São Paulo, domingo, 11 de setembro de 2005

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CASO MALUF

Família tentou manter, em 89, Paulo Maluf fora da Eucatex

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Em abril de 1989, um acordo de acionistas, registrado em Bolsa, estabeleceu que Paulo Maluf não poderia presidir a Eucatex nem indicar o administrador da companhia nos vinte anos seguintes.
O mundo dos negócios entendeu esse pacto como uma disputa familiar pelo controle da empresa. O mundo político não viu no acordo uma advertência: se parte da família entendia que Maluf não era o mais indicado para gerir os negócios do próprio clã, como imaginar que ele seria um bom administrador da coisa pública?
O impedimento contratual não embaraçou Maluf nas duas esferas. O veto familiar para gerir a empresa não impediu que, em 1993, fosse eleito prefeito de São Paulo, com a imagem de empreendedor. Pouco antes de deixar o cargo, no fim de 1996, conseguira assumir o controle da Eucatex, ao trocar ações por imóveis, e colocar na presidência da empresa seu filho Flávio (Maluf viria a ocupar uma sala na Eucatex, em 1997, quando era um dos alvos da CPI dos Precatórios).
Vigorava, então, a idéia de que uma cidade poderia ser administrada como uma empresa. Isso ajudou Maluf a fazer o sucessor, o desconhecido Celso Pitta, ex-diretor financeiro da Eucatex, hoje envolvido nas denúncias de corrupção ao lado de Paulo e Flávio Maluf -"Eu era o camarada que iria cuidar do dinheiro da família Maluf", disse o então candidato Pitta à Folha, supervalorizando sua biografia empresarial.
Atribui-se muito da sobrevivência política de Maluf à maquiagem emprestada por Duda Mendonça, ao "humanizá-lo", associando-o ao amor pela cidade de São Paulo. O ex-prefeito tem uma característica que prescinde da mágica dos marqueteiros: a espantosa capacidade de apresentar-se, nos negócios e na política, sempre como um vencedor, mesmo diante de grandes revezes.
Em 2003, quando a empresa recorreu à concordata, o comunicado oficial traduzia esse cacoete voluntarista: "A Eucatex é e sempre será uma empresa vencedora". Naquele ano, detido pela polícia francesa para explicar a origem de depósitos no Crédit Agricole, Maluf, sorridente, disse que o efeito do episódio em sua carreira política seria "positivo", pois tudo seria explicado. Não foi.


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