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CASO MALUF
Família tentou manter, em 89, Paulo Maluf fora da Eucatex
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Em abril de 1989, um acordo de
acionistas, registrado em Bolsa,
estabeleceu que Paulo Maluf não
poderia presidir a Eucatex nem
indicar o administrador da companhia nos vinte anos seguintes.
O mundo dos negócios entendeu esse pacto como uma disputa
familiar pelo controle da empresa. O mundo político não viu no
acordo uma advertência: se parte
da família entendia que Maluf não
era o mais indicado para gerir os
negócios do próprio clã, como
imaginar que ele seria um bom
administrador da coisa pública?
O impedimento contratual não
embaraçou Maluf nas duas esferas. O veto familiar para gerir a
empresa não impediu que, em
1993, fosse eleito prefeito de São
Paulo, com a imagem de empreendedor. Pouco antes de deixar o cargo, no fim de 1996, conseguira assumir o controle da Eucatex, ao trocar ações por imóveis, e
colocar na presidência da empresa seu filho Flávio (Maluf viria a
ocupar uma sala na Eucatex, em
1997, quando era um dos alvos da
CPI dos Precatórios).
Vigorava, então, a idéia de que
uma cidade poderia ser administrada como uma empresa. Isso
ajudou Maluf a fazer o sucessor, o
desconhecido Celso Pitta, ex-diretor financeiro da Eucatex, hoje
envolvido nas denúncias de corrupção ao lado de Paulo e Flávio
Maluf -"Eu era o camarada que
iria cuidar do dinheiro da família
Maluf", disse o então candidato
Pitta à Folha, supervalorizando
sua biografia empresarial.
Atribui-se muito da sobrevivência política de Maluf à maquiagem emprestada por Duda Mendonça, ao "humanizá-lo", associando-o ao amor pela cidade de
São Paulo. O ex-prefeito tem uma
característica que prescinde da
mágica dos marqueteiros: a espantosa capacidade de apresentar-se, nos negócios e na política,
sempre como um vencedor, mesmo diante de grandes revezes.
Em 2003, quando a empresa recorreu à concordata, o comunicado oficial traduzia esse cacoete
voluntarista: "A Eucatex é e sempre será uma empresa vencedora". Naquele ano, detido pela polícia francesa para explicar a origem de depósitos no Crédit Agricole, Maluf, sorridente, disse que
o efeito do episódio em sua carreira política seria "positivo", pois
tudo seria explicado. Não foi.
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