo Maluf e Flávio foi aberto um processo penal por acusação de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, corrupção passiva e formação de quadrilha. A soma das penas mínimas desses crimes é de oito anos.
Se pai e filho não tivessem sido flagrados em escutas telefônicas tentando impedir o depoimento do doleiro Vivaldo Alves, conhecido como Birigüi, à Polícia Federal, provavelmente eles responderiam ao processo em liberdade.
Birigüi, que também é réu no processo criminal, acusado também pelos quatro crimes, confessou ter movimentado aproximadamente US$ 161 milhões do ex-prefeito no exterior, recebeu diversos telefonemas de Flávio.
Pelas conversas gravadas, a juíza federal entendeu que os Maluf tentaram convencer o doleiro a não depor na Polícia Federal.

A prisão
Maluf se entregou na sede da Polícia Federal à 0h20 de ontem. Visivelmente abatido, ele chegou ao lado de advogados e seguranças em um Santana preto. O ex-prefeito, que havia passado a semana em sua mansão de inverno em Campos do Jordão, não conversou com jornalistas. Ele entrou carregando uma bolsa de mão.
À 1h30, Maluf foi conduzido em carro policial ao IML (Instituto Médico Legal) para exame de corpo de delito. No prédio, ele cumprimentou funcionários e andou livremente. O ex-prefeito voltou à PF cerca de uma hora depois.
Às 4h30, o advogado criminalista José Roberto Leal chegou à sede da PF com colchão, travesseiro, cobertor, jogo de lençóis, toalha de banho e de rosto, pasta e escova de dentes e sabonete, além de pacotes de biscoito.
Paulo Maluf ficou em uma cela especial, de 12 metros quadrados, com três camas de alvenaria e uma mesa também de alvenaria. No chão há uma latrina e, sobre ela, um chuveiro. O local é vigiado por câmeras 24 horas e a porta tem trava elétrica.
Ontem de manhã, o assessor Roque Carneiro, que trabalha há 38 anos com Maluf, levou uma mala grande com roupas, produtos de higiene e livros.
Flávio, que chegou às 8h30 de ontem, foi conduzido em seguida para o IML, onde permaneceu cerca de uma hora. Ele e o pai, que têm nível escolar superior, vão permanecer juntos na cela.
Às 11h30, a família enviou para Flávio mala com roupas, colchão, travesseiro, lençóis e toalhas.

O choro
Escoltado por agentes da PF, Flávio chorou quando encontrou com o pai na ante-sala em que o ex-prefeito conversava com o advogado dele sobre possíveis recursos contra a prisão preventiva.
O filho narrou o momento em que policiais entraram em sua fazenda, em Dourado (278 km de SP), o vôo de helicóptero até São Paulo, em que ele foi o co-piloto, e a voz de prisão que recebeu após chegar ao heliporto do Morumbi. Disse que logo foi algemado.
Maluf deu um beijo em Flávio, a quem chamou de "meu amor". Disse depois que a prisão era injusta. "E todos sabem disso", afirmou o ex-prefeito em voz alta.


Colaborou MARCELO SALINAS, da Redação


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