São Paulo, terça-feira, 11 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CASO VAVÁ

Construtor afirma ter pago passagem para o irmão do presidente porque olha pelo social e que não recebeu nada por intermediação

Rede de amigos levou a Vavá, diz empresário

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma rede de amizades conectou a Federação Brasileira de Hospitais a Genival Inácio da Silva, conhecido como Vavá, irmão mais velho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É o que afirmam os envolvidos na agilização desse encontro -para depois lamentar o fato de a entidade hospitalar não ter conseguido o que queria, mais rapidez no pagamento de cerca de R$ 600 milhões que diz ter a receber do governo.
O empresário do ramo da construção civil Galeb Baufaker Júnior afirmou ter sido o responsável pela ida de Vavá a Brasília em setembro para interceder no Planalto em nome da federação. Ele disse que pagou as passagens de avião e levou Vavá para jantar.
"Passeou, andou, jantou, mostrei os lugares que freqüento", disse Baufaker Júnior. Segundo ele, o irmão do presidente ficou mais alguns dias em Brasília para relaxar após o insucesso do encontro com um dos assessores de Lula, César Alvarez.
Baufaker Júnior afirmou ter conhecido Vavá há cerca de um ano em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), quando ficaram amigos, e que nunca soube que o irmão do presidente teria um escritório para fazer contatos com o governo. Destacou ainda que nada recebeu para fazer a intermediação. "Eu sou um cara que olha muito pelo social", disse ao ser questionado sobre seus motivos para ajudar a federação. "Estão pegando o pobrezinho para Cristo", afirmou sobre Vavá.
A revista "Veja" revelou que Vavá abriu um escritório em São Bernardo, no início do ano, para intermediar demandas que empresários teriam em prefeituras petistas, empresas estatais e órgãos do governo federal.
Eduardo de Oliveira, presidente da federação, afirmou que um escritório contratado em Brasília para representar os interesses da federação conseguiu o contato com Vavá. Segundo ele, a federação não concorda com o parcelamento da dívida em dez anos, por causa da crise dos hospitais.
Um dos donos do escritório contratado pela federação, Sílvio de Assis, disse que conheceu Baufaker Júnior "em uma roda de amigos". Ao revelar o caso do cliente, o empresário do ramo da construção teria se oferecido para ajudar, revelando que era amigo de Vavá. "Não acreditei."
Segundo Assis, no entanto, Baufaker Júnior foi ao seu escritório dias depois para avisar a data de chegada de Vavá a Brasília. Ele afirma não ter pago nada ao empresário. Para ele, Baufaker Júnior o ajudou "para fazer média". "Não tenho nada a ver com isso, meu sobrenome não é Inácio da Silva", afirmou ainda Assis.
O secretário-executivo do Ministério da Saúde, José Agenor Alvares da Silva, disse que a pasta considera legítimo o pedido da federação, mas não concorda com o valor cobrado. O ministério moveu uma ação rescisória contra a federação para pagar R$ 400 milhões, e não R$ 600 milhões aos hospitais. O parcelamento em dez anos é previsto na Constituição, informou ainda Silva.

Representação
O PFL pretende entrar com representação hoje no Ministério Público contra Genival Inácio da Silva. O objetivo é que a instituição investigue suposto tráfico de influência praticado por ele.
O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), descartou, porém, a convocação do irmão de Lula por uma das CPIs.


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