São Paulo, quinta-feira, 11 de setembro de 2008

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ELEIÇÕES 2008 / RIO DE JANEIRO

Tráfico e milícia cobram até R$ 30 mil de candidatos

Políticos que não pagam o "pedágio" são proibidos de entrar nas favelas para pedir votos

A partir de hoje, tropas do Exército e da Marinha vão ocupar 27 "currais eleitorais" identificados pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio


RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

Traficantes e milicianos estabeleceram tabelas de pedágio para candidatos às eleições de outubro fazerem campanha nas favelas que controlam. O preço varia de R$ 10 mil (para pequenas comunidades) a R$ 30 mil (locais de médio porte).
Sem pagar, os postulantes são proibidos de entrar nas localidades para pedir votos e pregar cartazes nas casas.
Segundo relatos à Folha de dois candidatos a vereador (que não se identificaram temendo represálias), a prática ocorre nas favelas de São Carlos (Estácio, centro), Turano e Borel (Tijuca, zona norte), Tuiuti (São Cristóvão, norte), Dendê (Ilha do Governador, norte) e Terreirão (Recreio, oeste), dominadas pelo tráfico; e Guaporé (Brás de Pina, norte) e Barbante (Campo Grande, oeste), dominadas por milícias.
A partir de hoje, tropas do Exército e da Marinha vão ocupar 27 comunidades identificadas pelo Tribunal Regional Eleitoral como "currais eleitorais". Das citadas acima, só a do Barbante está entre as que receberão o apoio militar. A presença dos soldados poderá permitir (por três dias) a circulação de candidatos nos locais.

Outros "serviços"
Segundo os candidatos, que disseram não ter pago o valor aos criminosos, o dinheiro é apenas um pedágio para o grupo que controla o lugar: qualquer outro "serviço" (como fixação de placas) é pago à parte.
Um candidato revelou que em uma das comunidades ele chegou a ir um dia para fazer campanha, mas desistiu após ouvir do líder comunitário que o tráfico exigira o "arrego" [propina] para permitir a sua entrada. Ele já tinha acertado até a cooperação dos moradores, mas desistiu ao ouvir que ele teria de pagar R$ 15 mil.
Outra exigência é que a mão-de-obra contratada para atuar na campanha, dentro e fora da favela, seja local. Portanto, é necessário pagar a trabalhadores da comunidade para fazer a propaganda, espalhar cartazes e acompanhar o candidato.
Em uma espécie de tabela informal, o mercado eleitoral do Rio estabelece o valor de R$ 100 por semana por colaborador. O mesmo valor é cobrado para fixar uma faixa ou placa na casa de alguém.
Motoristas também estão alugando até o vidro de trás dos carros para serem ocupados por adesivos perfurados com propaganda eleitoral, também ao custo de R$ 100.

"Gato placa"
Com carência de recursos, muitos candidatos ao cargo de vereador estão apelando para o que chamam de "gato placa".
Eles pagam de R$ 50 a R$ 70 para responsáveis por tomar conta de placas de candidatos a prefeito ou a vereador de campanhas mais ricas vigiarem também o seu painel.
Pela "tabela", os trabalhadores recebem em média R$ 100 por semana para cuidar das placas de candidatos. Com isso, o político economiza e não deixa a placa sem vigilância, o que é proibido e pode ser alvo de vandalismo.
A expressão "gato placa" surgiu da adaptação do termo "gato", furto de energia elétrica, e ganhou força com a proliferação de "gato net", furto de sinal de televisão a cabo.


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