São Paulo, Sábado, 11 de Setembro de 1999
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JUSTIÇA
Para delegado, houve ação do tráfico no assassinato de Leopoldino Amaral, que acusava o TJ de MT
PF associa morte de juiz a traficantes

ROBERTO SAMORA
da Agência Folha, em Cuiabá

JAIRO MARQUES
da Agência Folha

O superintendente regional interino da Polícia Federal em Mato Grosso, Jorge Luiz Bezerra, disse ontem que as investigações realizadas até agora pela Polícia Federal revelam que o juiz Leopoldino Marques do Amaral pode ter sido assassinado por narcotraficantes.
""Sem dúvida há ligação com o narcotráfico", disse. Bezerra, porém, não descarta a possibilidade do envolvimento no crime de pessoas não ligadas ao tráfico.
O superintendente afirmou que as investigações estão adiantadas. O ex-policial Maurício Marques Viveiro, preso anteontem, continua detido. A polícia acredita que ele pode estar envolvido no assassinato -o que ele nega.
Amaral havia acusado, em documento entregue à CPI do Judiciário, desembargadores do TJ (Tribunal de Justiça) de Mato Grosso de várias irregularidades, como contratações ilegais, ""venda" de sentenças para traficantes e nepotismo. Os desembargadores negam todas as acusações.
O corpo do juiz foi encontrado na manhã de terça-feira em Concepción, no Paraguai. Ele foi atingido por dois tiros um na nuca e outro no ouvido esquerdo. O corpo, encontrado em uma estrada de terra, estava parcialmente carbonizado e o rosto desfigurado.
A Polícia Federal passou a noite de anteontem e toda a manhã de ontem ouvindo o depoimento do ex-policial Viveiro, preso em Ponta Porã (MS), a 200 km de onde o corpo do juiz foi encontrado.
O motivo alegado para a prisão foi o de porte ilegal de armas -ele carregava uma pistola de fabricação tcheca.
Mas a polícia suspeita também que ele esteja envolvido no assassinato do juiz Amaral. Segundo a PF, ele é acusado de cinco homicídios e seria um ""pistoleiro". Viveiro nega.
O secretário da Segurança Pública de Mato Grosso, Hilário Mozer Neto, afirmou que a polícia já sabe o nome do homem que rondava o hotel Beira-Rio, na noite de sexta-feira, quando o juiz foi visto pela última vez.
Essa pessoa, cujo retrato falado foi divulgado anteontem, não foi identificada pela polícia.
O secretário da Segurança disse ontem que a Polícia Militar está dando proteção à mulher do juiz Amaral. Rosemar Monteiro voltou ontem da Suíça para participar do enterro ocorrido em Poconé, cidade natal do juiz.
Na saída do cortejo de Cuiabá para Poconé, as pessoas que estavam no local gritaram palavras de ordem contra o TJ.
Participaram ontem do enterro do juiz cerca de 1.500 pessoas, segundo a Prefeitura de Poconé.
O corpo foi levado ao cemitério São Francisco por volta das 14h. Vários grupos sociais professores, poetas, advogados que compareceram ao enterro levaram faixas e cartazes com dizeres pedindo apuração.
"Ainda estamos indignados e estarrecidos com tudo isso. Nossa luta agora é por justiça. Esta perda não poderá ficar impune", disse o prefeito de Poconé, Luiz Vicente Falcão.
O governador Dante de Oliveira (PSDB) esteve presente, assim como alguns secretários de Estado. Segundo a assessoria da Prefeitura de Poconé, nenhum representante do Tribunal de Justiça de Mato Grosso foi visto na cidade.
O ministro da Justiça, José Carlos Dias, disse ontem que a PF vai continuar a apuração do caso. "Estamos fazendo algo além das atribuições da PF", declarou Dias, para quem a polícia de Mato Grosso deveria apurar a morte do juiz Amaral.


Colaborou a Agência Folha


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