São Paulo, domingo, 11 de novembro de 2001

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NO IMPÉRIO

Na abertura da assembléia geral, presidente criticou indiretamente EUA

FHC propõe "globalização solidária" ao falar na ONU

Sergio Lima/Folha Imagem
O presidente Fernando Henrique Cardoso discursa na ONU.


SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

O presidente Fernando Henrique Cardoso propôs a "globalização solidária" e criticou não-nominalmente os Estados Unidos em seu discurso de abertura da 56ª Assembléia Geral na Organização das Nações Unidas, ontem de manhã em Nova York.
"Nosso lema há de ser o da "globalização solidária", em contraposição à atual globalização assimétrica", disse o brasileiro. É a primeira vez que FHC fala na abertura da Assembléia desde que foi eleito para seu primeiro mandato. Desde 1949, um representante brasileiro, geralmente o chanceler, abre a reunião. A Assembléia foi instalada ontem pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan, com a presença de 43 chefes de Estado ou governo e 115 ministros de Relações Exteriores.
Uma crítica sutil aos EUA permeou diversos trechos do texto de FHC e causou um certo mal-estar na delegação norte-americana, uma vez que George W. Bush seria o presidente que sucederia imediatamente FHC no plenário.
"A Carta das Nações Unidas reconhece aos Estados membros o direito de agir em autodefesa. (...) Mas é importante termos consciência de que o êxito na luta contra o terrorismo não pode depender apenas da eficácia das ações de autodefesa ou do uso da força militar de cada país", disse.
Segundo ele, o Brasil espera que, "apesar das circunstâncias, não se vejam frustradas as ações de ajuda humanitária ao povo do Afeganistão". E oferece-se a abrigar refugiados do país, "dentro de nossas possibilidades".
Em outro momento, defendeu o Protocolo de Kyoto, iniciativa ambiental que visa reduzir emissões dos gases que causam o efeito estufa, abandonada polemicamente pelo governo Bush no começo do ano: "Ele não pode ser posto à margem", afirmou.
Nesse momento, Condoleezza Rice, conselheira de Segurança Nacional, e Colin Powell, secretário de Estado dos EUA, trocavam bilhetes e olhares entre si na bancada reservada ao país.
A declaração sobre globalização deu o tom de boa parte da fala de FHC, que em diversos pontos pediu uma nova ordem econômica: "Os ministros reunidos em Doha têm de fazer com que o novo ciclo de negociações multilaterais de comércio seja realmente uma "Rodada do Desenvolvimento'". Nesse sentido, exigiu a eliminação de práticas protecionistas e ameaçou com a quebrar patentes. "O Brasil buscará o equilíbrio entre a necessária preservação dos direitos de patente e o imperativo de atender aos mais pobres".
Como previsto, FHC reivindicou a participação do Brasil no Conselho de Segurança e a ampliação do número de países membros. Para ele, a instância "não pode continuar a refletir o arranjo entre os vencedores de um conflito ocorrido há mais de 50 anos". Disse que o mesmo deve ocorrer com o G7/G8. "Já não faz sentido circunscrever a um grupo tão restrito de países a discussão de temas que têm a ver com a globalização e que incidem forçosamente na vida política e econômica dos países emergentes."
Também pediu a criação de um Estado palestino: "O direito à autodeterminação do povo palestino e o respeito à existência de Israel como Estado soberano, livre e seguro são essenciais para que o Oriente Médio possa reconstruir futuro de paz".
"Só o fanatismo se recusa a ver a grandeza da missão das Nações Unidas e de Kofi Annan", disse. FHC respondia às últimas declarações do terrorista saudita Osama bin Laden, que qualificou Annan como "criminoso".
O presidente brasileiro fez inusitada relação entre os usuários de drogas, os paraísos fiscais e o terror. "Eles estão contribuindo para financiar o terrorismo", disse.


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