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RETRATO DO PAÍS
Apesar de cair desde 1996, rendimento médio do trabalhador ocupado em 2002 é superior ao de 1993; 1999 registra a menor taxa de emprego
Renda e desemprego crescem na era do Real
ANTÔNIO GOIS
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
A Pnad (Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios) de 2002,
divulgada pelo IBGE, mostra que
o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva recebeu de seu antecessor,
Fernando Henrique Cardoso, um
país em que o rendimento do trabalhador caiu pela quinta vez
consecutivo desde 1996 (em 2000
não houve Pnad), acumulando
12,3% de perdas.
Em 2002, o rendimento médio
do trabalhador ocupado foi de R$
636 -queda de 2,5% em relação a
2001. Há um aumento de 16,2%
em relação aos R$ 547 de 1993
-ano anterior ao Plano Real e da
última Pnad feita antes de FHC
assumir a Presidência. Não houve
Pnad em 1994.
O desemprego teve comportamento inverso: em 2002, caiu pela
terceira vez consecutiva (de 9,4%
em 2001 para 9,2% em 2002), mas
cresceu em relação aos 6,2% verificados em 1993. Durante a eleição
de 2002, o PT disse que o governo
FHC produziu 12 milhões de desempregados -cálculo que varia
segundo a metodologia.
Pelos números do IBGE, no
Brasil do último ano de FHC, 7,9
milhões de brasileiros estavam
desocupados e procurando emprego. Em 1993, esse número era
de 4,4 milhões, o que indica um
crescimento de 79,2% do total de
desempregados. O número de
brasileiros empregados cresceu
17,4% -de 66,6 milhões em 1993
para 78,8 milhões em 2002.
Esse crescimento, no entanto,
ocorreu num ritmo inferior ao da
população economicamente ativa, que passou de 71 milhões em
1993 para 86 milhões em 2002
-um aumento de 21,3%.
Rendimento
O Plano Real, lançado em 1994,
ano em que FHC foi eleito, é um
dos divisores de águas do período
que vai de 1992 a 2002.
Em 1992, o Brasil vivia um quadro recessivo, mas iniciou recuperação no ano seguinte. Em 1994,
com o controle da inflação, o rendimento médio subiu, chegando
ao auge em 1996: R$ 725.
O outro divisor é o fim dos efeitos do Real. Com as crises financeiras internacionais de 1997
(Ásia) e 1998 (Rússia), o Brasil teve de ajustar sua política econômica, e os rendimentos começaram a cair. Em 1999 veio a desvalorização da moeda e, em 2001, a
crise energética.
Para o economista João Saboia,
diretor do Instituto de Economia
da UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro), esses fatores,
somados, fizeram com que a economia crescesse pouco -à exceção de 2000, ano de bom desempenho econômico, entre a desvalorização de 1999 e a crise energética de 2001. "Isso se reflete sobre
o rendimento das pessoas."
Segundo o IBGE, o salário mínimo teve um ganho real de 16,9%
de 1993 a 2002. Em 2002, o ganho
foi de 1,4%. Na avaliação do instituto, isso ajudou a sustentar a melhora nas menores remunerações
e a atenuar as perdas.
Concentração diminui
A herança recebida por Lula inclui uma alta concentração de
renda, apesar de ter havido uma
redução do problema em relação
a 1993. Em 2002, o 1% mais rico da
população concentrava 13,5% do
total da renda, pouco menos que
o detido pelos 50% mais pobres,
14,6% do total da renda. Medida
pelo índice de Gini, a concentração de renda caiu gradativamente
desde 1993, quando estava em 0,6,
até chegar a 0,563 em 2002. O índice varia de zero a um. Quanto
mais próximo de zero, menor é a
concentração de renda.
Foi a primeira vez nos últimos
20 anos que o índice ficou abaixo
do verificado em 1981 (0,564). O
patamar atual, no entanto, ainda
coloca o país, segundo cálculo feito pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) em seu relatório de 2003,
como a sexta pior distribuição de
renda do mundo.
Se, na economia, o período foi
marcado por altos e baixos, na
área social a tendência de melhora
foi contínua. Em 1993, 11,4% das
crianças de 7 a 14 anos estavam fora da escola. Em 2002, a parcela
caiu para 3,1%. A Pnad é realizada
anualmente pelo IBGE. A partir
de uma amostra dos domicílios, o
instituto pesquisa temas como
migração, educação, trabalho,
rendimento, fecundidade, famílias e domicílios. Já estão sendo
coletados dados para a Pnad de
2003. A pesquisa não acontece
nos anos em que é feito o Censo.
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