São Paulo, sábado, 11 de outubro de 2008

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PF prende Valério e mais oito sob acusação de espionagem

Empresário é suspeito de integrar esquema que tentava intimidar fiscais da Fazenda

Operador do mensalão teria atuado para "fabricar" um inquérito contra fiscais; outras oito pessoas foram presas em esquema paralelo


Sidney Lopes/"Estado de Minas"
O empresário Marcos Valério é detido por policial federal durante a Operação Avalanche, em BH

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal e o Ministério Público Federal em São Paulo prenderam ontem o publicitário Marcos Valério de Souza, que ficou conhecido em 2005 como o principal operador do esquema do mensalão.
A prisão de Marcos Valério e de outras oito pessoas, entre policiais federais e advogados, foi resultado de uma investigação que começou no final do ano passado. Todos são investigados por forjar um inquérito para beneficiar uma empresa.
Marcos Valério foi preso em Minas Gerais, na casa dele, às 6h da manhã. Sem algemas, foi transferido para São Paulo.
A operação deflagrada na madrugada de ontem foi batizada de Avalanche porque, como em um efeito dominó, uma investigação levou a outras.
Num primeiro momento, a PF estava focada em um grupo acusado de extorquir dinheiro de empresários. Durante essa investigação, a polícia descobriu um segundo grupo, que praticava fraude fiscal no porto de Santos -dos dois núcleos, nove pessoas foram presas.
O nome de Marcos Valério só surgiu quando a PF, a partir de escutas telefônicas, chegou a um terceiro grupo, que, segundo diálogos gravados, tentava fabricar um inquérito contra fiscais paulistas para beneficiar o grupo Cervejaria Petrópolis.

Espionagem
Essa terceira investigação é considerada a mais delicada, pois envolve um número maior de investigados e o uso da máquina pública para intimidar Antônio Carlos de Moura Campos e Eduardo Fridman, fiscais da Fazenda paulista que, no começo de 2008, multaram em R$ 104,5 milhões a empresa Praiamar, do grupo Petrópolis, dona da marca Itaipava.
A Procuradoria diz que, inconformado com a penalidade e com a atitude irredutível dos fiscais, o presidente da Petrópolis, Walter Faria, recorreu a Marcos Valério, que é conselheiro da Praiamar, para que ele o ajudasse a anular a multa -em 2006, Faria foi alvo de uma investigação por fraude fiscal no comércio de cerveja.
Marcos Valério contratou dois advogados, Eloá Velloso e Ildeu Sobrinho, que, com a ajuda de três investigadores de polícia, levantaram informações pessoais sobre os fiscais.
Os dados foram repassados a dois policiais federais aposentados, Paulo Endo e Daniel Balde, que "encomendaram" um inquérito falso com dois delegados da PF de Santos, Silvio Salazar e Antonio da Hadano.
Em escutas telefônicas, a PF acompanhou o interesse dos investigados, que queriam que familiares dos fiscais fossem interrogados e que notícias desmoralizantes contra eles fossem divulgadas.
No relatório, a PF diz que, por R$ 10 mil, uma nota chegou a ser publicada no blog do jornalista Cláudio Humberto.
Num segundo momento, o grupo passou a discutir por telefone o pagamento pelos serviços prestados. Dias depois, em 13 de agosto, a PF apreendeu R$ 1 milhão em dinheiro que estavam com um dos advogados ligados à Petrópolis.
Com base nessas informações, a juíza federal substituta Paula Mantovani Avelino decretou a prisão temporária (de cinco dias, prorrogáveis por igual período) de nove pessoas, entre elas Marcos Valério, o sócio dele e a advogada Eloá. Determinou a prisão preventiva (30 dias) de oito investigados, sendo cinco policiais federais.
O pedido de prisão de Walter Faria e de um juiz aposentado, que teria ajudado o grupo, foi negado pela juíza, que ordenou 33 ordens de buscas em São Paulo, Minas e Espírito Santo.


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