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CONTAS PÚBLICAS
Recursos obtidos com a Cide não seguem vinculação prevista em lei
Governo aplica só 4,7% do tributo sobre combustíveis
LUCIO VAZ
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo aplicou na infra-estrutura de transportes apenas
4,7% do total de R$ 5,6 bilhões de
recursos arrecadados com a Cide
(Contribuição de Intervenção no
Domínio Econômico) neste ano.
A maior parte desses recursos foi
usada para garantir o superávit
primário de 3,88% acertado com
o FMI (Fundo Monetário Internacional) para este ano.
A Cide se tornou conhecida no
último debate do primeiro turno
da eleição presidencial, quando o
candidato Anthony Garotinho
(PSB) fez uma pergunta sobre essa contribuição a Luiz Inácio Lula
da Silva (PT), com o objetivo de
demonstrar que o petista desconhecia o significado da sigla.
A emenda constitucional que
criou a Cide vinculou a aplicação
de seus recursos a investimentos
nas áreas de transporte e ambiente, além de custear subsídios.
A cada litro de gasolina comercializado, a Receita Federal arrecada uma parcela fixa de R$ 0,50
relativa à Cide. A arrecadação
deste ano está em R$ 10,1 bilhões.
Uma parte (R$ 0,22 por litro) é referente ao PIS e a Cofins embutidos na contribuição.
Do total arrecadado, R$ 5,6 bilhões poderiam ser usados nas
áreas de transporte e ambiente e
no pagamento de subsídios.
Dados do Siafi (sistema que registra os gastos da União) levantados pelo gabinete do deputado
Agnelo Queiroz (PC do B-DF)
mostram que só foram efetivamente gastos R$ 796 milhões do
total arrecadado.
A maior parte -R$ 399 milhões- foi usada para o pagamento de subsídios a preços ou
transporte de combustíveis. Outros R$ 13 milhões foram para
projetos ambientais. Também foram gastos recursos com propaganda do governo, cumprimento
de sentenças judiciais, assistência
médica e odontológica, auxílio-transporte e auxílio-alimentação
para servidores.
Restaram R$ 267 milhões para
programas de infra-estrutura de
transportes, como restauração e
construção de rodovias, implantação de metrôs, construção de
anéis rodoviários e pontes.
Obras
O Orçamento para este ano destina R$ 396 milhões para a restauração de rodovias e para a operação "tapa-buracos". Só R$ 20,3
milhões -5% total- foram gastos. O metrô do Rio, que tinha
previsão de R$ 33,5 milhões, não
recebeu um único centavo.
Para a adequação de trechos do
Corredor Nordeste foram liberados apenas R$ 227 mil dos R$ 201
milhões previstos -0,1% do total. O programa de eliminação de
pontos críticos tinha previsão de
R$ 116 milhões. Foram liberados
só R$ 6.926 -0,006% do total.
Os programas ambientais totalizavam R$ 256 milhões, mas as liberações ficaram em R$ 13 milhões. O programa Brasil Joga
Limpo, que tinha R$ 31 milhões
previstos, não recebeu recursos.
O pagamento de subsídios a
preços ou transporte de combustíveis tinha previsão orçamentária
de R$ 1,39 bilhão. Foram liberados R$ 399 milhões -28,5% do
total. Dos R$ 32,9 milhões previstos para a assistência médica dos
servidores, foram liberados R$
18,5 milhões -56% do total.
Apesar da vinculação prevista
em lei, o governo vem usando a
arrecadação da Cide para garantir
o superávit primário porque a legislação prevê que "durante o ano
de 2002 será avaliada a efetiva utilização dos recursos obtidos da
Cide e, a partir de 2003, os critérios e diretrizes serão previstos
em lei específica".
Esse dispositivo permite a utilização dos recursos em outras
áreas, mas não impede que o governo os aplique nos programas
previstos na própria legislação.
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