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BRASIL PROFUNDO
Apoena Meireles foi abordado dentro de caixa eletrônico
Sertanista é assassinado com 2 tiros em Porto Velho
JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA
O sertanista e ex-presidente da
Funai (Fundação Nacional do Índio) José Apoena Soares de Meireles, 55, foi morto a tiros na noite
de anteontem quando saía de
uma agência bancária na região
central de Porto Velho (RO).
Apoena estava acompanhado
da funcionária da Funai Cleonice
Alves Mansur e recebeu dois tiros
durante uma tentativa de assalto
em um caixa eletrônico de uma
agência do Banco do Brasil.
"Até o momento, trabalhamos
com a hipótese de latrocínio [roubo seguido de morte]", disse o superintendente da Polícia Federal
em Rondônia, Joaquim Cláudio
Figueiredo Mesquita.
Em depoimento à polícia, Cleonice Alves Mansur informou que
um homem, aparentando entre 19
e 22 anos, rendeu o casal dentro
do caixa eletrônico. Ainda segundo a depoente, Apoena se negou a
entregar o dinheiro, deu um passo em direção ao assaltante e levou um tiro. Mesmo ferido, o sertanista conseguiu sair do banco e
foi alvejado mais uma vez pelo assaltante, que, segundo a polícia,
fugiu em uma bicicleta azul.
Para o diretor-geral da Polícia
Civil em Rondônia, Carlos Eduardo Ferreira, é "pouco provável"
que a morte do ex-presidente da
Funai tenha sido encomendada.
"Pelas evidências encontradas e
pelo testemunho da colega dele, é
muito provável que o crime tenha
sido um latrocínio." Gravações do
sistema de segurança da agência
bancária poderão ser requisitadas
pela polícia para possível identificação do criminoso.
Até o fechamento desta edição,
não havia ocorrido nenhuma prisão relacionada ao caso.
Apoena, que foi presidente da
Funai em 1985 e 1986, havia se
aposentado. Em 2003 voltou a trabalhar no órgão coordenando o
centro de documentação da entidade e acompanhando as questões indígenas do Nordeste.
Após a morte de 29 garimpeiros
da reserva Roosevelt, em Espigão
d'Oeste (RO), em 7 de abril, por
índios cintas-largas, o sertanista
foi designado para acompanhar a
situação entre os índios das aldeias de Rondônia. No final dos
anos 60, Apoena foi um dos primeiros brancos a ter contato com
os cintas-largas.
O sertanista estava em Rondônia havia 10 dias, para contatos
com os cintas-largas sobre o decreto assinado pelo governo federal que determina o fechamento
de garimpos em reservas indígenas, e estava hospedado em um
hotel no centro de Porto Velho.
Como sertanista, era a favor da
integração dos índios, que deviam
ser preparados para enfrentar nova realidade. "Querer isolar o índio é muito bonito, mas é pura
ilusão tentarmos garantir-lhes a
sobrevivência nestes termos", declarou certa vez.
O velório será hoje, a partir das
9h, na Funai em Brasília, e deve
contar com cerimônia de índios
xavantes e cintas-largas. O enterro, no Rio, será no Cemitério do
Caju. Apoena deixa três filhos.
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