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TRANSIÇÃO NO ESCURO
Empresário atribui alta do dólar a especuladores e critica colegas que aderiram a Lula no segundo turno
Ermírio ataca "covardes" que mudam de lado
JOÃO CARLOS SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
O empresário Antônio Ermírio
de Moraes, do Grupo Votorantim, sem citar nenhum nome,
classificou ontem de covardes os
empresários que declararam
apoio ao presidenciável tucano,
José Serra, no primeiro turno e
passaram a apoiar Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno:
"Tem muita gente covarde que já
está pulando para o outro lado.
Mas isso é falta de caráter".
Ele não fez coro ao presidente
do Banco Central, Armínio Fraga,
que no dia anterior vinculou a
tensão do mercado à falta de clareza das propostas dos candidatos
à Presidência. Anteontem, Armínio disse que "existe hoje um clima de medo de que não se vai
prosseguir numa trajetória de responsabilidade fiscal e transparência". Segundo ele, "não é suficiente repetir um discurso ou divulgar
um comunicado" -referindo-se
indiretamente a Lula.
Segundo Ermírio de Moraes, a
subida do dólar para o patamar de
R$ 4 se deve principalmente aos
especuladores atentos ao endividamento do Brasil e de outros
países do Terceiro Mundo.
"A dívida do Terceiro Mundo já
vai a US$ 2,5 trilhões e cresce 8%
ao ano. Só se paga os juros e ninguém paga o principal. E eles [os
especuladores" estão sabendo disso", afirmou Ermírio depois de
deixar o apartamento do presidente Fernando Henrique Cardoso em São Paulo, com o qual conversou por cerca de uma hora.
Para o empresário, apenas "em
parte" se pode atribuir a subida
do dólar ao efeito da eleição presidencial: "Não é caso de Lula, não.
O mundo inteiro está apavorado,
e ponto final". Ermírio, que disse
ter ido ao apartamento do presidente para convidá-lo para uma
inauguração em uma fábrica da
Votorantim, disse que continua
apoiando José Serra à Presidência
e se colocou à disposição para
gravar novas participações no
programa eleitoral dele e no do
governador Geraldo Alckmin,
candidato do PSDB à reeleição.
Em relação a Serra, o empresário avaliou como "difícil" a chance dele vencer a disputa contra
Lula: "Acho que não é fácil. Mas
acho que... Eu vou votar no Serra.
Não vou virar a casaca, né?".
Ermírio declarou que, no caso
de uma eventual derrota de seu
candidato, ele terá de viver "com
governo ou sem governo": "Você
tem de viver por competência,
não por amizade ao governo".
Apesar disso, defendeu apoio ao
novo presidente, qualquer que seja o resultado, "em defesa da nação". "Nós todos temos de lutar
por esta nação. Não pode amanhã
fugir porque, naturalmente, você
está com A, B, C ou D na Presidência da República", declarou.
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